quinta-feira, 31 de maio de 2012

Pulsação - CLÁUDIO CORDEIRO


Sinto-me a perder a pulsação.
A palavra é uma promessa
de esperança.
Nela o futuro pode ser
uma língua pura.

O fogo que chamei
provocou uma resposta imediata.

É mortal a origem das vozes
que se dirigem ao abismo da língua.
Tenho medo de perder o sono.
Fico quieto no meu mais profundo
universo...

É livre a voz dos sonhos
que chamam por mim.
Num corpo que desperta
liberta-se o espírito
de um sangue ofendido.

EM - UM TUDO NADA ÁGUA - CLÁUDIO CORDEIRO - LUA DE MARFIM

quarta-feira, 30 de maio de 2012

À maneira de Benamor Lhopes - ALEXANDRE O'NEILL


A vida não é de abrolhos.
É de abr'olhos.

A vida não é de escolhos.
É de escolhas.

Por que me olhas e m'olhas?
Por que me forras a alma
com o relento de um sentimento?

Serei eu a tua escolha?

Abre os olhos e olha,
que eu já me escolhi em ti!

EM - POESIAS COMPLETAS - ALEXANDRE O'NEILL - ASSÍRIO & ALVIM

terça-feira, 29 de maio de 2012

O meu mundo - EMANUEL LOMELINO


O meu mundo desmorona-se peça por peça
para além de mim, não há quem o impeça
eu não tenho vontade nenhuma de impedir
se tudo em volta ruir, ficam os escombros
aproveito e sacudo todo o peso dos ombros
não sobrará um grão de poeira por sacudir

Meu mundo desmorona-se neste momento
sinceramente eu digo que não o lamento
pouco do que tenho me poderá fazer falta
apenas quero guardar os livros de poesia
somente eles me deram motivos de alegria
e com eles quero poder regressar à ribalta

Meu mundo desmorona-se a cada instante
não tenho pena, não era nada de relevante
apenas uma vida que caminhava no vazio
vou começar tudo de novo, tudo do zero
ser egoísta e refazer as coisas como quero
reconstruindo de acordo com o meu feitio

EM - AMADOR DO VERSO - EMANUEL LOMELINO - TEMAS ORIGINAIS

segunda-feira, 28 de maio de 2012

O jogador do pião - RUY BELO


Faz rodar o pião redondo tudo em volta
Atira a primavera e recupera o verão
Terras e tempos - tudo assume esse pião
que rodopia e rouba o chão à folha solta

Rasga o espaço num gesto ríspido de vida
Reergue o braço a prumo, arrisca - nessa roda
possível de maçã ao muro - a infância toda
Tudo é redondo e torna ao ponto de partida

O sol a sombra a cal os pássaros os pés
o adro a pedra o frio os plátanos... Quem és?
Voltas? rodas? regressas? rodopias? - Nada

Mão do breve pião, levanta ao céu a enxada:
que a vida arrebatada aos demais olhos seja
ao comprido coberta pelo chão da igreja

E Abril traz o Senhor e até esse esquece
o operário inútil imolado à messe

EM - TODOS OS POEMAS VOL. I - RUY BELO - ASSÍRIO & ALVIM

domingo, 27 de maio de 2012

Queda - CAMILO PESSANHA

    
O meu coração desce,
um balão apagado.

          Melhor fôra que ardesse
     nas trevas incendiado.

     Na bruma fastidienta...
como á cova um caixão.

          Porque antes não rebenta
     rubro, n'uma explosão?

     Que apego inda o sustem?
atono, miserando.

          Que o esmagasse o trem
     de um comboio arquejando.

     O inane, vil despojo.
Ó alma egoísta e fraca...

          Trouxesse-o o mar de rojo.
     Levasse-o na ressaca.

EM - CLEPSYDRA - CAMILO PESSANHA - RELÓGIO D'ÁGUA

sábado, 26 de maio de 2012

Fiz uma pausa - JOSÉ LUÍS OUTONO


Com os teus amantes cabelos
acariciei-me de cores provocantes
em salpicos de olhares cascata
nos cristais de um mar corpo
em desejo fluorescente edénico
fiz uma pausa...
Molhei-te tela quente bálsamo solto
pintei um céu denso e cúmplice
no grosso acetinado dos teus lábios
até ao grito da languidez vermelha
e rubriquei-te com a minha semente.

