O cão - João Melo

O

Cão

pontapeado

plo dono

lambe-lhe as botas

Homem

servil

é cão

supracitado

EM - EXERCÍCIOS E LINGUAGENS - JOÃO MELO - CAMINHO

Sonhos - Alexandra Conduto

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA

Conheçam a In-Finita neste link

Alimentei sonhos

Feitos de papel de fantasia

Onde as cores brilhantes iludiam os meus dias.

Quis ser luz

Tornei-me escuridão.

Quis ser rocha, pedra sólida, agarrada ao chão

Mas a vida fez-me areia fina

Sem peso, sem forma.

Quis ser dia

Transformei-me em noite cerrada

Sem lua cheia.

Em madrugada sem estrela d’alva.

Quis ser a imensidão do mar

Mas fui tão só maré vazia.

Quis ser gente, alguém

Adjetivo, palavra, significado

Mas fui frase sem sentido, sem forma verbal.

Alma, por infortúnio, concebida.

Quis ser sol, calor ameno

Tornei-me chuva fria, tempestade.

Em mim, já nada faz sentido

Deixei que a vida me engolisse, me devorasse

E, sem pedir licença, me aniquilasse.

EM - ENTRE VIDAS - ALEXANDRA CONDUTO - IN-FINITA

Dois mil e cem - António Soares Ferreira

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA

Conheçam a In-Finita neste link

E os pulmões eram cheios de ar poluído que

nos intoxicavam o corpo e a alma.

E a água estava repleta de poluentes que

eram despejados no mar tomando proporções

cada vez maiores pondo em causa todo o ecossistema.

A terra era fertilizada com pesticidas cada vez

mais prejudiciais, pondo em risco a saúde publica.

E em benefício e interesses financeiros não

havia pejo em mandar incendiar milhares

e milhares de hectares de terra para que mais

facilmente se obtivessem os fins pretendidos.

Fogo, ar, terra e mar. E assim eram postos em causa

os quatro elementos essenciais à vida na terra.

O progresso desenfreado com a desculpa de

proporcionar maior e melhor conforto à vida

humana, estava a causar cada vez mais a destruição

do equilíbrio necessário para que o meio ambiente

conseguisse “responder” positivamente às alterações

que lhe eram impostas.

Hoje, no ano de Dois mil e cem, o planeta está moribundo,

vítima de tanta irresponsabilidade.

Devemos mudar o rumo.

Já.

EM - APENAS PALAVRAS E OUTROS CANTOS - ANTÓNIO SOARES FERREIRA - IN-FINITA

Margem indizível - Rosário Pedroso

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA

Conheçam a In-Finita neste link

Agora germina a dor daquelas horas breves…

Rego as flores.

No olhar da praia fomos dois passantes esmaecidos

dois parentes distantes a aproveitar da espuma

o sonho que não levedou.

Assim nasceu a margem indizível

os rápidos levam-me as mãos dos canaviais esfuziantes

a transgressão de ser eu modela a pedra

onde um mar ténue descansa.

Há um corpo de abundância

um silêncio em sangue

nas linhas que bordam o sentido imparável dos instantes

levam-me à distopia

um horizonte vulnerável diz que as tuas palavras nunca

chegaram.

Maravilham-se os olhares com o esforço das rosas

no sossego da mágoa.

Tremem plantações voláteis de eterno

mãos cansadas a tocar os fenos

o delito intemporal e breve.

