sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

Reflexos de mim – CELSO CORDEIRO

LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO POR IN-FINITA
Conheçam a IN-FINITA neste link

Encosto-me no espelho,
e quando dou por mim
estou já a tentar perceber
se a essa imagem me assemelho
ou é prolongamento de mim,
ou o que de mim se vê.
 
Já a mente se agita
nessa guerra permanente
entre o ser e parecer,
e o que queremos mostrar
guardando nossa desdita
no muito que fica por ler.
 
Olho-me, questionando,
se serei mero reflexo
como o espelho retrata
à vista de tod’a gente
ou se por trás desta capa
alma existe e o coração sente?
 
Quem serei eu afinal?
Apenas o que veem de mim
ou algo que a todos escapa
e até a mim é indiferente?

EM - VERSO & PROSA - COLECTÃNEA - IN-FINITA

quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

Cicatriz – CÉLIA REGINA DE MATTOS PRADO

LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO POR IN-FINITA
Conheçam a IN-FINITA neste link

Ela faria tudo por ele.
Daria seu tempo, seu carinho,
Seus pensamentos, suas vestes,
Seu corpo, sua alma.
 
Despir-se-ia de panos e preconceitos
para tê-lo em seus braços.
E se despojando assim,
ficando tão nua assim,
teria o mundo para si
por longos instantes e sentiria
a delícia de viver.
 
Ele era seu alento,
Sua vida seu tormento,
Mas um dia...
ELE SE FOI!
 
E ela ficou vazia,
se dissolveu, ficou no chão,
esparramada feito poça d’ água,
pisada, cuspida, escarrada,
esquecida de si, quase morta...
 
Até que o sol a tocou
com seus raios quentes
e sentindo esse calor
ela se reergueu, se recompôs,
metamorfoseou-se em gente,
novamente.
 
E começou a seguir a vida
Porque a vida segue adiante
e ela agora segue atrás.
Persegue a vida
Mas nunca a alcança.
 
E assim ela vai vivendo
Correndo atrás da vida.
Com um sorriso nos lábios
E uma cicatriz no coração. 

EM - VERSO & PROSA - COLECTÃNEA - IN-FINITA

quarta-feira, 29 de dezembro de 2021

Corrente do Bem – CÉLIA REGINA DE ASSIS GULISZ

 

LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO POR IN-FINITA
Conheçam a IN-FINITA neste link

E vamos fazer uma Corrente do Bem
 
E que essa sintonia
Vá muito além de Belém, e que atinja a todos.
Vamos pedir que tudo acabe bem, e que essa corrente Tenha todas as mãos.
Se precisar reflexione, se posicione, ore, rogue.
Peça perdão a Deus , não precisa explicação...
Perdão por não entender o que está acontecendo,
Mas perceber que estão todos perdendo, ou ganhando...
Senhor neste momento de aflição,
Te peço de coração,
Pela corrente infinita do Bem.
Cruzando meridianos, derrubando fronteiras,
Atingindo a todos, com o propósito pedido há mais de dois mil anos atrás...
Amai-vos uns aos outros.
Só assim conseguiremos salvação
Para o  povo que clama por pão,
Chora de solidão
E ainda tem forças de erguer as mãos,
Em forma de oração, para que atinja todas as Nações deste Planeta.
Corrente do Bem!
Que clamando a DEUS  Todo Poderoso,
De maneira fervorosa e amorosa ecoa:
Deus, Meu Pai, ,Nosso PAI, PAI  de todo mundo!
Ouça nosso clamor, nos escute por favor:
Que toda essa pandemia se transforme em AMOR.