EM - MAR DE SENTIDOS - JOSÉ LUÍS OUTONO - EDIÇÕES VIEIRA DA SILVA

sexta-feira, 25 de maio de 2012

A chuva - DANIEL FRANCOY


A chuva distorce o claro e o escuro,
e quase apaga os rostos
do homem e da mulher que estão parados
na esquina, sob a marquise.

Talvez seja melhor assim;
pensar que os rostos ainda existem
porque a esquina ainda existe
e porque chove como antes.
Talvez seja melhor esquecer
que os rostos se desmancharam
como se fossem feitos de cera
ou de qualquer outra matéria pálida.

EM - EM CIDADE ESTRANHA - DANIEL FRANCOY - ARTEFACTO

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Profícuo - VERA SOUSA SILVA


Sinto-te parte de mim,
dono da minha alma
que se despe
e entrega a ti
num murmúrio suave.
As palavras soltam-se
indecifráveis,
frágeis,
a medo...

Je t'aime mon ange!

És parte de mim,
do meu corpo.
Mesmo na distância
tens-me e sou tua.
Na tua ausência
os dias sorriem-me
mesmo sem saberem.

Parce que je t'aime
je te embrasse
avec l'âme!

EM - AMAR-TE EM SILÊNCIO - VERA SOUSA SILVA - EDIUM EDITORES

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Contra a árdua corrente* - ANTÓNIO GIL


Contra a árdua corrente
do tempo que me recobre
água cristalina sobe
em busca de sua nascente

o fluir é este instante
em movimento contrário
partindo de largo estuário
desaguando a montante

memória: secreto labor
lugar de perpétua esgrima
alquímica matéria-prima
convertida em luz d'alvor

EM - OBRA AO RUBRO - ANTÓNIO GIL- LUA DE MARFIM

* Os poemas deste livro não têm título. Usei o primeiro verso como título por questões logísticas.

terça-feira, 22 de maio de 2012

Palco - MIGUEL BEIRÃO


Somos actores por acaso,
neste palco improvisado,
entre o assobio e o aplauso,
neste nosso triste fado!

Palco de tantas histórias,
cheias de tristeza e alegria,
onde se tatuam memórias,
do nosso dia-a-dia!

Palco, onde pouco se vive,
onde constantemente se corre,
palco onde se sobrevive,
Até ao dia que se morre!

Este palco é um engano,
para quem tanto representou
a qualquer hora cai o pano,
adeus, o show terminou!

EM - BALADA DA LIBERDADE - MIGUEL BEIRÃO - ED. AUTOR

segunda-feira, 21 de maio de 2012

As ruas desertas - PAULO TAVARES


As ruas desertas, sujas,
e ainda o calor da agitação nocturna
quando a manhã se expande
como néones pelas sarjetas.
As mesmas ruas onde,
pouco antes, nasceram filosofias,
teorias e tratados sobre o amor,
sobre a arte, sobre alguns
géneros de solidão.

No retorno em declínio,
sobram os dejectos, o calor esbatido
pela manhã e um pensamento
no limite da ressaca:
é preciso andar nestas ruas desertas
depois de toda a ocupação.

EM - MINIMAL EXISTENCIAL - PAULO TAVARES - ARTEFACTO

domingo, 20 de maio de 2012

Náufrago - SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN


Agora morto oscilas
ao sabor das correntes
Com medusas em vez de pupilas.

Agora reinas entre imagens puras
em países transparentes e de vidro,
sem coração e sem memória
em todas as presenças diluído.

Agora liberto moras
na pausa branca dos poemas.
Teu corpo sobe e cai em cada vaga,
sem nome e sem destino
na limpidez da água.

EM - MAR - SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN - CAMINHO

sábado, 19 de maio de 2012

Canção das prostitutas de Lisboa - JOAQUIM PESSOA


Eu vi as raparigas do meu povo
que o meu povo fez tão magoadas.
Com os seios inchados de ternura
e doces olhos, doces como amêndoas.

Eu vi as raparigas magoadas
ilegítimas filhas do meu povo.
Nas esquinas eu vi a madrugada
com um cravo de amargura nos cabelos.

Eu vi as raparigas do meu povo
por entre o meu povo magoado.
Aqui. Em Lisboa. Sobre a mágoa.
Aonde o amor acaba e o mal começa.