EM - ROSÁRIO PEDROSO - ANTOLOGIA - IN-FINITA

Ode aos covardes - Maya Falks

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA

Conheçam a In-Finita neste link

Eles tinham armas

Ela, bravura

Eles eram covardes

Ela, destemida

Somente covardes usam de pólvora para silenciar

A boca de quem nunca teve medo de gritar

Eles vieram armados até os dentes

Enquanto ela, ela, ela, de cabeça erguida

Se não a temessem tanto, não usariam armas

Eles, covardes, apertaram seus gatilhos

Palmas aos covardes assassinos

Que sujaram as mãos de sangue

Para calar a luta de uma mulher guerreira

E acabaram a tornando eterna

EM - ELAS E AS LETRAS: SEMENTE, PRESENTE - UM LIVRO PARA MARIELLE FRANCO - COLETÂNEA - IN-FINITA

Não me esqueças, amor… - Joaquina Raimundo

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA

Conheçam a In-Finita neste link

Tu és sonho meu, sonhado na noite calma,

Que com o passar do tempo não se fez dor,

És um ser nobre, és a genuína gémea alma

De mim, que assim te sonhei só por amor!

Desde cedo amoroso que te idealizei,

Sempre soube que o meu coração era teu

E porque te sonhei sempre como meu

Em todos os sonhos feliz te encontrei!

Sempre p`ra mim sorriste e eu p`ra ti sorri,

Talvez porque, amor, ao olhar-te enlouqueci,

Talvez porque ao olhares-me enlouquecesses!

Sonhei também o teu sonho intemporal,

Comigo, e senti que para mim o pior mal

Seria se, de me sonhares, te esquecesses!

EM - PARA AMAR NÃO HÁ LIMITES - JOAQUINA RAIMUNDO - IN-FINITA

Caminhos - Alexandra Conduto

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA

Conheçam a In-Finita neste link

Abri caminhos em redor de mim.

Acabei cercada

Por atalhos, por labirintos sem fim.

Perdi-me.

Perdi-me nas encruzilhadas

Nas ruas desertas

Nas vielas incertas

Por onde me meti.

Senti que o mundo me engolia

A cada passo que dava.

A estrada, ao meu redor, se fechava

Mais e mais, a cada dia.

Acabei perdida, sozinha

E sem rumo na vida.

Sem força suficiente para continuar

Desisti de caminhar

Entreguei-me ao devaneio

Ao mero deambular...

EM - ENTRE VIDAS - ALEXANDRA CONDUTO - IN-FINITA

Aparências - António Soares Ferreira

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA

Conheçam a In-Finita neste link

O mar estava calmo…, a praia deserta.

No céu, azul cheio de luz, uma nuvem ao longe.

A pouca distância, um casal de namorados passeava

junto à água.

Mais à frente, um jovem brincava com o seu cão, 

atirando-lhe uma bola que este, lesto, se apressava

a trazer-lhe e o movimento repetia-se.

Ao fundo, avistava-se o penhasco do Cabo Espichel 

envolto numa pequena neblina.

Eu, sentado na areia, ia conjugando umas palavras

na folha branca, tentando que elas fizessem algum sentido.

De repente reparei que no mar, ao longe, uma barcaça 

regressava do mar alto, e a avaliar pelo bando de gaivotas 

que a acompanhavam, esta devia trazer algum peixe

nas suas redes.

Esperei que chegasse e puxassem as redes e então vi 

aqueles homens com as caras e as mãos cheias de peles 

secas e gretadas pelo sol, o sal e a dureza do mar.

Vi aqueles olhos que já não tinham o brilho de outrora, 

perdido junto com a fé e a esperança de uma vida menos cruel.

Vi homens que faziam do mar a sua vida, empurrados 

por uma força que nunca vemos, mas que não nos deixa 

avançar para uma vida melhor.

Homens que faziam da sua sina a sua “sorte”.

Foi então que percebi como é difícil lutarmos para sobreviver.

EM - APENAS PALAVRAS E OUTROS CANTOS - ANTÓNIO SOARES FERREIRA - IN-FINITA

O brilho do mistério - Rosário Pedroso

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA

Conheçam a In-Finita neste link

Hoje choro

a tua voz

no colo do nevoeiro

não sinto as palavras

na boca das horas

interdito na primavera.

Visto-me de poeiras

sorvo as lamas

para dar à indelével

cascata das estrelas

no leito dos vales

o brilho do mistério.

EM - ROSÁRIO PEDROSO - ANTOLOGIA - IN-FINITA

Quadra - João Melo

Por que me pedes explicações?