EM - VERSO & PROSA - COLECTÃNEA - IN-FINITA

Ser Mulher - JAMMY SAID

LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO POR IN-FINITA
Saibam mais do projecto Mulherio das Letras Portugal neste link
Conheçam a IN-FINITA neste link

Ser Mulher
Na profundidade do meu Ser
Mergulho em um Mar de Sombras.
Nas Lutas tardias de avançar no tempo.
Na palidez de minha face...
Meus olhos refletem o infinito
As mãos envelhecidas com linhas que registram minha história.
As Lutas que enfrentei para avançar no tempo.
Fases guardadas na memória.
A força!
A Coragem!
A Vida!
Presente, Passado e Futuro.
Bordando os retalhos do passado.
Costurando entre nós.
Nós...
A ausência sentida no coração.
O Verde intenso da grama e o vôo dos pássaros inspiram
Esperança.
Uma única Lágrima de Alegria desce em meu rosto cansado.
Escorre entre linhas desenhadas.
Marcas do tempo.
Nasce um Sorriso tímido no canto da boca...
Eu e minhas Lembranças...

EM - MULHERIO DAS LETRAS PORTUGAL (POESIA) - COLECTÂNEA - IN-FINITA

terça-feira, 28 de dezembro de 2021

Cheguei - INÊZ OLUDÉ DA SILVA

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
Conheçam a In-Finita neste link

nasci no sertão
ao som do baque da enxada
cheguei bem de madrugada
no despontar da aurora
para assuntar a festança
que meu pai
me organizou pra chegança

cheguei, me assentei no terreiro
olhei a bagunça em volta
desorganizei a ordem na praça
assentei praça na poesia
provoquei muita arruaça
na nasci para desgraça
versos eu faço de graça
se o buraco é mais embaixo
ao redor do buraco tudo é arte

EM - OS POEMAS QUE O DIABO AMASSOU - INÊZ OLUDÉ DA SILVA - IN-FINITA

Passeio pelo bairro – CECÍLIA PESTANA

LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO POR IN-FINITA
Conheçam a IN-FINITA neste link

Divido meu tempo entre o amor e o amar
Pelas ruas, bairros e escadinhas, vejo o mar
Passeio e encontro-me com o meu par
Livre são meus sentimentos, anseios a pairar.
Observo tudo em redor, sol a brilhar
Flores, cores, fragrâncias no ar, coração a palpitar 
As pedras da calçada também têm o seu lugar
Ai, mãos firmes, prontas para abraçar.
Com surpresa ao dobrar a esquina, a rondar
Encontrei meu vizinho que está agora no lar
O bairro está agora mais cuidado, a animar
Transeuntes que andam por ali a espreitar.
E, eu descontraída passeio-me por ali a visitar
Todos aqueles que amo e me fazem acreditar
Que apesar de tantas maldades por aí a pairar
Ainda há gente boa, que têm vida, têm lar
Corações que amam, que embalam, sem hesitar!...

EM - VERSO & PROSA - COLECTÃNEA - IN-FINITA

(Des)confi(n)ando - GILSA DA ROCHA MAGRI

LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO POR IN-FINITA
Saibam mais do projecto Mulherio das Letras Portugal neste link
Conheçam a IN-FINITA neste link

Ao sair
meu coração galopava
ansiedade e medo
meus olhos ardiam
pupilas em pânico
luz intensa do sol esquecida
confusão mental
sentia o excesso de sangue
latejar nas têmporas
passado o tempo do trajeto
no destino
meu olhar passeia pelas paredes
encontrando objetos
de beleza na medida
para lembrar festa
então o amor se mostra
sem alarde
aceite e correspondido
com cautela e sabedoria
no encontro de outros olhares
minhas retinas
se acostumam e descansam
no colo para as aflições irmãs
acariciada e embalada
pela música
a memória olhou para o luar
que por ora se apresentava
luz consoladora e branda
casada perfeitamente
com o perfume das flores
adorno para o banquete singelo
ao som mágico das falas e risos
dos anjos que se fizeram presentes
para se juntar aos que residem ali
recebida a bênção
voltei para dentro
de (mim) casa.

EM - MULHERIO DAS LETRAS PORTUGAL (POESIA) - COLECTÂNEA - IN-FINITA

segunda-feira, 27 de dezembro de 2021

Prometo que me porto bem depois do Natal - Mª LEONOR COSTA (NONÔ)

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
Conheçam a In-Finita neste link

Prometo que me porto bem depois do Natal
Vou tirar melhores notas na escola
Sei que prometi o mesmo o ano passado
Mas a culpa foi da minha tola.