EM - 125 POEMAS - ANTOLOGIA POÉTICA - JOAQUIM PESSOA - LITEXA

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Escuridão - MARIA PAULA RAPOSO


Entrei e fechei a porta.

Se tocarem,
Não atendo.
Não entra ninguém.
Chega de querer
Impossíveis
De percorrer
Imensos corredores
De um lado ao outro
E gastar o soalho
Com o meu peso...
Basta de escuridão,
Agora mereço
Um pouco de luz!

EM -.NEVOU ESTE VERÃO - MARIA PAULA RAPOSO - APENAS LIVROS

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Mãos imunes - EMÍLIO LIMA


com espírito iluminaremos a escuridão
dos que fracassaram ao esquivar da solidão
a realidade pura, nua e crua...
picotada nas nuvens carregadas e poluídas
das idas e voltas
a lua

essa vossa incessante luta em aniquilar
desenfreadamente no espaço tudo
que já sugaram em terra

com veemência vomitamos nos panfletos
as injúrias atás das injúrias com ecos remotos
Pois contaminem a perfeição da natureza
com o chapinhar das vossas mãos imunes

EM - NOTAS TORTAS NAS FOLHAS SOLTAS - EMÍLIO LIMA - TEMAS ORIGINAIS

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Epístola para o Sol - FIAMA HASSE PAIS BRANDÃO


Houve uma criança em mim que amava o teu corpo
e nele se escondia para estar só e ausente.
E sabia então que a tua luz crua e firme
calava a ira e ofuscava a discórdia
que viviam outrora no interior dos quartos.
Hoje, assim contigo, face a face, fecho as pálpebras
e apenas com o tacto te sinto e reconheço.

EM - CEM POEMAS PORTUGUESES NO FEMININO - ANTOLOGIA - TERRAMAR

terça-feira, 15 de maio de 2012

Amor - TELMA ESTEVÃO


Enquanto eu falo
O silêncio escuta-me
Esteja ele a onde estiver,
Esteja no crepúsculo
Ou na madrugada.

Quando eu me sinto
Na tua pele a deslizar
Também ele se arrepia.

Fico em desassossego
Toda a noite e todo o dia,
Perco-me para mais tarde
Voltar a encontrar-me.

Nesta paixão tão intensa
Amo-te de verdade
Jamais uma borracha,
Estas palavras podem apagar.

É ele o meu maior vício,
O veneno mais poderoso,
É ele o meu melhor pesadelo!

EM - PALAVRAS - TELMA ESTEVÃO - LUA DE MARFIM

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Os olivais - RICARDO BRAGANÇA SILVEIRA


Querida Vila Do Forte Da Casa
Terra dos teus Olivais
Da janela da minha casa
Vejo os teus bonitos trigais

Os camponeses que trabalharam
Para a azeitona levar ao lagar
Sempre muito suaram
Para o Sol à capital levar

Pela nossa estrada real
Estendia-se o nosso Olival
Nas terras de nosso Portugal
Pela vida como o Sal

Forte da Casa, por ti sou orgulhoso
És puro como o brilho do cristal
O teu azeite sempre tão saboroso
O melhor de Portugal

EM - ACORDAR VIVO - RICARDO BRAGANÇA SILVEIRA - TEMAS ORIGINAIS

domingo, 13 de maio de 2012

Sete pedras raras - PAULO CÉSAR


Tenho sete pedras raras
num bolso cheio de nada,
todas belas, todas caras...
tendo sete pedras raras
não me furto à caminhada!

Cada pedra tem seu toque,
cada uma tem seu som
e ao tocá-las sinto um choque...
pois se cada uma tem seu toque
belo é o mundo! Belo e bom...

Sete pedras ou pedrinhas
sete e sete, quantas são?
Sete escravas ou rainhas...
todas as sete são minhas
e adornam-me o coração!

EM - NO CHÃO D'ÀGUA - PAULO CÉSAR - LUA DE MARFIM

sábado, 12 de maio de 2012

Senhores d'antanho - GABRIELA PAIS



Damas d'antanho
Que tanto Flabelavam,
Seriam as saias daquele tamanho
Fautoras do cheiro que exalavam?

Pobres como sofriam
E as infelizes crianças também,
Quando ao banho iam,
Ufa... água da terra de ninguém.

Também os homens, coitados,
Não cheirariam nada bem,
Naquelas roupas encafuados,
Mas tinham mais sorte ora bem.

