Poema do beco - MANUEL BANDEIRA

Que importa a paisagem, a Glória, a baía, a linha do horizonte?

- O que eu vejo é o beco.

EM - ANTOLOGIA - MANUEL BANDEIRA - RELÓGIO D'ÁGUA

A felicidade e o cristal - NEGRA LUZ

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA

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Um brilho sem igual

Agregação do tempo, das ações, do valor.

Partiu? Não viu? Sentiu!

Descuidou. Um segundo!

E nem piscou!

Tal qual ao reluzente cristal,

A felicidade e um flash se combinam!

O que fiz? Algo fiz?

Pisou. Trolou. Riscou. Quebrou!

Feliz? Zerou.

EM - O LIVRO DE MAR E DE TEMPO - NEGRA LUZ - IN-FINITA

Criança - THEREZINHA TAVARES

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Criança

És alegria

Esperança!

Olhando tua beleza

Até o pecador

Se ajoelha!

Diante de tua pureza

Miríades de flores

Te reverenciam...

Tua alegria

É constante

Teu olhar sorridente!

Abres os olhos

Da alma

Em oração

Permanente

Como se fosses um deus

Para te adorar

E a Deus agradecer

O anjo

Que enviou

Para nossas dores

Curar...

EM - MEUS POEMAS - THEREZINHA TAVARES - IN-FINITA

Podia dizer que os teus olhos - SUSANA NUNES

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Podia dizer que os teus olhos

têm a cor preta das azeitonas,

mas a verdade,

é que essa cor têm os meus,

Mas, na força de os querer

comparar com alguma coisa,

na coragem suprema

de os saber de outra forma,

posso então afirmar,

que são como as estrelas do mar,

matizados por sobre as areias da praia,

e têm aqueles tons verde esmeralda

das pedras preciosas,

que nunca uso nos dedos,

mas que sempre ponho na alma,

quando os vejo voar nos céus

EM - SEMPRE PLANTO OÁSIS NAS PALAVRAS - SUSANA NUNES - IN-FINITA

Ciclo - ANTÓNIO CAPELLA

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Não te limito aos alicerces do meu peito.

Ficas nas periferias dos meus olhos, para que vislumbre

as pétalas dos teus borboletejantes sorrisos dançando em mim,

sem atentarem nas encruzilhadas quentes e impenitentes.

Não me molhes com lágrimas congeladas.

Porque não te esquentas com o sol da manhã, para que me revejas?

Oh, como acarreto as tuas palavras/luz no lusco-fusco do

entardecer, onde a fosforescência invade o meu palato com odores

de madressilvas mordiscantes.

Sabes que sou avesso em guardar amor de escumas de podridão!

Não serei vela esfrangalhada por açoites de gordos talos durante

trevas de toutiços desbragados.

Sei que o meu olhar dormirá em ti e sempre resistirei em vestir

cilícios de sonhos cortantes.

Contigo sei que lá, além nos deitaremos de barriga para o ar, para

que o Sol volte aos nossos umbigos e os doire por todos

os solstícios que nos virão visitar.

EM - PALAVRAS ESCRITAS, PALAVRAS PINTADAS - ANTÓNIO CAPELLA - IN-FINITA

Irene no céu - MANUEL BANDEIRA

Irene preta

Irene boa

Irene sempre de bom humor.

Imagino Irene entrando no céu:

- Licença, meu branco!

E São Pedro bonachão:

- Entra Irene. Você não precisa pedir licença.

EM - ANTOLOGIA - MANUEL BANDEIRA - RELÓGIO D'ÁGUA

Filha de Mar - NEGRA LUZ

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Era uma pedra,

Tinha sua beleza.

Como as outras,

Tinha certa dureza,

Um ar de grandeza,

Um ser para se amar.

Íntima era a certeza:

Nada haveria a mudar!

Era uma pedra,

A vida é uma constante,

Água de alevante,

Onda do mar.

Bate e rebate.

Em certo instante,

Fragmentos de rocha,

Sentimento à pele.

Há poeira no ar!

Era uma pedra.

Agora, revelia do vento.

Um pouco no pó da estrada.

Caminhos pedregosos a ultrapassar.

Nem se reconhece a dura pedra,

Sou água mole!

Sou filha de Mar!

Coberta com seu manto:

Espuma pujante,

Marola do mar.

EM - O LIVRO DE MAR E DE TEMPO - NEGRA LUZ - IN-FINITA

Meu sonho - THEREZINHA TAVARES

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Fecho os olhos

Vejo você

Abro os olhos

Também vejo!

