Razão, irmã do Amor e da Justiça,
mais uma vez escuta a minha prece,
é a voz dum coração que te apetece,
duma alma livre, só a ti submissa.
Por ti é que a poeira movediça
de astros e sóis e mundos permanece;
e é por ti que a virtude prevalece,
e a flor do heroísmo medra e viça.
Por ti, na arena trágica, as nações
buscam a liberdade, entre clarões;
e os que olham o futuro e cismam, mudos,
por ti, podem sofrer e não se abatem,
mãe de filhos robustos, que combatem
tendo o teu nome escrito em seus escudos!
EM - SONETOS - ANTERO DE QUENTAL - ULMEIRO
sábado, 30 de novembro de 2013
sexta-feira, 29 de novembro de 2013
Retrato físico - BELMIRO BARBOSA
São feições do rosto, o jeito de caminhar,
tudo está retido ao alcance dos meus olhos.
Não sei se é uma vantagem enfatizar
gente a quem roubarei privacidade aos molhos.
Privacidade do inocente e relevância,
que deixa uma marca de fixar tão excelente.
Rio-me sozinho quando vejo à distância
as recordações que me surgem de repente.
Sei que roubarei às pessoas um grande ensejo
de partilha, porque o confronto é muito raro,
mas não mudo nada para que isso aconteça.
Tudo se passa naturalmente sem pejo.
Tudo se passa naturalmente e reparo
no transeunte, seus complexos sem que esqueça...
EM - SÓ CEM SONETOS - BELMIRO BARBOSA - CHIADO EDITORA
tudo está retido ao alcance dos meus olhos.
Não sei se é uma vantagem enfatizar
gente a quem roubarei privacidade aos molhos.
Privacidade do inocente e relevância,
que deixa uma marca de fixar tão excelente.
Rio-me sozinho quando vejo à distância
as recordações que me surgem de repente.
Sei que roubarei às pessoas um grande ensejo
de partilha, porque o confronto é muito raro,
mas não mudo nada para que isso aconteça.
Tudo se passa naturalmente sem pejo.
Tudo se passa naturalmente e reparo
no transeunte, seus complexos sem que esqueça...
EM - SÓ CEM SONETOS - BELMIRO BARBOSA - CHIADO EDITORA
quinta-feira, 28 de novembro de 2013
Correm turvas as águas deste rio* - LUIS VAZ DE CAMÕES
Correm turvas as águas deste rio,
que as do Céu e as do monte as enturbaram;
os campos florecidos se secaram,
intratável se fez o vale, e frio.
Passou o verão, passou o ardente estio,
uas cousas por outras se trocaram;
os fementidos Fados já deixaram
do mundo o regimento, ou desvario.
Tem o tempo sua ordem já sabida;
o mundo, não; mas anda tão confuso,
que parece que dele Deus se esquece.
Casos, opiniões, natura e uso
fazem que nos pareça desta vida
que não há nela mais que o que parece.
EM - POESIA LÍRICA - LUIS VAZ DE CAMÕES - VERBO
que as do Céu e as do monte as enturbaram;
os campos florecidos se secaram,
intratável se fez o vale, e frio.
Passou o verão, passou o ardente estio,
uas cousas por outras se trocaram;
os fementidos Fados já deixaram
do mundo o regimento, ou desvario.
Tem o tempo sua ordem já sabida;
o mundo, não; mas anda tão confuso,
que parece que dele Deus se esquece.
Casos, opiniões, natura e uso
fazem que nos pareça desta vida
que não há nela mais que o que parece.
EM - POESIA LÍRICA - LUIS VAZ DE CAMÕES - VERBO
quarta-feira, 27 de novembro de 2013
As minhas ilusões - FLORBELA ESPANCA
Hora sagrada dum entardecer
de Outono, à beira-mar, cor de safira,
soa no ar uma invisível lira...
O sol é um doente a enlanguescer...
A vaga estende os braços a suster,
numa dor de revolta cheia de ira,
a doirada cabeça que delira
num último suspiro, a estremecer!
O sol morreu... e veste luto o mar...
e eu vejo a urna de oiro, a balouçar,
à flor das ondas, num lençol de espuma.
As minhas ilusões, doce tesoiro,
também as vi levar em uma de oiro,
no mar da Vida, assim... uma por uma...
EM - SONETOS - FLORBELA ESPANCA - BERTRAND
de Outono, à beira-mar, cor de safira,
soa no ar uma invisível lira...
