sábado, 29 de dezembro de 2018

Despedida visceral - CLAUDETE ROSENO DE CASTRO

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Pensar em você me remete às minhas filhas, pois, quando mais precisei, você as manteve seguras. Desculpe-me se nunca te agradeci o poder que me ajudaste a experimentar: o de gerar uma vida. Foram tempos truculentos. E quando eu as ninava em minha barriga para lhes transmitir um pouco de calma, confesso que não dialoguei com você como o bom abrigo que você foi. E ainda assim, diante do meu choro e da minha solidão taquicárdica, você silenciosamente cumpria sua função mais nobre sem nunca me ameaçar. Talvez por isto queiras partir...

Eu devia ter ao menos agradecido a Deus por te ter. Em vez disso, te imputei uma parte da culpa que eu sentia, por sua vitalidade.
Hoje, nossa relação é de dor e sangria.
E agora, essas "presenças" não bem-vindas... Nunca saberemos se são fruto de meus pensamentos e sentimentos que eu não consegui cuidar. Assim, sorrateiras, elas te atingiram. Então, nossa relação chegou ao seu limite.
Porém, gratidão é o que devemos emanar nesta ruptura. Você se sacrificará, para me deixar viver melhor e eu buscarei manter em mim, o melhor de você nos meus gritos de mãe-loba. Você será a fonte geradora, inspiradora e transformadora que me moveu e me moverá para sempre!
Adeus, meu querido útero.


EM - ECOS DO NORDESTE - ANTOLOGIA - IN-FINITA

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