sexta-feira, 22 de maio de 2020

Envelhecer no tempo - CARLOTA MARQUES CANHA e JOÃO DORDIO


LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
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Pergunto-me diversas vezes
como será envelhecer
no tempo, em qualidade,
em dignidade
sentir as mãos enrugadas
sem força e firmeza,
sentir os longos fios de
cabelo branco a cobrirem a
tez pálida e cansada
sentir os sinais do tempo
de ser ancião,
expressar a séria teimosia
de ser idoso e de tudo saber,
sentir que os joelhos gritam
com falta de firmeza,
querendo caminhar,
mas sem a certeza de nada.
Pergunto-me diversas vezes
como são as emoções que sinto e que
já senti enquanto jovem,
sentimentos intensos
e voluptuosos que mantinham a
minha alma acesa.

Pergunto várias vezes
como consegui envelhecer sem ti...
Chego rapidamente à conclusão
de que nascemos os dois novamente
sempre que escrevo
as recordações do que sempre fomos
e ainda somos e seremos...
Os cabelos brancos terão sempre cor
e os nossos dedos a passarem por eles.
As mãos enrugadas
são caminhos com histórias
e se as pernas hoje tremem
é ainda com o pensamento
do prazer que tínhamos
quando os dias eram passados
em plena paixão e fusão dos corpos...
A minha alma permanece acesa
porque estou sempre a renascer
em cada poema que ainda te escrevo,
meu amor...

Pergunto várias vezes
como consegui envelhecer sem ti...
pensar que te perderia no tempo em que
a memória já foge-me tantas vezes,
receio de já não conseguir reconhecer-te,
a visão ficar turva e tremule de já não te ver
com a mesma lucidez que a memória me guarda,
já não conseguir tocar-te como sempre, ter-te como
meu e só meu amor...
Pergunto várias vezes como ainda manténs
a minha alma acesa nessa solidão de penúria que
a perda da memória começa a confinar-me, mas mesmo
sem a mesma visão, o mesmo tato, a mesma audição,
se partir hoje, sei que partirei contigo num doce abraço contido
no meu coração de que a nossa história sempre perdurará.

Pergunto-me várias vezes como fui tanta coisa sem ti,
tantos lugares com tantas pessoas e tantas histórias.
Provavelmente fui sem sair daqui querendo estar onde não estava
e querendo ficar onde já existia... Pergunto-me e respondo-me...
Entre o olhar vazio do tudo e o abraço tantos mundos cheios
de nada...

EM - DUETOS DORDIANOS - COLECTÂNEA - IN-FINITA

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