O sol é um doente a enlanguescer...
A vaga estende os braços a suster,
numa dor de revolta cheia de ira,
a doirada cabeça que delira
num último suspiro, a estremecer!
O sol morreu... e veste luto o mar...
e eu vejo a urna de oiro, a balouçar,
à flor das ondas, num lençol de espuma.
As minhas ilusões, doce tesoiro,
também as vi levar em uma de oiro,
no mar da Vida, assim... uma por uma...
EM - SONETOS - FLORBELA ESPANCA - BERTRAND
terça-feira, 26 de novembro de 2013
Brilho - ALEXANDRE CARVALHO
LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO PELO AUTOR
Ontem não sorri
faltou-me o esplendor
a mágica, o brilho do seu ouro
seu místico sorriso
qual boneca de porcelana
de olhos vidrados,
sem pestanejar, distante,
sem olhar em redor.
Remetendo-me num vazio... só isso.
EM - CAVALETE COM POESIA - ALEXANDRE CARVALHO - UNIVERSUS
segunda-feira, 25 de novembro de 2013
Pastor de horizontes - JOÃO CARLOS ESTEVES
algures, num sonho incerto
um pastor de horizontes soltou as lágrimas de névoa
onde a esperança repousava em flor
as palavras germinaram
no orvalho lacrimoso que o pastor soltou
e o poema ganhou vida
mas hoje
entristeceram-se as palavras,
o crepúsculo afastou-se em silêncio
e o infinito adormeceu cansado
na palma da sua mão
EM - INVENTEI-TE AS MANHÃS - JOÃO CARLOS ESTEVES - CHIADO EDITORA
um pastor de horizontes soltou as lágrimas de névoa
onde a esperança repousava em flor
as palavras germinaram
no orvalho lacrimoso que o pastor soltou
e o poema ganhou vida
mas hoje
entristeceram-se as palavras,
o crepúsculo afastou-se em silêncio
e o infinito adormeceu cansado
na palma da sua mão
EM - INVENTEI-TE AS MANHÃS - JOÃO CARLOS ESTEVES - CHIADO EDITORA
domingo, 24 de novembro de 2013
Crepúsculo - LITA LISBOA
Como se rasga o tempo?
Com a treva de um grito
impossível de ecoar?
O tempo é uma fogueira
que se vai extinguindo,
é essência que declina brandamente.
Como melodia...
composição musical em três compassos.
Cada compasso, uma pulsação.
Cada pulsação, o tempo que caminha.
E o grito... projecta o tempo no silêncio.
A fogueira se dissipa
a melodia dilui-se no vazio...
E o tempo perde a luz no crepúsculo!
EM - CREPÚSCULO - LITA LISBOA - TEMAS ORIGINAIS
Com a treva de um grito
impossível de ecoar?
O tempo é uma fogueira
que se vai extinguindo,
é essência que declina brandamente.
Como melodia...
composição musical em três compassos.
Cada compasso, uma pulsação.
Cada pulsação, o tempo que caminha.
E o grito... projecta o tempo no silêncio.
A fogueira se dissipa
a melodia dilui-se no vazio...
E o tempo perde a luz no crepúsculo!
EM - CREPÚSCULO - LITA LISBOA - TEMAS ORIGINAIS
sábado, 23 de novembro de 2013
Beijo - RUTH CÂNDIDO
Esse teu olhar
derrete-me o coração
sinto-me como o mar
na fúria da paixão.
Meus lábios pedem um beijo
meu corpo uma carícia
estremeço de desejo
numa doce malícia!
Tuas mãos ardentes
no meu corpo vão deslizando
sinto teus lábios quentes
numa onda vou-me largando.
Os dois num só nos tornamos
em saudade e em desejo
e assim nos amamos
na memória de um beijo.
EM - UM SOPRO DO DESTINO - RUTH CÂNDIDO - LUA DE MARFIM
derrete-me o coração
sinto-me como o mar
na fúria da paixão.
Meus lábios pedem um beijo
meu corpo uma carícia
estremeço de desejo
numa doce malícia!
Tuas mãos ardentes
no meu corpo vão deslizando
sinto teus lábios quentes
numa onda vou-me largando.
Os dois num só nos tornamos
em saudade e em desejo
e assim nos amamos
na memória de um beijo.
