quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

Madalena e seus arquétipos III - MANOEL DIAS DA FONSECA NETO

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO PELO AUTOR

Dom da misericórdia feminina,
Com seu forte poder de intercessão,
Clamava por providência divina
No sofrimento de cada irmão.

EM - MADALENA E O SAGRADO FEMININO - MANOEL DIAS DA FONSECA NETO - EXPRESSÃO GRÁFICA E EDITORA LDA

Inversão do rio - IVALDO BATISTA CORDELISTA

LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO POR IN-FINITA
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O Nordeste todo chora
Implora o rio se vai
Seu povo olha pra o céu
E pede a nosso Pai
Não quero morrer a fio
Traz de volta nosso rio
Senhor Deus abençoai.

Ele desce e no mar cai
É obra da criação
Rio que veio do alto
Pela precipitação
Foi desembocar no mar
O meu rio foi pra lá
Pela predestinação.

Ao Senhor da criação
Que tudo pode fazer
Peço ao meu soberano
Meu Deus queira devolver
Refaça a divisão
Faça uma inversão
Que o rio volte a nos ver.

EM - ECOS DO NORDESTE - ANTOLOGIA - IN-FINITA

Desta vez meu amor - SUSANA NUNES

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Desta vez meu amor...
não te abracei simplesmente
para me encolher de calor inocente
no feliz consolo do teu peito
e, contudo... abracei-to...
com o despudor das axilas abertas e espreguiçadas
num misto exposto de suor e gozo
fermento ardente e espirituoso
dormente e inebriante licor.
Sei que me vou escutar, atenta em harpas
num latejar intenso das minhas têmporas
e sei que te vou ser sal de mar em cordas
de redes que se fazem desprender de bolhas e de algas.
Desta vez meu amor...
não te amei unicamente
para me aperceber do teu ardor diferente
do alegre deleite do teu trejeito
e, contudo... amei-to...
com o destrançar do mistério natural das entranhas
emergidas e cheias do amor nos vermelhos matizados
dos lilases alaranjados de um Sol-Pôr.
Sei que me vou ouvir, sedenta em tambores
no bater da líbido maior de que sou feita
e sei que te vou ser orquestra e pétala
molhada do rubor dos lábios da vulva
nos tons mesclados daquela rosa tão púrpura.
Tão desfolhada e tão querida!
Tão divinamente cingida
nos nossos olhares grudados!
Plantada em nós, feita magia de fada!
Nossa rosa!
Nossa flor!
Desta vez... no nosso amor...

EM - NA PELE DA PALAVRA - SUSANA NUNES - IN-FINITA

Animais marinhos - GABRIELA RUIVO TRINDADE

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O vestido estava sujo
O vestido já nada tinha da infância
Estava roto
Esburacado
O vestido outrora branco
Estava gasto
Como os trapos

As manhãs traziam o cheiro do pão
A brancura da farinha
E nos gestos
Teciam-se os cabelos
E dos braços entornavam-se os sonhos
E das mãos escorregavam conchas
Búzios
Animais marinhos

EM - CONEXÕES ATLÂNTICAS III - ANTOLOGIA - IN-FINITA

quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

Do ser - ALVARO GIESTA

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– à Carmen Muñoz Fernandez, poetisa castelhana
tradutora do meu título “Sobre o Rosto do Corpo”

Tudo no Ser é grande quando canto em meus
versos a falta e a procura e desassossegado
grito neles a inquietação dessa ausência
no Ser. Esculpem-se na pedra firme as palavras

e a luz que da sua sombra emerge; e o silêncio
do vazio         – esta dor que meu Ser afronta
na revolta que explode quando a voz
da liberdade é maior que o próprio medo.

Canto com o grito da ave que foge atormentada
a voz do Ser que cai e fica a apodrecer no campo
de batalha e canto as palavras que ficam por dizer.

Em gritante silêncio canto o verde sem amarras
– sempre o verde que busco inquieto sem sossego
mesmo quando o Ser desanimado já não quer.

EM - O SERENO FLUIR DAS COISAS - ALVARO GIESTA - IN-FINITA

A ave que resiste no Sertão - IVALDO BATISTA CORDELISTA

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Um homem do litoral
Ao visitar o Sertão
Procurou saber das aves
Eis a sua conclusão
Percebeu o que havia
Somente a Ave Maria
Não sofreu a extinção.

Fez por lá indagação
Ao povo desse lugar
Perguntou da Asa Branca
Do Assum Preto e Carcará
Nem cantar, nem assobio
Sobre o Sabiá ouviu
Tudo já sumiu de lá.

Sempre a noite ao chegar
Da voz dos homens ouvia
O sertanejo contrito
Cantava ao fim do dia
Sempre de joelhos ao chão
Pareia da escuridão
A canção Ave Maria.


EM - ECOS DO NORDESTE - ANTOLOGIA - IN-FINITA

Teatro - VERGÍLIO DE SENA

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Meu corpo é drama
de um teatro mentiroso,
tão mentiroso quanto verdadeiro,
repartido em quatro actos.

Peça que ninguém chama
de um elenco horroroso,
e no entanto, dotado e inteiro
de argumentos e de factos.