Não me tires os brinquedos
Quero poder continuar a brincar
Vou tirar melhores notas na escola
Só para te conseguir animar.

Sei que devia ter mais juízo
Aprender melhor a lição
Vou tirar melhores notas na escola
Só tenho de prestar mais atenção.

Esquece os patins que pedi
Mas dá-me algum presente
Vou tirar melhores notas na escola
Só para te deixar mais contente.

EM - Mª LEONOR COSTA (NONÔ) - COLECÇÃO DISPERSOS - IN-FINITA

Olhares sobre a cidade – CECÍLIA PEIXOTO

LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO POR IN-FINITA
Conheçam a IN-FINITA neste link


Ruas, pessoas, mortalidade

Em cada esquina individualismo

A morbidez do descaso grita

Angústias de famílias aflitas

 

O sistema incentiva o consumo

Aferir lucro suplanta a vida

Súplicas por direitos ignoradas

Segue a multidão amordaçada

 

Violência estampada em jornais

Fome nas marquises e viadutos

Tsunami crescente de descriminação

Presídios e leitos lotados, agoniza a educação.

 

Capital, capitalismo, capitalizado

Pobre, pobreza, pobretão, periferia

Se há pecados não serão apenas sete

São derivados de exploração, lucro do balancete.


EM - VERSO & PROSA - COLECTÃNEA - IN-FINITA

Bilhete - ZEZÉ MATOS

LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO POR IN-FINITA
Saibam mais do projecto Mulherio das Letras Portugal neste link
Conheçam a IN-FINITA neste link

Bom dia bem querer.
Só quero te dizer
Que o cheiro do café coado
Ainda mora na cozinha do meu coração.
Se quiser, esteja à vontade para entrar.
A chave está no vaso dos versos em afetos
Que coloquei na janela da esperança, sempre aberta a abrigar
Quem vem pela estrada da amizade.
E se quiser colher as rosas da sinceridade
Aceito para enfeitar a moradia da verdade.
Uma amiga querida que sempre está a me mostrar a mais rica
realidade:
Que o amor, não morreu!
E sempre será lembrado.
Pelos olhos apaixonados de quem com ele dança.
Não esqueça de abrir o jardim do coração.
Lá, tem flores de alegria precisando ser regadas
Com sorrisos de pessoas achegadas
Que navegam no mar da maciez dos abraços.
No mais, a saudade manda lembranças
E aguarda sua chegada.
Um cheiro no cangote
E obrigada.

EM - MULHERIO DAS LETRAS PORTUGAL (POESIA) - COLECTÃNEA - IN-FINITA

domingo, 26 de dezembro de 2021

Morada - RITA QUEIROZ

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
Conheçam a In-Finita neste link
Morada
Entre nós...
Trovoadas e furacões
Barco à deriva
Uma só pele fora do chão
Mar partilhado
Estrelas do oriente
Corpos em comunhão!

EM - RITA QUEIROZ - COLECÇÃO DISPERSOS - IN-FINITA

Luzes no Abismo – CATIA CERNOV

LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO POR IN-FINITA
Conheçam a IN-FINITA neste link


Eu vi sedas & granadas nas estradas
Arranquei os cravos do não-pecador
Quebrei os vitrais da Grande Queda
e com os cacos fiz aeroplanos

Quis eu a morte digna
A vida intensificada
Disse-me meu coração:
Encerra os livros
Esqueça as escrituras
E ponha-se no caminho

Atravessei tantos mares selvagens
Tantos continentes imaginários
Que me tornei borboleta
Morcego & fera

Com mandíbulas de prata
Corroí as vertigens da lei
Com o fogo da língua
Submeti serpentes encantadas
Os néons não mais me seduzem
São apenas gases nobres em tubos
fabricados
por mão-de-obra miserável

Tudo que é vazio me atrai
É terreno livre
Planície deserta
que espera ser preenchida
E eu tenho sementes

minhas mesmas
germinadas com chuvas interiores

Sei amar minha solidão
Não temer meus ossos expostos
Aprendi a costurar meu próprio joelho
Quando me arrebento
nesses abismos de luz