EM - UM SOPRO DO DESTINO - RUTH CÂNDIDO - LUA DE MARFIM
sexta-feira, 22 de novembro de 2013
Ave adormecida - EDGARDO XAVIER
Na minha mão
O teu sexo é uma ave adormecida
Na quietude da manhã
E o teu corpo
A praia onde é serena
A voz do azul
Profundo
No sono
Todas as vontades
São líquidas
EM - CORPO DE ABRIGO - EDGARDO XAVIER - TEMAS ORIGINAIS
O teu sexo é uma ave adormecida
Na quietude da manhã
E o teu corpo
A praia onde é serena
A voz do azul
Profundo
No sono
Todas as vontades
São líquidas
EM - CORPO DE ABRIGO - EDGARDO XAVIER - TEMAS ORIGINAIS
quinta-feira, 21 de novembro de 2013
Manhã gramatical - ANTÓNIO CARLOS CORTEZ
Faria deste céu a minha casa
e do rio a imagem fixa eterna
Mas não possuo outras palavras
só vocábulos pobres
ardem na boca fértil mas opaca
O homem perde a pouco e pouco
o estranho sonho da linguagem
O anjo insano traz-lhe os sons da fala
Ao escrever fixa a imagem da casa
na folha em branco sabem agora
a impossibilidade de a habitar de novo
Não torna a inocente palavra a ser tocada
EM - DEPOIS DE DEZEMBRO - ANTÓNIO CARLOS CORTEZ - EDITORA LICORNE
e do rio a imagem fixa eterna
Mas não possuo outras palavras
só vocábulos pobres
ardem na boca fértil mas opaca
O homem perde a pouco e pouco
o estranho sonho da linguagem
O anjo insano traz-lhe os sons da fala
Ao escrever fixa a imagem da casa
na folha em branco sabem agora
a impossibilidade de a habitar de novo
Não torna a inocente palavra a ser tocada
EM - DEPOIS DE DEZEMBRO - ANTÓNIO CARLOS CORTEZ - EDITORA LICORNE
quarta-feira, 20 de novembro de 2013
O outro lado - HELENA ISABEL
LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO PELA AUTORA
És tu, sim
És tu, sim
O outro lado de mim.
Vento sereno do meu temporal.
Água doce do meu mar.
Amor mágico que o mar inventou!
Calaram-se as sereias,
E tudo parou.
Encontraram-se as almas
Saíram das águas,
No bosque encontraram as horas calmas.
As guitarras soaram
O fado ocultou-se,
Ouviu-se da lua a melodia.
À beira mar o luar enfeitiçava
Os beijos das ondas na areia,
Na minha viola eu tocava
Sou eu, sim
O outro lado de ti... assim!
EM - MAR QUE ME ESCREVE - HELENA ISABEL - CHIADO EDITORA
terça-feira, 19 de novembro de 2013
Amnésia - CRISTINA PINHEIRO MOITA
Ó tempo,
dá-me tempo para escrever
neste tempo que passa.
Há tempo!
que a memória quer descrever
que a memória não deslace
pode falhar "sem eu querer"
grande memória me valha
quando o corpo tem prazer
pois na falha da memória
sou eu e tu
sem saber.
EM - FALUA DA SAUDADE - CRISTINA PINHEIRO MOITA - LUA DE MARFIM
dá-me tempo para escrever
neste tempo que passa.
Há tempo!
que a memória quer descrever
que a memória não deslace
pode falhar "sem eu querer"
grande memória me valha
quando o corpo tem prazer
pois na falha da memória
sou eu e tu
sem saber.
EM - FALUA DA SAUDADE - CRISTINA PINHEIRO MOITA - LUA DE MARFIM
segunda-feira, 18 de novembro de 2013
Balada de um amor triste - JOSÉ ILÍDIO TORRES
No peito não lhe cabia um coração
Que de poemas era todo ele feito
Mas nesse vazio tão cheio de solidão
O amor era de ilusão quase perfeito
Tela que pintava num afago só
Escultura graciosa que fazia incompleta
Texto sem dó que arquitectava
Sua procura não tinha partida
Nem a meta era a cura procurada
E havia em tudo o que nele não cabia
Uma espécie de peito cheio de poemas
E um vazio que por fora não se via
E era solidão de quem escrevia apenas
EM - OS POEMAS NÃO SE SERVEM FRIOS - JOSÉ ILÍDIO TORRES - TEMAS ORIGINAIS
Que de poemas era todo ele feito
Mas nesse vazio tão cheio de solidão
O amor era de ilusão quase perfeito
Tela que pintava num afago só
Escultura graciosa que fazia incompleta
Texto sem dó que arquitectava
Sua procura não tinha partida
Nem a meta era a cura procurada
E havia em tudo o que nele não cabia
Uma espécie de peito cheio de poemas
E um vazio que por fora não se via
E era solidão de quem escrevia apenas
EM - OS POEMAS NÃO SE SERVEM FRIOS - JOSÉ ILÍDIO TORRES - TEMAS ORIGINAIS
domingo, 17 de novembro de 2013
A noite - TELMA ESTEVÃO
A noite despe-se,
quente e húmida para mim,
com ela vem o sopro do vento
e o cheiro do jasmim.
