terça-feira, 2 de abril de 2013

Clamor - AL BERTO

tudo vem ao chamamento
noite após noite o que dissemos e
o que nunca diremos - a viagem
com uma giesta de algodão presa nos cabelos e
a sensação fresca de um sulco de aves na pele

tudo vem ao chamamento - os lobos
os anões as fadas as putas as bichas e
a redenção dos maus momentos - enquanto te barbeias

vês no espelho o homem
cuja solidão atravessou quase cinco décadas e
está agora ali a olhar-te - queixando-se da tosse
da dor de dentes e do golpe que a lâmina fez
num deslize perto da asa do nariz

não sei quem é - sei porém que vai afogar-se
naquela superfície clara quando dela se afastar e
abrir a porta para sair de casa murmurando: tudo
vem ao chamamento
por dentro do clamor da noite

EM - HORTO DO SILÊNCIO - AL BERTO - ASSÍRIO & ALVIM

1 comentário:

  1. Mais parece uma situação existencial, vivencial que uma simples poesia.
    Que dizer? Ir ao encontro das causas, directamente, sem tal atitude avolumar~se- ão os sintomas.
    Não sei se é um gesto atrevido, da minha parte. Que me desculpem!
    Grata.

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