quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Despedida - VÍTOR CINTRA

Com nobreza me ensinaste
O que é ser homem de bem
Em terra que, por contraste,
Não dá valor a ninguém.

Nos teus olhos um sorriso,
Meu amigo, bom velhinho,
Mostra mais do que preciso
P'ra saber do teu carinho.

Na hora da despedida,
Venho agradecer-te a vida
E o teu amor paternal.

E dizer-te que é subida
A honra de ter vestida
a farda de Portugal.

EM - AO ACASO - VÍTOR CINTRA - LUA DE MARFIM

quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Aspiração - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

Já não queria a maternal adoração
que afinal nos exaure, e resplandece em pânico,
tampouco o sentimento de um achado precioso
como o de Catarina Kippenberg aos pés de Rilke.

E não queria o amor, sob disfarces tontos
da mesma ninfa desolada no seu ermo
e a constante procura de sede e não de linfa,
e não queria também a simples rosa do sexo,

abscôndita, sem nexo, nas hospedarias do vento,
como ainda não quero a amizade geométrica
de almas que se elegeram numa seara orgulhosa,
imbricamento, talvez? de carências melancólicas.

Aspiro antes à fiel indiferença
mas pausada bastante para sustentar a vida
e, na sua indiscriminação de crueldade e diamante,
capaz de sugerir o fim sem a injustiça dos prémios.

EM - ANTOLOGIA POÉTICA - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE - RELÓGIO D'ÁGUA

terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Minha dor - JOSÉ MOURA

LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO PELA EDITORA

O calor do teu corpo que me aquece
É como o sol do Verão que me dá calor
É como o gelo de Inverno que me arrefece
E a tua alegria apaga a minha dor.

Tento fazer bem e não sou capaz.
Ando vagueando só na penumbra do horizonte
A noite escura... nem sombra faz!
Assim vagueio de monte em monte.

Tanto que gostava de ser poeta
Mas falta-me o dom inspirador
Há tanta gente neste planeta
Que não sente a minha dor.

EM - PALAVRAS QUE DIZEMOS... - JOSÉ MOURA - UNIVERSUS

segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Soneto - MANUEL BANDEIRA

No ermo da mata o som da trompa ecoa,
Vem expirar embaixo da colina.
E uma dor de orfandade se imagina
Na brisa, que em ladridos erra à toa.

A alma do lobo nessa voz ressoa...
Enche os vales e o céu, baixa à campina,
Numa agonia que à ternura inclina
E que tanto seduz quanto magoa.

Para tornar mais suave esse lamento,
Através do crepúsculo sangrento,
Como linho desfeito a neve cai.

Tão brando é o ar da tarde, que parece
Um suspiro do outono. E a noite desce
Sobre a paisagem lenta que se esvai.

EM - ANTOLOGIA - MANUEL BANDEIRA - RELÓGIO D'ÁGUA

domingo, 27 de dezembro de 2015

Maqueta de vida - LISETTE ALVARINHO

LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO PELA EDITORA

Mancha azul que tomou forma
E consentiu,
Duas pernas e dois braços
Sem tamanho.
Uns olhos que ainda fechados
Já doíam.
Um cérebro que não parou
De crescer.
Um ventre que concebeu
Outra mancha,
Tão parecida e tão diferente.
Um sorriso grave que consente
Lágrimas de cristal sobre esse ventre
Que cresceu neste mundo já doente.

EM - TRANSPARÊNCIAS - LISETTE ALVARINHO - UNIVERSUS

sábado, 26 de dezembro de 2015

Cegueira - ROSAMAR

LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO PELA AUTORA

cega persigo os teus passos
que sinto como abraços
que sinto como estilhaços
de amor, de dor, de paixão...

são como aves feridas
como sortes desvalidas
criadas na perfeição
p'ra fazer sorrir de novo
os meus lábios que pouso
numa imensa solidão...

a ferida que virá,
a dor que abrasará,
o prazer que explodirá,
neste morto coração
apenas a mim caberá
enterrar e resolver
apenas a mim caberá
escolher a ilusão
de viver cega, e a ver
os teus passos a ceder
a voltares ao teu querer
eu?
a viver na escuridão...