Vagueio sem rumo,
tendo como companhia,
a minha própria sombra
e as palavras do meu pensamento.
Procuro o vazio da noite,
o prazer mágico,
das viagens suspensas,
nas fantasias da imaginação.
Quase me perco,
nesse turbilhão de sensações,
não consigo parar,
não quero parar...
Com estas ideias vadias,
perdi a distinção,
entre o sonho e o sonhar.
EM - PALAVRAS - TELMA ESTEVÃO - LUA DE MARFIM
quente e húmida para mim,
com ela vem o sopro do vento
e o cheiro do jasmim.
Vagueio sem rumo,
tendo como companhia,
a minha própria sombra
e as palavras do meu pensamento.
Procuro o vazio da noite,
o prazer mágico,
das viagens suspensas,
nas fantasias da imaginação.
Quase me perco,
nesse turbilhão de sensações,
não consigo parar,
não quero parar...
Com estas ideias vadias,
perdi a distinção,
entre o sonho e o sonhar.
EM - PALAVRAS - TELMA ESTEVÃO - LUA DE MARFIM
sábado, 16 de novembro de 2013
Entretanto - DAVID MOURÃO-FERREIRA
Entre missas e mísseis teus irmãos
Entre medos e mitos teus amigos
Entretanto entre portas tu contigo
entretido a sonhar como eles vão
Entre que muros moram suas mãos
Entre que murtas montam seus abrigos
Entre quem possa ver deste postigo
entre que morros morrem de aflição
Entre murros enfrentam-se os mais tristes
Entre jogos ou danças proibidas
entre Deus e a droga os menos fortes
Entre todos e tu vê o que existe
Entreacto em comum somente a vida
Entre tímidas aspas já a morte
EM - MATURA IDADE - DAVID MOURÃO-FERREIRA - ARCÁDIA
Entre medos e mitos teus amigos
Entretanto entre portas tu contigo
entretido a sonhar como eles vão
Entre que muros moram suas mãos
Entre que murtas montam seus abrigos
Entre quem possa ver deste postigo
entre que morros morrem de aflição
Entre murros enfrentam-se os mais tristes
Entre jogos ou danças proibidas
entre Deus e a droga os menos fortes
Entre todos e tu vê o que existe
Entreacto em comum somente a vida
Entre tímidas aspas já a morte
EM - MATURA IDADE - DAVID MOURÃO-FERREIRA - ARCÁDIA
sexta-feira, 15 de novembro de 2013
Bolero - SOFIA BARROS
Sinto-te na cadência ardente dum bolero,
turbilhão que me invade no interior da pele.
Olhas-me pressentindo o quanto te quero,
regas-me num brinde ao som de Ravel.
Sinto-te em ondas fortes de desejo,
amor consumado em altar ao relento,
consagrado na paixão ébria dum beijo
que redescobrimos a cada momento.
Sinto-te em vagas salgadas e quentes
e, juntos, navegamos nessa ondulação
que une amantes em ritmos ferventes
de rituais mútuos de adoração.
EM - ANTES DE SERMOS DIA - SOFIA BARROS - LUA DE MARFIM
turbilhão que me invade no interior da pele.
Olhas-me pressentindo o quanto te quero,
regas-me num brinde ao som de Ravel.
Sinto-te em ondas fortes de desejo,
amor consumado em altar ao relento,
consagrado na paixão ébria dum beijo
que redescobrimos a cada momento.
Sinto-te em vagas salgadas e quentes
e, juntos, navegamos nessa ondulação
que une amantes em ritmos ferventes
de rituais mútuos de adoração.
EM - ANTES DE SERMOS DIA - SOFIA BARROS - LUA DE MARFIM
quinta-feira, 14 de novembro de 2013
Os olhos abraçam o destino - ANA COELHO
Desci do altar
com as lágrimas nas palmas das mãos,
desfolhei todas as emoções
como um livro
que me acompanha a todas as horas.