EM - VERSO & PROSA - COLECTÃNEA - IN-FINITA

Marcas do tempo - ZENILDA RIBEIRO

LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO POR IN-FINITA
Saibam mais do projecto Mulherio das Letras Portugal neste link
Conheçam a IN-FINITA neste link

Que o tempo deixa marcas
é consenso.
Marcas na pele,
nos cabelos,
nas mãos,
nos olhos.
Ah, nos olhos
o tempo marca
de diferentes maneiras.
Existem aqueles que com o passar do tempo,
ampliam o campo da visão.
Mesmo vendo menos,
ou perdendo totalmente a visão,
passam a ver mais e melhor.
Porque ver não é só sobre olhar coisas.
Ver é sobre enxergar.
E enxergar tem a ver com o sentir.
E sentir tem a ver com amar.
E amar tem a ver com viver.
(Muitos acham que é sofrer
Talvez porque aprenderam a ver
Mas não conseguem enxergar)
É preciso educar o olhar,
já dizia Rubem Alves,
pra enxergar mesmo quando não vê.
Pra ver diferente.
Pra pensar e agir diferente.
Pra ser melhor
é preciso ver melhor
Ver o pássaro, ver o gato,
ver as pessoas,
ver o céu, as nuvens,
ver as plantas,
ver o mar.
Ver a grandeza das pequenas coisas.
Ver as maravilhas
por trás dos momentos simples.
E amar o que vê.
Gosto muito de olhar
Gosto dos sorrisos,
mas se estamos de máscaras,
o olhar também sorri.
O sorriso do olhar toca mais profundo,
toca a alma
Há olhares que marcam.
Passe o tempo que passar.
Porque o tempo passa,
mas o olhar fica
marcado na alma.

EM - MULHERIO DAS LETRAS PORTUGAL (POESIA) - COLECTÃNEA - IN-FINITA

sábado, 25 de dezembro de 2021

Carona alheia - CÁTIA CASTILHO SIMON

LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO POR IN-FINITA
Conheçam a IN-FINITA neste link

A raiva não me leva a armas
RAIVA
Mas ao grito
GRITO
E tinge de sangue o olho
SANGUE 
Raiva pela vergonha alheia
VERGONHA
Cada uma que colha seus gravetos
GRAVETOS
E arda em sua própria fogueira
ARDA
 
Raiva por nada acontecer
RAIVA
Raiva por estender as mãos
MÃOS
E retorná-las frias
FRIAS
 
Mudo de canal em ira
IRA
E há mulheres se gabando
MULHERES
Por serem de direita
DE DIREITA
 
Raiva e dor
DOR
Não é qualquer mulher
MULHER
Que enxerga a indecência
INDECÊNCIA  
Patriarcal do capitalismo
PATRIARCAL
A raiva é que me toma
RAIVA
Muitas são iguais a eles
MUITAS
 
É raiva que sinto
RAIVA
Quando vejo
VEJO
Mulheres sem decoro
MULHERES
Em plácida carona
EM CARONA
Na morte das que lutaram
NA MORTE
Rasgando bandeira alheia
ALHEIA
 
Raiva da docilidade
RAIVA
Da enganação
ENGANAÇÃO 
Da preponderância do individual
INDIVIDUAL
Sobre o social
SOCIAL
Raiva de quem ludibria
RAIVA
Sendo ludibriada
LUDIBRIADA

EM - VERSO & PROSA - COLECTÃNEA - IN-FINITA

Sentidos - VIEIRINHA VIEIRA

LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO POR IN-FINITA
Saibam mais do projecto Mulherio das Letras Portugal neste link
Conheçam a IN-FINITA neste link

Tenho comigo a escuta
mas muitas vezes desligo
Tenho comigo o olhar
mas muitas vezes não permito ver
Tenho comigo o paladar
mas muitas são as vezes que não provo
Tenho comigo o tacto
mas muitas são as vezes que não toco
Tenho comigo o olfato
mas muitas são as vezes que não uso.
Bloqueadores que me protege,
Escolho olhar interna ou externamente!
Escolho, escolher... pois
Escolher não me deixa dúvida e
Dúvida não me dá prazer.
Talvez eu até seja ignorante, mas não obstante,
Fico segura para poder usufruir do que merece ser.