EM - GUARDADO EM MIM - ROSAMAR - EDIÇÕES OZ

sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

Fundo do mar - SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN

No fundo do mar há brancos pavores,
Onde as plantas são animais
E os animais são flores.

Mundo silencioso que não atinge
A agitação das ondas.
Abrem-se rindo conchas redondas,
Baloiça o cavalo-marinho.
Um polvo avança
No desalinho
Dos seus mil braços,
Uma flor dança,
Sem ruído vibram os espaços.

Sobre a areia o tempo poisa
Leve como um lenço.

Mas por mais bela que seja cada coisa
Tem um monstro em si suspenso.

EM - ANTOLOGIA MAR - SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN - CAMINHO

quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Corpos - SUSANA MAURÍCIO

LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO PELA AUTORA

Entre beijos e abraços,
nossos corpos transpirados,
movem-se ao ritmo do amor,
voluptuosos de desejo.

Sussurros murmurados,
sabores alucinantes
de nossos poros enlaçados,
aromas de amantes.

Paixão, desejo, amor.
Toques com mestria
de quem sabe transpor,
a rotina... em ousadia.

Teu corpo... meu corpo,
em plena ebulição,
ardem... e não há sopro
que pare esta sedução.

O vulcão se acalmará,
quando entrar em erupção.
A ternura a nós chegará
no sentir do coração.

EM - DELÍRIOS ERÓTICOS - SUSANA MAURÍCIO - UNIVERSUS

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Clara - CECÍLIA MEIRELES

Voz luminosa da noite,
feliz de quem te entendia!
(Num palácio mui guardado,
levantou-se uma menina:
já não pode ser quem era,
tão bem guarnida,
com seus vestidos bordados,
de veludo e musselina;
já não quer saber de noivos:
outra é a sua vida.
Fecha as portas, desce a treva,
que com seu nome ilumina.
Que são lágrimas?
Pelo silêncio caminha...)
Um vasto campo deserto,
a larga estrada divina!
Ah! feliz itinerário!
Sobrenatural partida!

EM - ANTOLOGIA POÉTICA - CECÍLIA MEIRELES - RELÓGIO D'ÁGUA

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Lágrima - PAULA OZ

LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO PELA EDITORA

Escuta...

Sentes as minhas lágrimas?
já não oiço a valsa das palavras...

Apaixonada
tu, uma sombra do meu desejo
e de tudo resta o nada
solitária, chora a boca pelo beijo

Fazes-me falta!
o que faço com este amor que sinto?

Perdi-me no meu próprio labirinto
ardem-me as mãos
já não sei pintar o teu sorriso
(não, não, não! Não minto)

Escuta-me...
(perto do rio, navego sem calma)

É a voz da minha alma

EM - DO SILÊNCIO E DA PELE - PAULA OZ - EDIÇÕES OZ

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Agitação - JOAQUIM MONTEIRO

LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO PELA EDITORA

Tenho em mim a agitação do tempo
O leve fulgor das açucenas
O novelo das camélias enternece-me
E sou uma folha ao sabor do vento.

Descendo a rua nua e fria
Que se aflora ao pensamento
Sou folha de um livro qualquer
Que alguém arrancou, sem um lamento.

Em turbulência me sinto com as sombras
Que a lua desperta nos pinheirais
Mas também agitado na noite fico
Se teus seios passam por mim como vendavais.

EM - NA TUA BOCA... - JOAQUIM MONTEIRO - UNIVERSUS

domingo, 20 de dezembro de 2015

Horta - VÍTOR CINTRA

Nascestes ao redor da Santa Cruz,
Ermida que, por fé, um nobre ergueu,
Mas dito foi ao Duque de Viseu,
Que irias ter o centro em Bom Jesus.

Atrás, no teu passado, há morte, dor,
Piratas, roubos, vãs profanações,
Barbárie sem sentido, execuções,
Soldados chacinados, o terror.

Viveu a tua gente o desconforto.
P'ra quem o mar navega fez um porto,
Abrigo na tormenta e na maré;

Local onde encontrar navegadores,
Marina ornamentada dos Açores;
Correio a dizer: «Peter's Café».