Os suspiros
assustam o silêncio
e os passos caem lentamente
na impotência
que acorrenta a silhueta ténue.
Os olhos abraçam o destino
que parte em desigualdade fugaz,
todos os atalhos escurecem
o suor rasga os músculos
e o mundo dilui-se
em fluxos de maresia
idolatrados pelas rochas imóveis
de uma solitária praia vazia...
EM - TACTO DAS PALAVRAS - ANA COELHO - EDITA-ME
com as lágrimas nas palmas das mãos,
desfolhei todas as emoções
como um livro
que me acompanha a todas as horas.
Os suspiros
assustam o silêncio
e os passos caem lentamente
na impotência
que acorrenta a silhueta ténue.
Os olhos abraçam o destino
que parte em desigualdade fugaz,
todos os atalhos escurecem
o suor rasga os músculos
e o mundo dilui-se
em fluxos de maresia
idolatrados pelas rochas imóveis
de uma solitária praia vazia...
EM - TACTO DAS PALAVRAS - ANA COELHO - EDITA-ME
quarta-feira, 13 de novembro de 2013
Efeito de borboleta - DOMINGOS DA MOTA
Levita, bate asas multicores
e assopra uma brisa tão suave
que agita o sorriso das flores
e aviva o espírito das aves
Se aqui prende a atenção dos beija-flores,
mas além há tufões e tempestades
e a cadeia perversa dos pavores
que inundam e devastam as cidades,
que poder tem a frágil borboleta
para estar na origem, ser estafeta
da brisa para vento ou ciclone
Não se pode culpar sua leveza
(nem existe moral na natureza)
Que dizer do papel do bicho homem
EM - BOLSA DE VALORES - DOMINGOS DA MOTA - TEMAS ORIGINAIS
e assopra uma brisa tão suave
que agita o sorriso das flores
e aviva o espírito das aves
Se aqui prende a atenção dos beija-flores,
mas além há tufões e tempestades
e a cadeia perversa dos pavores
que inundam e devastam as cidades,
que poder tem a frágil borboleta
para estar na origem, ser estafeta
da brisa para vento ou ciclone
Não se pode culpar sua leveza
(nem existe moral na natureza)
Que dizer do papel do bicho homem
EM - BOLSA DE VALORES - DOMINGOS DA MOTA - TEMAS ORIGINAIS
terça-feira, 12 de novembro de 2013
Um corpo - JOSÉ RICARDO NUNES
Nunca imaginou
o seu passado, não dispõe de um rosto.
Experiências, histórias, princípios de factos
não o demoveram. Enrola-se
naquele lençol muito branco que lhe dá
um corpo. Um corpo,
cheio de sacadas.
EM - NOVAS RAZÕES - JOSÉ RICARDO NUNES - GÓTICA
o seu passado, não dispõe de um rosto.
Experiências, histórias, princípios de factos
não o demoveram. Enrola-se
naquele lençol muito branco que lhe dá
um corpo. Um corpo,
cheio de sacadas.
EM - NOVAS RAZÕES - JOSÉ RICARDO NUNES - GÓTICA
segunda-feira, 11 de novembro de 2013
Houve noites...* - GRAÇA PIRES
Houve noites em que sonhei
que o sol incendiava as pedras
que eu pisava.
Ou eram os meus pés
que ateavam o fogo?
À espera que as lembranças
me tranquilizem
cubro, com o véu do tempo,
o meu verdadeiro rosto.
Desfaço a bainha
dos panos que me vestem
com a farpa desta sede lenta,
que se oculta na terra,
sem retorno.
EM - UMA EXTENSA MANCHA DE SONHOS - GRAÇA PIRES - LABIRINTO
que o sol incendiava as pedras
que eu pisava.
Ou eram os meus pés
que ateavam o fogo?
À espera que as lembranças
me tranquilizem
cubro, com o véu do tempo,
o meu verdadeiro rosto.
Desfaço a bainha
dos panos que me vestem
com a farpa desta sede lenta,
que se oculta na terra,
sem retorno.
EM - UMA EXTENSA MANCHA DE SONHOS - GRAÇA PIRES - LABIRINTO
domingo, 10 de novembro de 2013
Invento-te - SUSANA MAURÍCIO
Invento-te,
nas memórias traiçoeiras
que percorrem minha mente.
Invento-te,
nas horas em que relembro
tua boca, a minha queimando.
Invento-te,
no sentir de tua pele
roçando pelo meu corpo.