Queria saber

O porquê...

Será fruto

Do meu desejo?

Aquece meu coração

Se você está perto

Segura minha mão

Povoando meu deserto

Fico assim

Com meu sonho

Sonho

Não é realidade

Melhor

Viver de sonho

Do que

Morrer de saudade...

EM - MEUS POEMAS - THEREZINHA TAVARES - IN-FINITA

No sussurro das águas - SUSANA NUNES

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As águas silenciosas de roda dos passos

beijam-me as palavras de areias soltas

e eu nada mais faço,

senão dar-tas molhadas com as mãos todas

com as asas prateadas dos poetas,

com o chegar das aves inquietas,

com o suave feminino da voz,

que já vermelha me ferve no peito

A madrugada permanece na brisa

onde caem todas as tonalidades do branco

para se misturarem no vento transparente

Vem meu amor

que me semeio vagarosa

no belo sussurro das águas

EM - SEMPRE PLANTO OÁSIS NAS PALAVRAS - SUSANA NUNES - IN-FINITA

Um olhar - ANTÓNIO CAPELLA

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA

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Invento passadas e passeio nas correntes com asas cortadas.

Serei doido, mas nunca anjo.

Cicio o tédio com que me enforco e arregalo os olhos para

os palhaços que entre douradas espigas dormem.

Não são vocês, sou eu que vos deixo entre pragas e animais

nocivos, que vos aprisionam e que comem os tutanos a quem

teima em ser homem.

Deito-me nas mantas de farrapos que teci com o estrelar

da nostalgia, mesmo assim nunca terei sangue domado.

Tenho tardes que me besunto com mel nas urzes da sombra

e que me carrego com ais nas cimitarras afiadas.

Um dia fiz-te rainha da minha barcaça e entrei no teu redondo

olhar, como penetra num tempo de fotografia “a lá minute”

a se revelar.

Recoleto infâncias de animais canibais empanturrantes de gentes

deste país arreatados numa RESILIÊNCIA que tão bem estava

emalada e fechada.

Matuto nas chagas que não tapo e tremo de cio aberto no topar

o cheiro de curvatura apertada.

EM - PALAVRAS ESCRITAS, PALAVRAS PINTADAS - ANTÓNIO CAPELLA - IN-FINITA

Pelas encostas da Itália - LÚCIA BOONSTRA

Livro gentilmente cedido pela autora

Olho através das árvores:

Tenho receios de espaços abertos.

Os galhos me protegem…

Mas preciso sentir as partes…

Como um quebra cabeça,

Vou formando minha paisagem…

Os pequenos morros

Cobertos de vegetação verde…

Longe… Mas presentes.

As formações rochosas

Lambidas pelo mar transparente…

As peças vão se encaixando…

O céu cobalto me assusta!

Uma construção secular desponta…

Fé?! Orgulho de posse?! Nada sei!

Sinto a respiração acelerando!

O mar é infinito…

Sou grão de areia…

Pedregulho na praia perdida…

Abro os olhos... A paisagem se amplia…

Majestosa… tranquila, única!

E a minha solidão se desfaz…

EM - SOPRADOS DAS GAVETAS - LÚCIA BOONSTRA - EDIÇÃO DE AUTOR/IN-FINITA 

Lá vem chuva! - NEGRA LUZ

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA

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O mandacaru floriu: era uma pista.

Ela é cura.

Deixem-me molhar!

Em todo vale banhado de chuva,

A vida pulsa,

Dá seus sinais:

Brotam-se flores,

Esverdeiam-se os pastos,

Colhemos sonhos,

Pastamos trilhas de paz.

Tudo pela chuva

Que deixei cair,

Agora fluo, para vê-la no Mar.

EM - O LIVRO DE MAR E DE TEMPO - NEGRA LUZ - IN-FINITA

Tempo de brincar - THEREZINHA TAVARES

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA

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Brinca, criança

O teu mundo é brincar

Brincando tudo tens

Sem precisar procurar

Brincando tudo podes

Muito além do imaginar

Brincando tens alegria

No mundo de fantasia

Brinquem, menina e menino

Não deixem o tempo passar

Brincando serão um pássaro

No céu azul sobre o mar

Brincando terão o espaço

Do mundo todo para sonhar...