No banho eram os primeiros,
Ora vejam esta realeza,
Nestes dons eram pioneiros,
No amor seria... a incerteza.

EM - O LUGAR DAS PALAVRAS - GABRIELA PAIS - TEMAS ORIGINAIS

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Luar de vida - MARIA JOÃO DE CARVALHO MARTINS


No mais recôndito lugar da alma
adormece a noite, tão cansada
de ventos soprados à toa
na proa de um corpo que é vaga.

Vaga de um rio ou de um mar
nascente solitária e errante
que a lua desnuda, brilhante
amando-a assim, devagar.

Esculpido o sonho sereno
em seixos e beijos e margens,
inventa a noite, as viagens
na íris parda, momento
em que o olhar e o sofrimento,
transformam a vida em luar.

EM - DO OUTRO LADO DO ESPELHO - MARIA JOÃO DE CARVALHO MARTINS - LUA DE MARFIM

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Nevoeiro - NUNO DE FREITAS


Olho lá para fora e vejo este nevoeiro
que envolve tudo na sua grandeza,
esconde o caminho como matreiro,
afogando-nos assim em incerteza...

Foi ele, foi mesmo este desvairado,
que me roubou as minhas palavras,
que me largou aqui abandonado,
deixando as minhas letras abafadas...

Já nem consigo escrever
tal está a ser a clausura.
Só queria ver o sol crescer
para afugentar a amargura...

Mas nem o dia me quer ajudar,
nem o sol me consegue brindar.
E eu continuo aqui a desesperar,
a ver o nevoeiro sempre a avançar...

Corro então para onde o sol brilhar,
na esperança de conseguir encontrar
as letras que agora me estão a escapar,
na esperança de o nevoeiro afugentar.

EM - ENTRE SUSPIROS - NUNO DE FREITAS - ESFERA DO CAOS

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Silencio-te - PAULO AFONSO RAMOS


Silencio-te. Noite triste.
Só a lua me sorri
plantada na escuridão
que aglomera a minha condição.

Silencio-te. Sentimento impune
que respira e sobrevive.
Silencio-te. A razão que nos une
e assim afasto a voz.

Silencio-te. Num silêncio cúmplice.
Silencio-te e assim me deixo morrer!

EM - PASSOS ESPALHADOS PELO CHÃO - PAULO AFONSO RAMOS - LUA DE MARFIM

terça-feira, 8 de maio de 2012

Isto é mais importante - EDUARDO ALEIXO


É importante escutar o que dizem os pássaros,
a voz do mar,
os sentimentos do vento,
a sonata do luar,
o namoro das pedras com as águas,
a sinfonia dos canaviais,
o rumorejar dos pássaros
antes do anoitar dos bicos
debaixo dos sovacos das penas...
Tantas palavras que escrevo para dizer
que isto é mais importante
do que os pensamentos ardilosos
que te povoam a mente
e com os quais, se dizes que mentes
a sábia música do silêncio...
mentes!...

EM - OS CAMINHOS DO SILÊNCIO - EDUARDO ALEIXO - CHIADO EDITORA

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Equívoco - LÍDIA BORGES


Vê como floresce
pontualmente
a magnólia
adivinhando na minha sede
a urgência da cor.

Respiro
a seda rósea das suas pétalas
e é de ti que me embriago
desfio o vento nos dedos
para tecer à pressa
primaveras.

E passeio nelas
de mão dada
com a tua sombra
até que a magnólia
perca a derradeira pétala
no frio escuro do chão
lembrando-me
que ainda é Inverno.

EM - NO ESPANTO DAS MÃOS O VERBO - LÍDIA BORGES - LUA DE MARFIM

domingo, 6 de maio de 2012

Raiz do amor - LUÍS FERREIRA



Hoje sim...
Digo que te amo
Dissolvendo todas as lágrimas,
Que resgam os timbres da emoção.
As palavras,
Impelindo as flores,
No crepúsculo dos sonhos
Que perfumam os teus olhos.
Hoje sim...
Moldamos orgasmos,
Fazendo crescer em nós
Todas as raízes do amor.