Invento-te,
meu coração dispara
e meu corpo se prepara.
Invento-te, Amor,
em cada hora de espera
de ti, em que a saudade impera.
Reinvento-te, Amor,
no passar de cada dia
em que quebramos a monotonia.
Com Amor... assim... nos reinventamos!!!
EM - EROTICAMENTE TUA - SUSANA MAURÍCIO - UNIVERSUS
nas memórias traiçoeiras
que percorrem minha mente.
Invento-te,
nas horas em que relembro
tua boca, a minha queimando.
Invento-te,
no sentir de tua pele
roçando pelo meu corpo.
Invento-te,
meu coração dispara
e meu corpo se prepara.
Invento-te, Amor,
em cada hora de espera
de ti, em que a saudade impera.
Reinvento-te, Amor,
no passar de cada dia
em que quebramos a monotonia.
Com Amor... assim... nos reinventamos!!!
EM - EROTICAMENTE TUA - SUSANA MAURÍCIO - UNIVERSUS
sábado, 9 de novembro de 2013
Balada do Picoto - RODRIGO CAMELO
Respira um pouco. Expira mais e mais.
Avisto ao longe a cruz meu pai
e não há quem te siga para essa luz.
Subi a árvore mais alta, verti cada gota no tronco
e fiz do animal mais apto, minha bússola.
Dos que reúnem toda a história num acto.
EM - MÁQUINAS SEM ROSTO - RODRIGO CAMELO - DG EDIÇÔES
Avisto ao longe a cruz meu pai
e não há quem te siga para essa luz.
Subi a árvore mais alta, verti cada gota no tronco
e fiz do animal mais apto, minha bússola.
Dos que reúnem toda a história num acto.
EM - MÁQUINAS SEM ROSTO - RODRIGO CAMELO - DG EDIÇÔES
sexta-feira, 8 de novembro de 2013
Delírio - FLORBELA DE OLIVEIRA
Gritos de raiva saem em chamas dos céus,
e transformam-se em pombas brancas.
Ama-me, abraça-me simplesmente!
Sente-me!
Vamos voar juntos para o infinito onde os deuses nos
aplaudem.
Vamos para onde o sol também possa brilhar mais.
Vamos, vamos e sem parar chegaremos aos céus onde a vida
já não existe.
Segue-se a vida dos seres iluminados, outra vida...
Onde estou?
EM - NUVENS DE UM PASSADO - FLORBELA DE OLIVEIRA - UNIVERSUS
e transformam-se em pombas brancas.
Ama-me, abraça-me simplesmente!
Sente-me!
Vamos voar juntos para o infinito onde os deuses nos
aplaudem.
Vamos para onde o sol também possa brilhar mais.
Vamos, vamos e sem parar chegaremos aos céus onde a vida
já não existe.
Segue-se a vida dos seres iluminados, outra vida...
Onde estou?
EM - NUVENS DE UM PASSADO - FLORBELA DE OLIVEIRA - UNIVERSUS
quinta-feira, 7 de novembro de 2013
Dia 262 - JOAQUIM PESSOA
Assim me perguntaste,
assim te respondi:
tudo é paixão.
Como não lamber
da tua pele, o mel
que o desejo fabrica?
E como a minha boca
não recolher o néctar
da tua boca?
Ou como não sorver
das tuas mãos o pólen
da ternura?
E se, em vez de paixão
for sexo apenas,
ou loucura?
Pode até não ser amor.
Mas, seja o que for,
não é pior.
EM - ANO COMUM - JOAQUIM PESSOA - EDIÇÕES ESGOTADAS
assim te respondi:
tudo é paixão.
Como não lamber
da tua pele, o mel
que o desejo fabrica?
E como a minha boca
não recolher o néctar
da tua boca?
Ou como não sorver
das tuas mãos o pólen
da ternura?
E se, em vez de paixão
for sexo apenas,
ou loucura?
Pode até não ser amor.
Mas, seja o que for,
não é pior.
EM - ANO COMUM - JOAQUIM PESSOA - EDIÇÕES ESGOTADAS
quarta-feira, 6 de novembro de 2013
Meto-me para dentro...* - ALBERTO CAEIRO
Meto-me para dentro, e fecho a janela.
Trazem o candeeiro e dão as boas-noites,
E a minha voz contente dá as boas-noites.