EM - MEUS POEMAS - THEREZINHA TAVARES - IN-FINITA

Um dia se eu puder - SUSANA NUNES

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA

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Um dia

se eu puder

hei-de ir lá atrás

buscar-te as tardes sombrias,

irei espalhar-tas às janelas

amarelas de corar,

enquanto subimos juntos

às claraboias

para vermos

todas as diferentes faces do luar

Um dia

se eu puder

hei-de ir lá adiante

buscar-te as grandes esperanças,

irei eternizar-tas às varandas

soalheiras de espreguiçar,

enquanto descemos juntos

as escadarias

para vermos

o nascente faiscante

de todos os sóis a raiar

Depois disso

nada mais irei buscar

teremos vida do chão até ao tecto

enquanto nos sentamos juntos

a ver o brilho da Estrela Polar

EM - SEMPRE PLANTO OÁSIS NAS PALAVRAS - SUSANA NUNES - IN-FINITA

Um dezembro isento de neve - ANTÓNIO CAPELLA

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Chegamos ao definido ponto onde a fronte me aprisiona

e também onde se pára, ou se rola. Aconchegamo-nos numa

bolha insuflada de palpitantes corações, por mim mesmo

na borda parada.

Ficamo-nos e logo os nossos olhos bailaram com brilho de rosa

carnuda, afagada por leve airada.

Foste louva-a-deus e eu o grande inseto de cachoeira sangue.

No teu aperto fiquei uma libelinha de queratina melada,

que respondia com um delicado fincar de doçura amestrada.

Escusamos tons e olhos redondos, ou mesmo os de viés

disfarçados, como os de raposa gulosa à espera de galinha

extraviada.

As luzes ofuscam-nos quando inesperadamente, sobre as janelas

se debruçaram e, momentaneamente, perdemos o coalho

das palavras, entre o baralho de serpentes rubras e enleadas.

Enfeitiçados esquecemo-nos, que as luzes também aquecem

e arrefecem cios, logo que o dia aclara, ou enegrece.

Plasmados e dedos fortemente cruzados e pregados,

saímos pelo bocal que tínhamos entrado.

EM - PALAVRAS ESCRITAS, PALAVRAS PINTADAS - ANTÓNIO CAPELLA - IN-FINITA

Andorinha - MANUEL BANDEIRA

 Andorinha lá fora está dizendo:

- Passei o dia à toa, à toa!

Andorinha, andorinha, minha cantiga é mais triste!

Passei a vida à toa, à toa...

EM - ANTOLOGIA - MANUEL BANDEIRA - RELÓGIO D'ÁGUA

Spray marinho - NEGRA LUZ

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Spray me mandas

Refresca alma, acalma pensamento

Por do sol delineado adiante

Logo após, o amanhã depois do luar

Arrulho de ondas que em pássaros voam

Ventos transportam-me para outro lugar

Aí encontro a rede na varanda

Andei sonhando um dia ali estar

Sereno a mente, o coração passeia

Gaivota singrando a paz daquele lugar

Ao retornar nos braços das tuas ondinas

Sorriso de menina... pura... a sonhar

E preparada para encarar a lida

Sigo em partida direta sob o teu olhar

Contrasto o antes e o depois da sua guarida

Mar,

Sou sempre mais forte

Quando vens me abraçar.

EM - O LIVRO DE MAR E DE TEMPO - NEGRA LUZ - IN-FINITA

Confissão - THEREZINHA TAVARES

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Estrada, chão, caminho

Escada, corrimão

Mãos, ternura, carinho

Afeto, coração

Lírio, pureza, menino

Relógio, tempo

Címbalo, bronze, sino

Tinta, cores, beleza

Duendes, mistério

Encanto, enlace

natureza

Estilo, saudade, beija-flor

Recado, profecia

Paixão, esperança, amor

Música, elevação, alegria

Prazer, complemento

Singeleza, nostalgia

Abraço, calor, aconchego

Sensação, realização

Prazer, vida, chamego

Solidão, desejo, cama

Repressão, explosão

Fogo, calor, chama...

EM - MEUS POEMAS - THEREZINHA TAVARES - IN-FINITA

A minha poesia pode esperar - SUSANA NUNES

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Lê os meus versos devagar,

como se as horas fossem todas tuas,

e escolhe o banco mais confortável do teu peito,

onde sempre chegam

as nascentes dos primeiros sóis

Não te lembres de mim,

lê-me como se não me conhecesses,

como se não soubesses do meu ser,

e reserva para ti

apenas o passar dos meus versos

nessa palavra, que eu te peço,

... devagar...