EM - O CÉU TAMBÉM TEM DEGRAUS - LUÍS FERREIRA - ESFERA DO CAOS

sábado, 5 de maio de 2012

Em carros de rodas...* - ALBERTO BRAVO


Em carros de rodas empurrados, grossos,
lívidos, recordais as chamas dos braseiros;
a Primavera vem destapar os vossos
quentes recipientes de maus cheiros,
fedores inaugurais que o Meio-dia
faz evolar em cartazes incessantes:
os homens sentem-se irmãos pela Axila,
pelos íntimos desprendimentos gotejantes...
Vossas pernas mesdames se entreabrem
ao falo dos ventinhos de Abril
e vossos decotes conhecedores sabem
entre os seios esconder a sombra dum ardil
enquanto as virgens uff, as imperfuradas,
sorvem cem equívocoslicores
glu glu glu e morrerão casadas
com mortos que passam dizimando cores.

EM - POEMAS OCASIONAIS - ALBERTO BRAVO - LUA DE MARFIM

sexta-feira, 4 de maio de 2012

A esperança da Humanidade - ANTÓNIO MR MARTINS


Na rouquidão do desalento
resta a magia de um sorriso...
onde a criança
transforma a realidade
num sonho
paradisíaco,
é ímpar a sua alegria
e a envolvência
da sua presença.

Surge o alento
a límpida voz
num renascer sem limites
e sem fim.

EM - MÁSCARA DE LUZ - ANTÓNIO MR MARTINS - TEMAS ORIGINAIS

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Instante - EMANUEL LOMELINO & ANA LOPES


Por um instante transformei o teu corpo em diamante
gelei os meus olhos nessa pedra brilhante
a minha boca ficou presa à tua.

Por um instante os nossos lábios humedeceram
as maçãs do meu rosto enrubesceram.
Por um instante eu combati o tédio
o teu corpo foi o meu remédio.

Por um instante, vi as pessoas a passar
vi-os lá longe, na ponte, a olhar!

Por um instante o meu sonho encontrou um fundo
eu e tu, longe do mundo!
Para a eternidade, tu e eu, a dormir o sono profundo!

Por um instante fiz de ti a minha realidade
entreguei-me à serenidade
flutuei nesses teus braços.

Por um instante ficámos unidos por esta paixão
descobri o que significa união
desliguei a minha memória
desfrutei um momento de glória.

Por um instante transportei-me para fora de mim
desejei ficar sempre assim.

Por um instante tive a certeza de ser capaz
esqueci tudo, senti paz
para a eternidade quero este instante que me satisfaz.

EM - LICENÇA POÉTICA [duetos lomelinos] - EMANUEL LOMELINO - LUA DE MARFIM


ATENÇÃO
A editora LUA DE MARFIM e o poeta EMANUEL LOMELINO têm o grato prazer de vos convidar para marcarem presença na sessão de apresentação do livro LICENÇA POÉTICA [duetos lomelinos], que acontecerá no próximo Sábado, dia 5 de Maio de 2012, pelas 18.30, no BAR BONAPARTE, sito na AV. do Brasil, nº 128 Porto (FOZ)
Obra e autor serão apresentados pela escritora MARIA JOSÉ LACERDA.
APAREÇAM!!! A ENTRADA É LIVRE!!! 

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Silêncios - LITA LISBOA

Oceanos de silêncios,
Escondem ondas dilacerantes,
Sibilando murmúrios,
Que este suave amanhecer,
Numa magia que me transcende,
Já me fez esquecer!
Hoje o dia é transparente,
Tem uma luz resplandecente
E já caminho sobre as águas,
Em ondas calmas,
Sem espaços, sem tempos marcados,
Num tempo que é só meu!...

IN - ONDE OS PÁSSAROS FAZEM SILÊNCIOS - LITA LISBOA - TEMAS ORIGINAIS

terça-feira, 1 de maio de 2012

Brados literários - FERNANDO SAIOTE


Fiadas de letras jogadas no acaso
Carregadas de néons brilhantes,
Distorcidas pela vozearia da turba,
Soltam-se como verbos dissonantes
Parcos dejectos rabiscados a prazo.

Escribas autófagos ditos poetas
Rimam a vida com a própria vida,
Rolham o mundo com verborreia,
Tomam a razão na forma estúpida
De matar o verso com canetas.

Limita-se o passo das palavras,
Horizonte de cegos olhares vendados
Na idosa ditadura da crítica
Que brota dos olhos queimados
Dos tantos livros que lavras.

EM - PRISÃO DE SENTIDOS - FERNANDO SAIOTE - LUA DE MARFIM