EM - MEMÓRIA DAS CIDADES - VÍTOR CINTRA - TEMAS ORIGINAIS

sábado, 19 de dezembro de 2015

O seu olhar - DAVID MARQUES

Está linda com esse penteado...
e o olhar buscando no infinito, no além!
Fica linda mesmo de cabelo rapado,
de qualquer maneira... é linda como ninguém!

Só de ver esse lindo postal,
a imaginação despertou saudades mil...
Eu vivo aqui neste pequenino Portugal
e você, desfruta esse imenso Brasil.

Dizem que a expressão do olhar
é o espelho da alma escondida...
Que revela a natureza do coração a palpitar...

Que incansável, rega o corpo e dá-lhe vida.
Nesse espelho gostaria de espreitar,
distante amiga, tão distante... mas tão querida.

EM - MENSAGEIRO DA ALMA - DAVID MARQUES - CHIADO EDITORA

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Sentidos falhados - VIRGÍLIO CARNEIRO

Olho em redor mas não sei da realidade!
Escuto mas só oiço o silêncio do ruído!
Tacteio mas apenas encontro máscaras!
Saboreio mas quase só tenho gosto amargo!
E o cheiro que me inunda quase sempre é pestilento!

Sociedade sem sentido é amálgama.
Na amálgama perdemos os sentidos!
Sem sentidos escapa-nos a realidade.
Esvaída a realidade, resta, frágil, a quimera...
que dorme, sonhando, num limbo de fadas...

- Destroços duma sociedade sem alma!

EM - SONETOS SEM CHAVE E OUTRAS MÁGOAS - VIRGÍLIO CARNEIRO - EDITORIAL NOVEMBRO

quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Bagagem - DULCE GUARDA

LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO PELA EDITORA

Bagagem de uma vida
Amarga e sofrida.
Bagagem cheia de nada,
De velharias, já gasta.

Sonhos perdidos,
Esquecidos no tempo,
Pesadelos tão reais,
Como o medo que me assola.

Dias passados,
Dias carregados
De vida, de dor,
Alegria e pavor...

Bagagem cheia,
Atolada, farta.
Bagagem entorpecida.
Bagagem esquecida.

EM - MOMENTOS - DULCE GUARDA - CHIADO EDITORA

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Presa - ÂNGEL MAGALHÃES

LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO PELA EDITORA

Quero ser tua musa
dona e gueixa
do teu corpo
que me sacia
sou perigosa
com toda a fúria
vou-te sugar
vais implorar
vou-te beijar
vais delirar
vou-te amar
vais adorar
vais ser devorado
amarrado
coito selvagem
és minha presa
unhas que te arranham
galopando em ti
gritos, gemidos
quero teu falo que me domina
sensacional
banho de prazer
quero o teu olhar
não vais escapar
ao meu desejo
impudico e felino
quero de ti
um orgasmo
final
sou
imparcial.

EM - PECADOS NAS ASAS DO DESEJO - ÂNGEL MAGALHÃES - EDIÇÕES OZ

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

farol - JOÃO CARLOS ESTEVES

chamo-te
na distância que o vento traz

faço do corpo enseada
para em mim fundeares

e esqueceres

a fadiga da lonjura
nos horizontes que não sou

EM - INVENTEI-TE AS MANHÃS - JOÃO CARLOS ESTEVES - CHIADO EDITORA

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

É tempo de magia* - VÍTOR CINTRA

É tempo de magia!

Lá do alto,
as estrelas acendem o sorriso
que habita o teu rosto
e derramam-no,
em doses de ternura,
na alma, carente mas embevecida.

Magicamente!

EM - NAS BRUMAS DA MEMÓRIA - VÍTOR CINTRA - TEMAS ORIGINAIS

domingo, 13 de dezembro de 2015

Tesoiro - ALBERTO BASTOS

LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO PELA EDITORA

O teu nome é tão lindo,
Atrai-me o teu olhar!
Sei bem onde estou indo,
Meu autodomínio é findo
E assim tenho de falar:

Teu nariz arrebitado,
Boquita cor de cereja,
Aquele já contipado
Põe-me tão preocupado...
Diz: quando dás outro beijo?