Então agora

cruza primeiro os braços,

e aspira esse ar desses instantes,

que a minha poesia, essa, pode esperar

Depois, podes cruzar a perna

nesse teu ar belo de eternidade,

e sentires apenas o teu corpo leve

que a minha poesia, essa, pode esperar

Daqui a pouco,

quando sentires a falta das minhas palavras,

e souberes que tens em ti o coração todo,

aí sim,

lê os meus versos nas minhas páginas

mas por favor,

faz aquilo que eu te peço,

e folheia-os devagar

EM - SEMPRE PLANTO OÁSIS NAS PALAVRAS - SUSANA NUNES - IN-FINITA

Normalmente - ANTÓNIO CAPELLA

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Normalmente, não sou este

que se aconchega em ti.

Normalmente

não me escancaro contigo

parti as dobradiças da porta.

Sou um poema: eu.

Sou um poema teu.

Lê as palavras deste racional.

EM - PALAVRAS ESCRITAS, PALAVRAS PINTADAS - ANTÓNIO CAPELLA - IN-FINITA

Maastricht - LÚCIA BOONSTRA

Livro gentilmente cedido pela autora

Velas acesas iluminam,

Não a noite,

Mas o cinzento dia

Que insiste lá fora!

Quero velas! Muitas velas...

Para iluminar os dias cinzentos

Que insistem em permanecer

Dentro de mim!

EM - SOPRADOS DAS GAVETAS - LÚCIA BOONSTRA - EDIÇÃO DE AUTOR/IN-FINITA 

Rosas para Yemanjá - NEGRA LUZ

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA

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As flores que te mandei

Lembram quantas vezes te abracei,

Para na vida seguir.

Brancas, lembram a Paz

Que ao meu coração enviou

E toda angústia cessou.

Relembram do seu amor

Aos filhos que adotou

E na vida abençoou.

Yemanjá, eu ti reverencio

E, com um buquê, eu envio

Gratidão e amor.

EM - O LIVRO DE MAR E DE TEMPO - NEGRA LUZ - IN-FINITA

Bom e belo - THEREZINHA TAVARES

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA

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Se nossa vivência

Foi sobre o belo

Nossa sapiência

Foi sobre o bem

Se caminhamos

sobre o belo

Colhemos o belo

do bem

Se ofertamos o belo

Sentimos alegria do bem

Enxugar a lágrima

foi belo

Afagar o rosto

foi bem!

Doar o pão

foi belo

Saciar a fome

foi bem

Esquecer a ofensa

foi belo

Perdoar ao culpado

foi bem

Não importa

a quem...

EM - MEUS POEMAS - THEREZINHA TAVARES - IN-FINITA

Levanto os calcanhares e cresço - SUSANA NUNES

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA

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Levanto os calcanhares e cresço,

ergo os braços e agiganto,

... percebo

que posso encolher e esticar o corpo

e o mesmo posso eu fazer ao tempo,

... posso deixá-lo ali

acocorado a um canto,

ou posso dar-lhe lugares de vento,

... posso protegê-lo quieto,

dar-lhe passo fecundo,

ou desperdiçá-lo cego

vendado pró mundo

Levanto os calcanhares e cresço,

ergo os sonhos e descubro,

que à frente de um canto calado

sempre um assobio de assombro

EM - SEMPRE PLANTO OÁSIS NAS PALAVRAS - SUSANA NUNES - IN-FINITA

Cantiga em dó menor - ANTÓNIO CAPELLA

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Com o nosso abeirar, teus olhos vão crescendo e neles fico

pássaro de fogo atrapalhado no encantamento de serpente alada

emboscada.

Estou sem norte e em ti sou agulha de magnetismo à sorte,

que se afunda na fixidez do teu fitar.

Trago-te rosas. Não, não as cortei, foram por mim pintadas

com estrelas cadentes que dos céus arrebatei.

O perfume que sentes é do desvelo que tenho tido com todas

as outras cheirosas irmãs, que em mim tenho vindo a cultivar.

O que fez que me resignasse a ficar sempre a um passo

de te amar?

Que punhal amargo golpeou a desdita? A sorte?!

Olha para os prantos mudos nas janelas que clamam

por bondades e eu e eles reféns do teu tácito calar.

Nada dizes, então partamos no corcel de fogo que se avizinha

e procuremos rio cremoso de absurdidades, onde possamos

remar com remos por inventar, para que fiquemos circunscritos

à muita, ou pouca capacidade…

… De sonhar.

EM - PALAVRAS ESCRITAS, PALAVRAS PINTADAS - ANTÓNIO CAPELLA - IN-FINITA

O anjo da guarda - MANUEL BANDEIRA

Quando minha irmã morreu,

(Devia ter sido assim)

Um anjo moreno, violento e bom, - brasileiro

Veio ficar ao pé de mim.

