segunda-feira, 21 de março de 2016

Sacrilégio - ANTÓNIO GEDEÃO

Fomos os dois à terra preciosa
tão celebrada e nunca bem descrita
onde Flora se veste caprichosa
e Bernardim cantou sua desdita.

Enquanto Amor na ameia pedregosa
de lado põe as setas e dormita,
a sua branda fala, caudalosa,
em espanto e comoção se precipita.

Ouvindo elogiar Amor acorda.
Quer ver também. E à denegrida borda
ligeiro trepa sem que alguém o note.

Olha, sorri-se com supremo enfado
e vai pôr-se a espreitar, todo enlevado,
pelo teu pequeno, triangular decote.

EM - OBRA COMPLETA - ANTÓNIO GEDEÃO - RELÓGIO D'ÁGUA

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