Como explicar o que se faz por ser sentido?

Não pode ser interpretado nem medido

o porquê que explica as nossas paixões.

EM - EXERCÍCIOS E LINGUAGENS - JOÃO MELO - CAMINHO

Presa pelos teus olhos - Joaquina Raimundo

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA

Conheçam a In-Finita neste link

O teu olhar, amor, que encantamento!

Surpreendente fascínio em mim deixou!

Seduzido pelo seu deslumbramento

Preso para sempre o meu coração ficou!

Presa a um homem e feliz sorrindo

Assim, a vida inteira, amor, é loucura!

Como pode haver na prisão doçura

Por um olhar, embora assim tão lindo?

Trago esse olhar, em mim, em segredo

E digo-te, meu amor, muito a medo

Que também estás preso na verdade!

Pois, porque te queria ter junto de mim,

Para olhar para os teus olhos até ao fim,

Prendi-te nos meus versos em liberdade!

EM - PARA AMAR NÃO HÁ LIMITES - JOAQUINA RAIMUNDO - IN-FINITA

Só o tempo - Alexandra Conduto

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA

Conheçam a In-Finita neste link

Só o tempo poderá dizer

O que o coração ainda não pode saber

Porque o que o destino escreveu

Ainda ninguém leu.

Porque o amanhã ainda não nasceu

E hoje ainda não anoiteceu

Por isso o dia ainda não terminou.

Nascemos todos diferentes

Mas todos iguais

Uns com menos

E outros com mais.

Nascemos nus de vestes

Despojados de pensamentos vãos

Sem juízos de valor

Sem malícia ou preconceitos

Sem mágoas e sem dor.

O que apenas trazemos

É uma fome imensa de amor.

EM - ENTRE VIDAS - ALEXANDRA CONDUTO - IN-FINITA

Éden - António Soares Ferreira

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA

Conheçam a In-Finita neste link

Foi no “Éden” da vida que te conheci.

Trazias a pureza de uma pomba,

os olhos que brilhavam com tanta alegria,

a boca, de onde brotavam lindas palavras,

esse nariz empertigado de quem já sabe o que quer.

As mãos finas com que transmitias afeto.

Os braços que se abriam com ternura.

E os seios, os seios que demonstravam

toda a beleza da tua juventude, onde por

vezes tocavam os teus longos cabelos quando

o vento soprava uma brisa mais atrevida.

Eu acho que o vento fazia de propósito.

Gostava daquele “jeans” que trazias, bem justinho

ao corpo salientando as tuas curvas de mulher.

Tantas promessas juramos, tantas loucuras fizemos,

tanto vivemos e rolamos por essas estradas da vida.

tantas barreiras quebrámos, tantos obstáculos

deitamos por terra, tantos objetivos a que nos

propusemos foram ultrapassados.

No entanto, tal como Adão e Eva no “Éden”,

também nós pecámos e deitámos tudo a perder.

Hoje, resta-me a vã esperança de não te ver morrer,

Liberdade.

EM - APENAS PALAVRAS E OUTROS CANTOS - ANTÓNIO SOARES FERREIRA - IN-FINITA

A praia indefinida - Rosário Pedroso

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA

Conheçam a In-Finita neste link

O sal entranha-se

como a tua voz numa redoma

e o azul esbate-se pela campânula

entre as vozes valentes

da praia indefinida

onde plana um perfume de família.

Mergulho, aguardo o silêncio esbelto

de uma epidemia de não sentidos.

É junto ao mar que me desarrumo

nos dias impessoais

na lâmina do sonho.

Viajo sem um aceno

vai longe o lenho

dos mastros inefáveis

que amaram instintos de estepe

numa sensibilidade de gazela

que se alagam de saudade.

EM - ROSÁRIO PEDROSO - ANTOLOGIA - IN-FINITA

Sutileza - Ila Nunes

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA

Conheçam a In-Finita neste link

Carro apertado,

homem discreto do meu lado,

toque sutil em meu seio.