E o teu belo cabelo?!
Tão sedoso, tão alourado!...
Sabes? Guardo postal, selo
E quero teu amor, tê-lo,
Como tesoiro sagrado!

EM - ALGUÉM - ALBERTO BASTOS - CHIADO EDITORA

sábado, 12 de dezembro de 2015

Vivemos num limbo - MANUELA PASSARINHO

LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO PELA EDITORA

De rara beleza,
onde o que interessa
não é libertarmo-nos dele,
mas saber retirar
o máximo partido
da serenidade
que ele nos brinda!

O Limbo
é o quase abandono
que ele nos impõe
não é mais
que a libertação do velho
para dar lugar
a um novo Eu!

EM - EM POESIA VOS AMO + EM RETRATOS DA VIDA VOS ENTENDO - MANUELA PASSARINHO - EDIÇÕES OZ

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Traição - ANTÓNIO MR MARTINS

Nas marés do olhar profundo
Se sentenciou por defeito

Como estamos neste mundo
Que nada tem de escorreito

O juiz que é barrigudo
Aponta para o seu chapéu

Não declina seu ar sisudo
Perante a apatia do réu

Ele que está espantado
Por tudo o que de si se diz

Encontra-se desencontrado
Não é mais senhor do seu nariz

A imprensa já manifesta
As coisas que nunca fez

E o povo agora atesta
Que ele não é boa rês

Vem o advogado em defesa
De algo que não resolve

É chegada a certeza
Do mal que o envolve

Nas marés do olhar moribundo
Foi acusado daquele jeito

Na passagem de um segundo
Por um amigo do peito

EM - MÁSCARA DA LUZ - ANTÓNIO MR MARTINS - TEMAS ORIGINAIS

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Queria - NUNO MIGUEL MIRANDA

LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO PELA EDITORA

Queria...
Aquele abraço que não demos...

Aquele beijo...
Em que os nosso lábios não se tocaram

O toque...
Que não foi sentido pelo meu corpo no teu

A palavra sussurrada ao ouvido...
Que não escutei

A noite...
Que não chegou

Aquele momento...
Que não tivemos

Queria...
Queria ter-te...

EM - PARVOÍCES DE UM SONHADOR - NUNO MIGUEL MIRANDA - UNIVERSUS

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Escolhas - BELMIRO BARBOSA

LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO PELA EDITORA

Tudo o que queremos, está por perto?
Gosto de ter dois caminhos e olhar,
Nem sempre percorremos o mais certo,
O que melhor faço é depois de errar.

Enquanto ser animado só posso
Manter as minhas defesas e o alerta.
Um pouco do meu íntimo sempre endosso
À criatura pobre e dose certa.

Melhor era eu não ter de decidir,
Pior, alimentar as confusões,
Sempre que tenho que optar e abstrair.

Ao escolher, sei que as preocupações
Não terminarão, podem aumentar,
Daí a fatalidade não esperar...

EM - SÓ CEM SONETOS - BELMIRO BARBOSA - CHIADO EDITORA

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Cansei - ALICE SANTOS

LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO PELA AUTORA

Cansei!
Cansei a minha complicada cabeça,
Feita de pensamentos Inventados,
Paridos à força e banalizados.
Cansaram-se as mãos de escrever
Poemas e textos encravados.
Cansou-se a vida enfadada de mim,
Não quero pensar, nem estar assim.
Cansei a máquina de escrever,
A caneta, nem mais tinta tem,
Cansei o papel de chorar tanto ao ler
O que não lia mais ninguém.
Cansei da amargura e da dor
Cansei de escrever sobre o amor,
Não quero mais ser escritora ou poeta
Nem as mãos já sentem o papel e caneta.
Cansei e não quero pensar mais,
Preciso descansar os pensamentos
Torná-los bons, úteis e reais.
Então quando voltar a escrever
Que seja por me ter encontrado
Sentir-me um novo ser
Simples e renovado.

EM - FRUTOS VERMELHOS - ALICE S - EDIÇÕES VIEIRA DA SILVA

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

A miséria deste tempo - JOSÉ JORGE LETRIA

Os jornais gostam de sangue,
de uma forma excessiva e obscena,
porque sabem que as pessoas também gostam
e que mesmo quando fingem tapar os olhos,
por repugnância ou por pudor,
é sempre e só isso que querem ver,
matreiramente perseguindo
o líquido fio vermelho que brota
da ferida, da boca entreaberta, da cratera
escancarada pelo ferro ou pela queda.

