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Ah! As noites brancas na Rússia!
Não poderia descrevê-las com minúcia!
É tanta coisa miúda, ninharia, insignificância,
Que tudo perde-se em primeira instância.
O solstício declina do boreal
Ao austral,
Desviando o rumo, afastando-se do Equador,
Como se despetalasse uma flor.
Só aí um branco cor da neve, do leite, da cal,
Apossa-se de tudo como se fosse um vendaval!
Nesses dias de noites sem treva, escuridão,
Uivam, alto, os lobos com suas vozes de cão!
Numa noite dessas,
Fui estar às pressas,
Num solar bolchevique
Muito chique,
Em companhia...
Quem diria!
De Lev Nikolaievitch Tolstoi,
O grande romancista!
Fiquei a observá-lo com cara de normalista,
Como se estivesse a estudar um ser superior,
Uma espécie de professor
Que ensina o plano sem fazer a curva
Mas, calça a luva.
Sentados, ambos, à cabeceira de ovalada mesa larga
Obumbrava-nos uma sombra parda...
Tivemos uma conversa inteligente
Que só tem pouca gente.
Pouco falei,
Mais pensei!
Não quis interdizer,
Sequer dizer.
Nossa comunicação, trato,
Foi inato.
Ele falou de política, literatura, amor...
E eu dirigi-lhe a palavra com ares de interlocutor.
Disse-lhe já estar sentindo saudades de Moscou,
Da antiga São Petersburgo, de Stalingrado,
Com seu gélido agrado!
O autor de Ressurreição, de Crime e Castigo,
Sentenciou todas as mulheres, ao falar comigo:
“Todas vocês tem em si uma Anna Karenina!”
Ante essa verdade, só olhei-lhe
Como assustada menina!
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