EM - MULHERIO DAS LETRAS PORTUGAL (POESIA) - COLECTÃNEA - IN-FINITA

sexta-feira, 24 de dezembro de 2021

Clandestinos - VERA LÚCIA DE OLIVEIRA

LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO POR IN-FINITA
Saibam mais do projecto Mulherio das Letras Portugal neste link
Conheçam a IN-FINITA neste link

há de haver cemitérios para quem carrega seus mortos
para que eles descansem em lugar sólido e não sejam levados
de um lado para o outro sem sossego e sinal de identificação
clandestinos em fuga como quem os arrastou para cidades onde
não querem ficar porque ali não morreram

EM - MULHERIO DAS LETRAS PORTUGAL (POESIA) - COLECTÃNEA - IN-FINITA

quinta-feira, 23 de dezembro de 2021

Gosto de saber que sei mesmo se sei que não sei - INÊZ OLUDÉ DA SILVA

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
Conheçam a In-Finita neste link

o sábio que vê tudo
é um sábio
que não sabe nada
quando me apetece
o levo para passear
em longo e em largo
lhe dou o saco de esmolas
volta com borboletas
se diz cansado de letras
que não aprenderam a voar

escascaviar um verso
é coisa pra quem
não presta atenção
nos versos que passam
batendo as asas
fazendo frufru por perto

EM - OS POEMAS QUE O DIABO AMASSOU - INÊZ OLUDÉ DA SILVA - IN-FINITA

Prostituta – CARLA PIMENTA

LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO POR IN-FINITA
Conheçam a IN-FINITA neste link

Vestiu-se de si mesma e saiu à rua
Mapeou ruas e ruelas
Trocou sorrisos, olhares, lançou beijos fugazes aos transeuntes
Na velha calçada imperfeita caminhou apressadamente como quem corre contra o tempo
Olhou o relógio de pulso, compôs os adornos, ajeitou o casaco de pele falsa
Salto de pecado no pé, aroma barato
Vermelho fogo nos lábios
Imagem desejada, invejada por escassos momentos de prazer
Nas mãos a já descolorida sebenta onde entre riscos e rabiscos escrevia memórias de uma vida que não vivera
Altiva…Pedante…
Discurso eloquente… Provocador…
Vulgar mulher da vida que em desprezo por si mesma se vende, se entrega, se aniquila
Deixara a tranquilidade, a monotonia de uma vida aceitável
Embarcara na aventura das noites de loucura
Nos gozos orgásmicos das orgias de uma sociedade desconhecida
Perdera-se nas avenidas de uma qualquer cidade
Nos bancos de um qualquer carro de luxo
Num quarto de motel de beira de estrada
Influente… dizia-se ela
Importante… queria ser
Especialista de uma especialidade por inventar
Mulher sem rumo… sem porto de abrigo
Mulher suicida… banal…
Vestia-se de si mesma e saía à rua como o caçador em busca da sua caça…

EM - VERSO & PROSA - COLECTÃNEA - IN-FINITA

Vírus na poesia - VALÉRIA VICTORINO VALLE

LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO POR IN-FINITA
Saibam mais do projecto Mulherio das Letras Portugal neste link
Conheçam a IN-FINITA neste link

O Caos se impõe, o Nada aparece,
a advertência chega inesperadamente, espreita os homens e a vida.
Provoca a Redenção das durezas, seca o escarro da sociedade
e não é o místico nem a ira dos Titãs, não é a fúria de Deus
e nem o apocalipse.

É uma adversidade global que se espalha
vertiginosamente em forma de zumbi imperceptível,
Coisa incontida e desconhecida que ameaça corrosivamente
ruas e muros,
romper grades da saúde de dia ou à noite, de preferência
no crepúsculo dos homens.