Será que eu senti direito?

Ou minha história que pregou uma peça?

O corpo mulher tem dessas,

vê culpa até onde não tem

EM - ELAS E AS LETRAS: SEMENTE, PRESENTE - UM LIVRO PARA MARIELLE FRANCO - COLETÂNEA - IN-FINITA

Amor, és o meu sonho! - Joaquina Raimundo

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA

Conheçam a In-Finita neste link

Meu querer erguido ao céu em oração!

Amor de sonho, meu doce encanto,

Deixa-me encontrar-te na perdição

De te amar por te querer assim tanto!

Os dois, num sonho infindável, somente!

Deixa-me seguir-te, a vida toda, amor,

Para que este coração sonhador

Possa viver sonhando eternamente!

Deixa-me, meu grande amor sonhado,

Perseguir este meu desejo encantado,

Numa viagem infinita, sem idade!

Deixa-me, amor, seguir o teu caminho

P`la vida fora, a sonhar devagarinho,

Para que o sonho dure até à eternidade!

EM - PARA AMAR NÃO HÁ LIMITES - JOAQUINA RAIMUNDO - IN-FINITA

Não falemos - Alexandra Conduto

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA

Conheçam a In-Finita neste link

Não falemos das vontades secretas

Que nos assaltam a mente

E que nos ficam a ferro e fogo

Vincadas na imaginação.

Não confessemos os arrebates de desejos

Da fome lasciva de beijos

Nos lábios trémulos e húmidos de prazer.

Não mencionemos os suspiros abafados

E os gemidos calados

No fundo da garganta encerrados.

Aquietemos as mãos trémulas

De vontade louca de nos tocar

Na ânsia de nos despirmos

No desespero de nos possuirmos.

Guardemos, para sempre e só,

As nossas vontades secretas

Nas nossas almas inquietas...

EM - ENTRE VIDAS - ALEXANDRA CONDUTO - IN-FINITA

Olhar de criança - António Soares Ferreira

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA

Conheçam a In-Finita neste link

Eu queria ver o mundo

Com os olhos de uma criança

Só queria ver o que é belo

E não o que a vista alcança.

Ver os animais num prado verde

A luz que “traz” a Primavera

E não a dor que a guerra traz

Onde a morte está à espera.

As cores do arco-íris

Nos céus onde as aves esvoaçam

E não a hipocrisia dos homens

Onde o ódio e a vingança se entrelaçam.

Ver o sorriso de outro menino

Crescer junto de outros sem olhar à cor

E não a miséria que prolifera p`lo mundo

Onde só existe pobreza e dor.

Ver os mares límpidos e com vida

Onde todos pudéssemos desfrutar

E não os negócios das drogas e armas

Cujo único objetivo é vidas destroçar.

O homem tem de ser forte

E em conjunto encontrar a solução

O mundo deve ser unido

E transformar-se numa só nação.

EM - APENAS PALAVRAS E OUTROS CANTOS - ANTÓNIO SOARES FERREIRA - IN-FINITA

No metro - Rosário Pedroso

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA

Conheçam a In-Finita neste link

Com o odor a óleo do metro

chega também o frio das gigantescas árvores

solitárias, estoicas ao esgalharem-se.

Os subterrâneos da cidade são funcionais

porém é no asfalto diurno que surgem os ideais cosmopolitas

que encenam a quimera das folhas das rosáceas.

Vale a pena a cidade com todas as gentes

um emaranhado de vidas

alimentadas pelas árvores

agarradas à aurora

bem como as águas azuis

que tocam os ventres

e os inundam de sol.

Nas ruas de sempre

a claridade rebenta

na pele, nos olhares.

EM - ROSÁRIO PEDROSO - ANTOLOGIA - IN-FINITA

Marielle Franco - Maria Mariá

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA

Conheçam a In-Finita neste link

Não me chame de mulata,

Porque não sou mula.

Me chame de negra, pretinha,

Mas não sou mulata.

