quinta-feira, 12 de março de 2020

O Homem como um rio - MOZART LOPES DE SIQUEIRA

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O humano como um rio no seu leito:
Encaixotado.
O humano como um fruto em sua casca:
Empacotado.

O humano empacotado em seu corpo,
Nos seus dias, nos seus anos.
O humano como um rio no seu rumo
Sempre o mesmo. Em seu aquário

O humano com a fruta em sua casca
Sempre a mesma.

O humano e seu consumo:
O pão incerto, a casa incerta,
A vida incerta.

A vida sem janelas sempre a mesma:
Emparedada.
O Homem em meio a praça, à multidão:
Emparedado.
Na escola, no clube, na oficina
Como um peixe em seu aquário:
Emparedado.
A vida incerta
O humano com seu pasto
Duro pasto:

A pastagem dos dias mal vividos,
A pastagem das noites mal dormidas,
A pastagem da fome.
O Humano encaixotado no seu corpo,
Nos seus dias, no seu sal.
O sal humano, a inconsistência humana.

O Humano emparedado pelas noites
Pelos dias.Emparedado
Em sua mágoa. No trabalho
Na rua: emparedado.
Na multidão perdido:
Um simples número,
Um simples número encaixotado
Na moldura dos dias
E das noites.
Um simples corpo resumido
Em sua brevidade
Humana e pobre.

Um simples rosto na vidraça
Dos ônibus. Um número perdido
No vai e vem das ruas,
O humano emparedado numa noite
Sem clarões de madrugada.
Lá onde apenas se entremostram
As paisagens sedutoras das tardes domingueiras
Vestidas de amarelo
E as árvores vestidas de amarelo,
De um amarelo claro e vivo como um sol,
Lá onde se entremostra a pura paz,
a paz sonora e cor de rosa
e leve e tênue como um sonho

*Mozart Lopes de Siqueira - Filho do Poeta e Médico Alcides Lopes
de Siqueira e Esther.Mozart Lopes de Siqueira, é de Sertânia-PE, foi
advogado, jornalista, poeta e dramaturgo, tendo escrito e publicado
livros de poesia, teatro e teoria sobre direito e filosofia.

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