Os jornais, todos os jornais
de uma maneira ou de outra,
trabalham hoje para o consumo,
para o gosto rafeiro da maioria
que compra, que paga, que se vende,
que apodrece no lamaçal do óbvio.

Eis a miséria moral do nosso tempo,
correndo atrás da própria cauda,
em intermináveis círculos,
enquanto alguns poetas, sempre os mesmos,
continuam a escrever defronte do espelho
só para se lembrarem de quem amam.

EM - NÃO HÁ POETAS FELIZES - JOSÉ JORGE LETRIA - INDÍCIOS DE OIRO

domingo, 6 de dezembro de 2015

Joanina - VÍTOR CINTRA

Enquanto na Ibéria se temia
Castela, por ser reino poderoso,
Por cá toda a nobreza discutia
Quem ia suceder ao rei «Formoso».

Findando a dinastia, sem varão
Herdeiro deste trono, enfraquecido,
Surgiu de Beatriz a pretenção
De impor-nos, como rei, o seu marido.

Mas logo se levantam, na nação,
As vozes, que defendem ser traição
Das cores, ter visão tão pequenina;

E o povo vai impor, na sucessão,
João, Mestre d'Avis, que funda, então,
A nobre dinastia Joanina.

EM - DINASTIAS - VÍTOR CINTRA - TEMAS ORIGINAIS

sábado, 5 de dezembro de 2015

Santa padroeira - RUY CINATTI

As fúrias de nascença são perfeitas
como o brotar da criação espontânea
e o escalracho deve ser eliminado
para que a doçura seja complemento da vida.
A banda de música passeia
pelas ruazinhas-calçadas de Lazarim.
Os foguetes atroam de festa na vila para festejar Santa
Bárbara . a dos Trovões e mártir às mãos de seu Pai.

EM - 56 POEMAS - RUY CINATTI - RELÓGIO D'ÁGUA

sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Sede de palavras com sede - EDUARDO ALEIXO

Sede de palavras com sede
de água fresca e pura
manhã
tão luminosa como a luz,
descerra as cortinas do meu sonho
e mata as saudades das coisas que nunca vi,
conduz-me à fonte do sorriso
e ajuda-me a ser o ser
p'ra que nasci!

EM - OS CAMINHOS DO SILÊNCIO - EDUARDO ALEIXO - CHIADO EDITORA

quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Mais além - VERA SOUSA SILVA

Quero manter esta capacidade
de sair de dentro de mim
e ser outra
ir mais além que o tempo
mais longe no pensamento
e voar,
voar para longe
ser eu e ser outros
mais longe,
mais além.

EM - ATÉ AMANHÃ - VERA SOUSA SILVA - LUA DE MARFIM

quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

O vestido de Edith - MARIA ANDRESEN

Um vestido de riscas usa Edith Schiele
as riscas vestem Edith Schiele de uma alegria
de que parece ausente o corpo - dos pés

ao pescoço -
mas estão pintalgados de encarnado a boca
(nela aflora um sorriso paciente,
ligeiramente vítreo) e o rosto

o cabelo, puxado para o alto, alonga-lhe a figura,
mas são inquietas as irrequietas curvas das riscas encarnadas
que se espalham em fusiforme flor

de pétala. A boca de Edith Schiele é de alegria
mas os olhos não

EM - LUGARES, 3 - MARIA ANDRESEN - RELÓGIO D'ÁGUA

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Essência - FERNANDO JORGE BENEVIDES

LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO PELO AUTOR

A minha essência está no que sou
sou os sonhos, sonhados, que quero realizar
e que acredita que são parte do que me move

Quero deixar apenas a emoção falar sem pensar
apesar de saber que nem sempre é possível...

Quero respirar todos os momentos...
porque a vida é feita deles
e amar sem explicação...
incondicionalmente...
comandado apenas pelo coração
ele é, e será sempre...
o meu guia.

EM - VÉRTICES - FERNANDO JORGE BENEVIDES - EDIÇÕES OZ