Sou forjada com sangue

De minha ancestralidade

Onde seu cativeiro foi a senzala.

Me chame de Marielle Franco,

De Chica da Silva,

De Dandara dos Palmares,

De Tereza de Benguela,

Mulheres que lutaram por liberdade.

Me chame de Carolina Maria de Jesus,

De Maria Firmina dos Reis.

Sou todas negras que

Procuraram seu caminho e

Anseiam por liberdade, igualdade e

Dignidade.

EM - ELAS E AS LETRAS: SEMENTE, PRESENTE - UM LIVRO PARA MARIELLE FRANCO - COLETÂNEA - IN-FINITA

Para não morrer de saudade - Joaquina Raimundo

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA

Conheçam a In-Finita neste link

Nesse dia de imensa felicidade

Em que vi pela primeira vez o meu amor

Perdi a minha alma para a eternidade

Nas asas estendidas de um condor!

E porque o coração dessa ave bonita

É lindo e está por mim apaixonado

O meu coração pelo seu palpita

Sempre que recordo o seu voo alado!

Mesmo quando for já bem velhinha

Não esquecerei a ternura que tinha,

Alegria que ainda hoje me invade!

Vou guardar da ave esse momento

Sempre a pairar no meu pensamento

Para não morrer por ela de saudade!

EM - PARA AMAR NÃO HÁ LIMITES - JOAQUINA RAIMUNDO - IN-FINITA

Beijo desejado - Alexandra Conduto

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA

Conheçam a In-Finita neste link

O beijo tão desejado

De prazer revestido

No desejo secreto concebido

De coração aberto recebido.

Doce licor embriagante

Dos sentidos.

Veneno de desejo reprimido

Do corpo proibido

Que para ti

Mais não foi

Do que um momento passageiro

Um sopro de ventania

No escurecer de um final de dia.

Nada mais significou

Para além

De um assomo de vaidade

Um suspiro de leviandade

Um sentimento vazio

De um desejo frio.

EM - ENTRE VIDAS - ALEXANDRA CONDUTO - IN-FINITA

Os cinco sentidos - António Soares Ferreira

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA

Conheçam a In-Finita neste link

Não chorem por mim quando eu morrer

Não valho tanto

Pois se o que fiz na vida

pouco ou nenhum valor tem.

Se o que da vida levo se resume

áquilo que vi, que ouvi, que senti,

que cheirei e toquei.

Vi o mar imenso

onde navegavam caravelas,

ouvi o vento roçar

nas suas velas,

cheirei o sal que se misturava

nessas belas,

toquei nas amarras

e senti as suas farras.

Vi uma mulher

que labutava pelos campos,

ouvi o bailar das searas

ao sabor dos ventos,

cheirei o trigo

com que fazia o pão,

toquei no filho

que levava pela mão,

senti-lhe o gosto

quando lhe dei um beijo.

E muito, muito, muito mais eu vi,

e ouvi, e senti, e cheirei, e toquei.

No entanto, sou apenas uma ave que

voou, e viu, e ouviu, e sentiu, e cheirou

e tocou em tudo por onde andou, simples.

Por tudo isto, não chorem por mim quando eu morrer

EM - APENAS PALAVRAS E OUTROS CANTOS - ANTÓNIO SOARES FERREIRA - IN-FINITA

Um rosto de vento - Rosário Pedroso

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA

Conheçam a In-Finita neste link

Por vezes, apareces no odor a pinheiro molhado

ondeias pelo pessegueiro que não deu frutos

planas sobre as árvores secas

livres para o canto límpido dos pássaros

na hora do aparecimento festivo do melro.

Um rosto de vento junto às laranjas amadurecidas!

Surges em primeiro plano no final da meditação

como um frio íntimo

um embaraço da calmaria.

Apenas a ausência de zimbros

só penumbras difíceis, escadeadas

terrenos cacimbados, lamas

a drapear a perplexidade da chuva.

EM - ROSÁRIO PEDROSO - ANTOLOGIA - IN-FINITA