Só tu, público, vês distraído
o que se passa no palco improvisado,
em que o actor valido ou desvalido
tem em si consentido o seu próprio brado.

EM - O HOMEM É O HOMEM DO HOMEM - VERGÍLIO DE SENA - EDIÇÕES VIEIRA DA SILVA

Um copo - FORTUNATA FIALHO

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Um copo meio cheio repousa na mesa do café.
Uma mão trémula hesita em lhe pegar.
No rosto um sorriso doce e idiota aflora.
Os raios do sol incidem no líquido e iluminam o seu rosto.
O sol, aprisionado no copo, é seu e brilha como nunca.
Ninguém sabe mas ele é a pessoa mais feliz do mundo.
Possui o maior tesouro do mundo... vai ser pai.
A esposa telefonou e a novidade chegou... são gémeos!
Devia estar assustado... dois de uma só vez... felicidade
a dobrar...
Pelo rosto rola uma lágrima e cai no líquido que estremece.
Desiste... está feliz demais para beber.
Deposita o dinheiro na mesa e sai.
Precisa de ar, rir como um idiota, dançar e talvez gritar.
Gritar ao mundo que é feliz, que o mundo lhe pertence.
Vai ser pai... vai ser pai...
E o copo? O copo continua meio cheio numa mesa
de café.

EM - CONEXÕES ATLÂNTICAS III - ANTOLOGIA - IN-FINITA

E agora? - VÍTOR COSTEIRA

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Aprendi a escrever que és linda
em mandarim!
Voei dez mil saltos imortais
por cima de um trampolim!
Ganhei coragem e acreditei
que seria o teu querubim
e subiria ao altar de todos os dias da vida
para te dizer sim!
Mas...
a minha infinita esperança
está a chegar ao fim
e eu tenho tudo, tudo, tudo,
contra mim!
Diz-me,
o que hei de eu fazer
para que te apaixones por mim...
sim...?

EM - POEMAS DE MEL E LIMÃO - VÍTOR COSTEIRA - IN-FINITA

terça-feira, 29 de janeiro de 2019

Tentei - MARIA ANTONIETA OLIVEIRA

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Despi-me dos poemas que escrevi
Despojei-me das palavras que proferi
Limpei a minha alma e a mente.
Libertei-me
Inventei-me
Desnudei-me
Tentei tudo e não consegui
Que o meu coração deixasse de bater por ti.

EM - OS SONS DO SILÊNCIO - MARIA ANTONIETA OLIVEIRA - IN-FINITA

Velha Baraúna - IRACI BARBOSA SANTIAGO

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Minha velha Baraúna!
Foi olhando tua firmeza
Que lembrei do meu passado
E tive grande certeza
Que mesmo sem ter dinheiro
Eu tinha grande riqueza.

Essa riqueza é tão grande!
Que nem o tempo desfaz
Só vim perceber agora
Depois que perdi papai
As boas coisas da vida
Que o tempo leva e não traz.

Ainda lembro o caminho
Que todo dia eu passava
E da velha baraúna
Que meu pai sempre abraçava
E nesse abraço de fã.
Como será o amanhã?

Meu pai assim perguntava.
Do meu tempo de menino
Vivo saudade sentindo
Saudade que rasga o peito
E ao coração vai ferindo
Sem perceber fecho os olhos
E sinto as lágrimas caindo.


EM - ECOS DO NORDESTE - ANTOLOGIA - IN-FINITA

Placebo - PLÁCIDO VILLANOVA

LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO PELO AUTOR

Se repetindo.
Se repetindo.

Eu já disse isso.

Já escrevi isso.
É típica a repetição.

É típico o movimento.

Feito meu cachorro.
Que vai escorrendo.
Virando água suja.

Bucha oleosa.

Eu também.
Vou escorrendo.
Virando água suja.

Bucha oleosa.

Meu cachorro já foi da família.
Já teve nome.

E agora...
... só fica ali.

No canto do muro.

Cachorro filho da puta.
Filho da puta.

Resolveu mudar de cor.
De tamanho.

Só falta me convencer de que é outro cachorro.

EM - DECADENTISTAS - PLÁCIDO VILLANOVA - CONFRARIA DO VENTO

Bolas de sabão - FORTUNATA FIALHO

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No ar ecoam risos de crianças, gargalhadas puras
e cristalinas.
Entre pulos de alegria a correria não pára.
Pelo ar sobem bolas de sabão, balões frágeis de mil cores.
Mundos coloridos que se elevam transportando sonhos e inocência.
Mãozinhas ansiosas perseguem-nas, querem-lhes tocar.
Frágeis elas rebentam nos seus corpinhos meio desnudos.
Molhados e felizes correm e riem...
Capturaram o sol, a lua e... talvez as estrelas.
Joias brilhantes enfeitam os seus corpinhos,
Tesouros imaginários... bolas de sabão.
E no ar as estrelas brilham, e caem sobre elas...
Cascatas de mil cores, húmidas e leves.
Fontes de felicidade espalham alegria.
Bolas de sabão... balões mágicos e frágeis.
Bolas de sonho aprisionadas nas suas mãos...