Oxalá a minha vida seja sempre isto:
O dia cheio de sol, ou suave de chuva,
Ou tempestuoso como se acabasse o mundo,
A tarde suave e os ranchos que passam
Fitados com interesse da janela,
O último olhar amigo dado ao sossego das árvores,
E depois, fechada a janela, o candeeiro aceso,
Sem ler nada, nem pensar em nada, nem dormir,
Sentir a vida correr por mim como um rio por seu leito,
E lá fora um grande silêncio como um deus que dorme.
EM - POESIA - ALBERTO CAEIRO - ASSÍRIO & ALVIM
Trazem o candeeiro e dão as boas-noites,
E a minha voz contente dá as boas-noites.
Oxalá a minha vida seja sempre isto:
O dia cheio de sol, ou suave de chuva,
Ou tempestuoso como se acabasse o mundo,
A tarde suave e os ranchos que passam
Fitados com interesse da janela,
O último olhar amigo dado ao sossego das árvores,
E depois, fechada a janela, o candeeiro aceso,
Sem ler nada, nem pensar em nada, nem dormir,
Sentir a vida correr por mim como um rio por seu leito,
E lá fora um grande silêncio como um deus que dorme.
EM - POESIA - ALBERTO CAEIRO - ASSÍRIO & ALVIM
terça-feira, 5 de novembro de 2013
às senhoras da casa Fernando Pessoa - VASCO GRAÇA MOURA
aqui vão estes papéis
como vós solicitais,
pensei que eram cinco ou seis
e afinal são muitos mais,
mas não valem cinco réis...
por isso formulo ingentes
votos de que vós depois
de os lerdes sorridentes
sejais tão benevolentes
quanto formosas já sois.
EM - POESIA 2001/2005 - VASCO GRAÇA MOURA - QUETZAL
como vós solicitais,
pensei que eram cinco ou seis
e afinal são muitos mais,
mas não valem cinco réis...
por isso formulo ingentes
votos de que vós depois
de os lerdes sorridentes
sejais tão benevolentes
quanto formosas já sois.
EM - POESIA 2001/2005 - VASCO GRAÇA MOURA - QUETZAL
segunda-feira, 4 de novembro de 2013
Constatação - JOÃO RUI DE SOUSA
Por esta encosta de enlace
por este rio de tormenta
de nada serve o disfarce
de supor que o que se tenta
fosse luz que se alcançasse.
Por esta escarpa de vidro
por esta chuva lilás
reina bem dentro e escondido
esse lume que nascido
nem retrocede nem jaz.
O meu crédito é havido
e por meu jugo capaz
de ser o tecto banido
duma casa sem sentido
de só bolor pertinaz.
EM - PAUSA E POUSIO - JOÃO RUI DE SOUSA - DOM QUIXOTE
por este rio de tormenta
de nada serve o disfarce
de supor que o que se tenta
fosse luz que se alcançasse.
Por esta escarpa de vidro
por esta chuva lilás
reina bem dentro e escondido
esse lume que nascido
nem retrocede nem jaz.
O meu crédito é havido
e por meu jugo capaz
de ser o tecto banido
duma casa sem sentido
de só bolor pertinaz.
EM - PAUSA E POUSIO - JOÃO RUI DE SOUSA - DOM QUIXOTE
domingo, 3 de novembro de 2013
Foto nobre - JOSÉ ALBERTO OLIVEIRA
Não, não estou a sugerir
que a realidade não existe,
sugiro apenas que não tem mérito.
Rendo-me a toda a argumentação
em contrário e entrego,
como refém,
a fotografia da minha primeira comunhão:
aí estou eu, ignorando a miopia
e outros defeitos de fábrica,
apostado em cobrar dívidas.
Ainda que o consentissem,
não podia estar mais perdido
- por acaso podia, mas tal
ciência, como tanta outra,
ficou sepultada no negativo.
EM - TENTATIVA E ERRO - JOSÉ ALBERTO OLIVEIRA - ASSÍRIO & ALVIM
que a realidade não existe,
sugiro apenas que não tem mérito.
Rendo-me a toda a argumentação
em contrário e entrego,
como refém,
a fotografia da minha primeira comunhão:
aí estou eu, ignorando a miopia
e outros defeitos de fábrica,
apostado em cobrar dívidas.
Ainda que o consentissem,
não podia estar mais perdido
- por acaso podia, mas tal
ciência, como tanta outra,
ficou sepultada no negativo.