Desce sobre a humanidade uma terceira guerra silenciosa,
O Sombrio invisível, o Cárcere da modernidade, que
apresenta o novo e temido fardo social: Quarentena.
Corrompe as horas, lacra os dias, isola a vida, recolhe a noite.
Uma Coisa Desconhecida, rival e viva,
que desnuda a vulnerabilidade e a impotência humana.

Esse Nada que acua o mundo está em qualquer canto,
aloja, acomoda, domina, persiste em todos, mas
gosta mesmo é do mundo dos velhos e enfermos.
Detona a saúde e a vida dos ossos aerados,
das peles flácidas e das rugas profundas e experientes,
das mãos enrugadas, irremediavelmente velhas...
Gosta mesmo dos movimentos e memórias lentas dos idosos,
considerados por alguns como sujeitos
inúteis, retrógados, ultrapassados, e dispensáveis.
Pés na cova... Alguém que já viveu demais! Dizem...
Uma dor forte que traz no encosto: o isolamento,
a epidemia excludente e discriminatória,
a Morte social, simbólica e física do mais frágil.

Talvez, um longe talvez, esse novo tempo que se inaugura,
com esse coronacâncer de difícil cura,
redimensione nossa aterrorizante realidade de desencanto:
Já não basta os vividos e enrugados, há de ser também
o silêncio dos excluídos, o cerceamento dos frágeis,
o anel periférico dos miseráveis que quase nunca protestam
e afrontam os vencedores que humilham e confrontam
os ditadores das dores e da indecente injustiça.

O tal Nada não limpa os pés do cheiro da Morte,
não lava a mão como Pilatos, na isenção das desgraças,
só oferece a coroa de espinhos para esfregar os olhos,
para limpar a boca e secar a coriza,
Promove a febre que não se cura com remédios,
visita leitos, hospitais, covas e valas, e, lá,
não acende velas, nem tutelas não pagas ou desnecessárias,
só evoca martírios, satiriza a ciência e deleta orações.

O nada está tatuado no medo, na reclamação e na exclusão.
Um diabetes que se alimenta do amargo açúcar da indiferença,
Uma pneumonia que expira injustiça e desconsolo,
Uma hipertensão que explode a empatia,
Um descompasso que infarta a alteridade,
Uma fadiga que imobiliza o Bem comum,
Um esgotamento do sobreviver do próximo,
Uma dispneia que asfixia o Viver de cada um,
Um coroar de óbitos nas criaturas.
E entre a ruptura, a tortura e a loucura,
vamos vivendo uma poesia pérfida e exultante,
Convertida, ressignificada e coroada, nesses nossos poemas
de cada dia.

EM - MULHERIO DAS LETRAS PORTUGAL (POESIA) - COLECTÃNEA - IN-FINITA

quarta-feira, 22 de dezembro de 2021

Azevias e filhoses - Mª LEONOR COSTA (NONÔ)

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
Conheçam a In-Finita neste link

Azevias e filhoses
Coscorões e rabanadas
Bolo-rei e broas castelares
Frutos secos e fatias douradas.

Sonhos e salame de chocolate
Bolo rainha e frutas cristalizadas
Uma mesa cheia de doçaria
Em todas as consoadas.

Antes há bacalhau
Com batata e couve portuguesa
Regado com azeite quente
E vinho a uma boa mesa.

A família reunida
Toda muito animada
Há depois a troca de presentes
Para abrir até de madrugada.

EM - Mª LEONOR COSTA (NONÔ) - COLECÇÃO DISPERSOS - IN-FINITA

Tempestades... – CARLA FÉLIX

LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO POR IN-FINITA
Conheçam a IN-FINITA neste link

Eu sei que a vida é um constante mar de estados incertos.

Que as pedras do caminho são percursos para nos limar por dentro sem nos apercebermos.

Eu sei que na imensidão de existir, perco e ganho como uma moeda numa precisão quase incerta.

Eu sei que um amanhã não é certo, que posso não acordar e deixar de existir.

Que o futuro embora escrito na alma, ainda não é conhecido.

E nas voltas da vida vou e volto sem nunca saber se sou pedra em dia de mar manso ou pedregulho de uma tempestade terrena...

EM - VERSO & PROSA - COLECTÃNEA - IN-FINITA