EM - CONEXÕES ATLÂNTICAS III - ANTOLOGIA - IN-FINITA

segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

Sedução - SUSANA PIRES

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Ele assustou -se
Achou-a louca
Entre desejo não pensado
Perderam sua intenção
Ela mulher
Durante a grandeza da lua
No salão despido de tudo
Menos de erotismo
Virou os corpos

- Iluminando toda a pele -

Em lua cheia
Já como amantes
Rasgavam noutro hemisfério
Cada noite
De prazer

Sedução

Ele achou-a louca
Levou-a por todos os recantos
Só para saborear como
Homem
Todo o seu Ser

Ela sim!
Tornou-se louca

Só depois de o conhecer
E quando a lua vinha
Para os ver
Enfeitiçada
Voyeur
Como máscara de baile
Nas noites que mordem os suspiros

Ele...
Achou-a louca

EM - MAR INTERIOR - SUSANA PIRES - IN-FINITA

Recanto feliz - IRACI BARBOSA SANTIAGO

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Amiga fiz minha casa
Foi a maior emoção
Por isso vou te contar
Como foi a construção

O piso é de coragem
As paredes de amizade
A porta é o coração
E o teto, felicidade

É uma morada simples
Foi feita com muita fé
Nela também hospedei
Jesus, Maria e José

Decorei com alegria
Coloquei bastante amor
Na frente dessa casinha
Tem fruteira e muita flor

Venha e comprove tudo
Que esse poema diz
Estou morando agora
No meu “Recanto Feliz”.


EM - ECOS DO NORDESTE - ANTOLOGIA - IN-FINITA

O perfume - LARA SALGUEIRO

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O odor intenso
Que domina o luar
No oceano imenso
Poeira a voar

Cheiro, romance
História de amor
Uma chance
Para encontrar o tal odor

Momento rosa
Planta a vida
Choro em prosa
Margem atrevida

EM - TANTO E NADA - LARA SALGUEIRO - EDIÇÕES VIEIRA DA SILVA

Palavras soltas de Mim - FLORINDA DIAS

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O dia d’hoje,
amanheceu nublado,
e o sol, pareceu-me que estava;
envergonhado.

Durante o dia,
ainda pensei que o via na totalidade,
mas não... estava distante, pareceu-me triste;
ou então, talvez fosse eu que o vi assim,
derivado à minha saudade.

O fim de tarde,
ficou-se por ser igual, não estava frio,
mas... não vi o Pôr-do-Sol
e dentro do que aconteceu,
senti que me transcendeu
que levou os meus sentidos para além mar,
no que não se deixou ver, e que por um sinal;
nem sequer quis brilhar.

Abençoada Natureza que nos enobrece,
uns dias em beleza, outros; que nem se parece.

E assim a vida corre,
bem mal, mal ou bem;
não faz mal... Pois. É isto
o que entre rosas e espinhos,

O visto que a Vida TEM.

EM - CONEXÕES ATLÂNTICAS III - ANTOLOGIA - IN-FINITA

domingo, 27 de janeiro de 2019

Com que palavras? - VÍTOR COSTEIRA


LIVRO GENTILMENTE CEDIDO PELO AUTOR

Com que outras palavras,
que não estas,
te poderei eu escrever
um poema que não te afogue
nem faça rolar em ti,
como seixos inconscientes,
os fonemas de um sentimento
que, cada dia mais líquido,
procura em ti a foz,
entre a nascente de um sorriso
e o poente de um terno beijo?

Com que outras palavras,
que não estas,
te poderei eu dizer
algo que é simplesmente indizível,
mesmo que me atreva e diga,
numa doce e amiga tentativa
em te fazer sentir
uma palpitação que em mim faz sentido,
num gesto feliz interior
que se quer teu e incontido
e a que humildemente chamo Amor?

Com que outras palavras,
que não estas agora,
te beijarei, silvestre amora,
e em ti serei indelével e serei desejado,
como uma ribeira de águas frescas
ou um amanhecer perfumado?

Com que palavras
poderemos os dois ser rio
e escorrer no mesmo leito sem margens?

EM - ASAS DE COLIBRI - VÍTOR COSTEIRA - ANDORINHA EDITORIAL

Testamento poético - INEZ OLUDÉ DA SILVA

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Não deixo nada neste mundo
Nem pra você, nem pra ninguém
Aos que amei, desejo que se vão primeiro
Pra ter saudade de alguém
Aos que não amei, nem saudade
Nem lembrança,s pois ninguém merece
Sentir a falta de um inacabado bem

Mas se eu for antes para os amigos
Deixo a poesia, sem  teréns nem vinténs
Mas, uma bela vida. Amém

Para os inimigos e rivais
Deixo com muito prazer
As dívidas, as dúvidas 
As mentiras, as maldades
E tudo o que deixei de fazer
Por neles acreditar o resto fica comigo

Enfim só, direi. Rirei feliz, em paz
Contente do que não fui.
Tudo isso pra dizer
Que não sou de morrer triste
Nem de chorar por ninguém
Que não mereça o meu bem


EM - ECOS DO NORDESTE - ANTOLOGIA - IN-FINITA