EM - TENTATIVA E ERRO - JOSÉ ALBERTO OLIVEIRA - ASSÍRIO & ALVIM
sábado, 2 de novembro de 2013
Queria chamar-te amanhecer - ROSA MARIA
Queria chamar-te amante... queria chamar-te amanhecer
Queria escrever um verso perfeito... chamar-te meu amor
Ser em ti o céu infinito... partir de mim e em ti anoitecer
Queria nos braços da madrugada ser o aroma duma flor
Queria regressar ao teu sorriso pelas veredas da saudade
Escrever-te um poema de amor e guardar-te todo em mim
Fazer do teu corpo o meu sonho... do teu olhar a eternidade
Nas tuas mãos meu amor entregar a minha alma nua de ti
Queria meu amor esquecer os medos e vestir-me de paixão
Envolver-te docemente no meu corpo... despida de mágoas
Doce como o luar... vestir-me de amor e renascer na ilusão
Ser uma estrela a iluminar a noite... o remanso das águas
Queria romper espaços... dançar ao som de acordes insanos
Ter a insanidade da paixão e a insensatez de uma criança
Saltar abismos... subir montanhas e esquecer os desenganos
Deixar enfim que a vida me envolva num mar de esperança
Queria ser um instante na madrugada... vestir a noite de desejo
Ser o tudo e o nada... uma música suave... um corpo de ternura
Dançar a valsa da solidão e prender o infinito num doce beijo
E rodopiar assim eternamente nos braços dolentes da loucura
Queria escrever um eterno poema de amor... de amor amante
Sereno como o silêncio das rosas e tão profundo como o mar
Que vestisse o meu corpo de maresia... apenas por um instante
Que perfumasse de pétalas de rosas este meu longo caminhar
EM - A ESSÊNCIA DAS COISAS - ANTOLOGIA - EDIÇÕES PAULA OZ
Queria escrever um verso perfeito... chamar-te meu amor
Ser em ti o céu infinito... partir de mim e em ti anoitecer
Queria nos braços da madrugada ser o aroma duma flor
Queria regressar ao teu sorriso pelas veredas da saudade
Escrever-te um poema de amor e guardar-te todo em mim
Fazer do teu corpo o meu sonho... do teu olhar a eternidade
Nas tuas mãos meu amor entregar a minha alma nua de ti
Queria meu amor esquecer os medos e vestir-me de paixão
Envolver-te docemente no meu corpo... despida de mágoas
Doce como o luar... vestir-me de amor e renascer na ilusão
Ser uma estrela a iluminar a noite... o remanso das águas
Queria romper espaços... dançar ao som de acordes insanos
Ter a insanidade da paixão e a insensatez de uma criança
Saltar abismos... subir montanhas e esquecer os desenganos
Deixar enfim que a vida me envolva num mar de esperança
Queria ser um instante na madrugada... vestir a noite de desejo
Ser o tudo e o nada... uma música suave... um corpo de ternura
Dançar a valsa da solidão e prender o infinito num doce beijo
E rodopiar assim eternamente nos braços dolentes da loucura
Queria escrever um eterno poema de amor... de amor amante
Sereno como o silêncio das rosas e tão profundo como o mar
Que vestisse o meu corpo de maresia... apenas por um instante
Que perfumasse de pétalas de rosas este meu longo caminhar
EM - A ESSÊNCIA DAS COISAS - ANTOLOGIA - EDIÇÕES PAULA OZ
sexta-feira, 1 de novembro de 2013
Vidas a eito estragadas - ANTÓNIO MR MARTINS
Balança enfim a corrente
que orienta os sentidos,
trajando de outra vertente
e nos toma por foragidos.
Surgem múltiplas contradições,
subtilezas noutros capítulos,
restando sempre as condições
para sorridentes títulos.
Sorteiam taxas sem nexo
e juros sem tempo de mora
numa cabala sem medida.
Baixam proventos em anexo,
sobem impostos a toda a hora
e estragam-nos assim a vida.
EM - MANIFESTO ANTICRISE - ANTOLOGIA - EDIÇÕES VIEIRA DA SILVA
que orienta os sentidos,
trajando de outra vertente
e nos toma por foragidos.
Surgem múltiplas contradições,
subtilezas noutros capítulos,
restando sempre as condições
para sorridentes títulos.
Sorteiam taxas sem nexo
e juros sem tempo de mora
numa cabala sem medida.
Baixam proventos em anexo,
sobem impostos a toda a hora
e estragam-nos assim a vida.
EM - MANIFESTO ANTICRISE - ANTOLOGIA - EDIÇÕES VIEIRA DA SILVA
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