O meu anjo da guarda sorriu

E voltou para junto do Senhor.

EM - ANTOLOGIA - MANUEL BANDEIRA - RELÓGIO D'ÁGUA

A partitura do Mar - NEGRA LUZ

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Sob o som do Mar e a dança das suas ondas,

Admirava o concerto do Universo a me brindar.

Uma sinfonia orquestrada pelo Tempo.

Sol, em meu peito ardia, e a brisa refrescava

o meu ar.

Percussões em rochedos, agudos de garças,

rodopios do vento,

Músicos ocultos do oceano a me encantar.

Nos acordes, percebiam-se em harmonia

E eu, sentada, observava à beira-mar.

As notas perfeitas me queriam música

tocando, agulha na vitrola a bailar,

Mas eu, um disco arranhado,

destoaria daquele palco a dançar.

Só me permiti gravar a partitura

E ouvi-la infinitas vezes no meu caminhar.

EM - O LIVRO DE MAR E DE TEMPO - NEGRA LUZ - IN-FINITA

Tudo passa - THEREZINHA TAVARES

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Tudo passa

Enquanto não passa

Maltrata

Mas, passa

O que passa... Passou.

Vai ser lembrança.

Acabou

O bem sempre vence

Depende de como se

Pense

Ser puro como criança.

Nunca perder a esperança

Depois da tempestade

A bonança sempre vem

Acredite, sem, “porém”,

Não perca a fé

Não perca o amor

Confie, sem temor

Muito em breve

Vamos celebrar

Passou

Tinha que passar...

EM - MEUS POEMAS - THEREZINHA TAVARES - IN-FINITA

O lado de dentro das coisas - SUSANA NUNES

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA

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Pertenço ao lado de dentro das coisas,

sinto a seiva na raiz sã dos pomares tratados,

o curso da água que alimenta a terra,

que dá margem para o som dos passos,

o Sol clorofilino para tudo ser mais verde

É por isso,

que deixo brotar em mim as Primaveras,

em tertúlias sedentas de versos

É por isso,

que as deixo surpresas a céu aberto,

ladeadas por madressilvas

Pertenço ao lado de dentro das coisas,

sento-me nos lugares que em mim visito,

e poiso os olhos assim, simplesmente,

nessa flor colorida que agora mesmo desponta,

neste lado tão meu, tão infinito

EM - SEMPRE PLANTO OÁSIS NAS PALAVRAS - SUSANA NUNES - IN-FINITA

Voar - ANTÓNIO CAPELLA

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Com a luz de mim, emolduro o vosso corpo com estes emotivos

dedos que teimam em vos presigar.

Agora que já acabaram os sorrisos de descaros e de medos,

enlaçai-me forte neste voo sobre montes desencontrados.

Breve teremos os ansiados e já notados quentes rios.

Não temais incertas e mesmo as prováveis lonjuras.

Eu sou o mesmo das mãos brancas de afagos que vos acalenta,

também sou o grão que em vós poisa e alimenta, na mesma,

sou a boca que apazigua a chama que tanto vos atormenta.

Agora em mim, deslizai meigamente sobre estas ondulantes

costas que ternamente vos suporta.

Afastai as cabeças e fitai estes arregalados olhos de açor

açucarado que em vós de levezinho e de soslaio vos vai

penetrando. Prestes nos estenderemos no sonhado aconchego

dos baloiçantes nenúfares já embriagados pelos nossos próximos

e desencontrados odores que sôfregos e entusiastas gineceus

já palpitam por os nossos descontrolados e almiscarados amores.

EM - PALAVRAS ESCRITAS, PALAVRAS PINTADAS - ANTÓNIO CAPELLA - IN-FINITA

Noites em Amsterdam - LÚCIA BOONSTRA

Livro gentilmente cedido pela autora

Uma figura estranha perdida na noite,

Um pintor que vende suas pinturas distorcidas

Rembrandtplein!

Turistas que vagam pelos becos

Para lugar algum…

Leidseplein!

Bêbados pelo sabor dos ventos,

Bêbados pela noite, perdidos…

Stationsplein!

Todos fazem parte do cortejo.

Neons brilhantes, eles procuram…

De Wallen!

Guiam-nos nesse transe tresloucado

Na procura do nada…

Trens!

EM - SOPRADOS DAS GAVETAS - LÚCIA BOONSTRA - EDIÇÃO DE AUTOR/IN-FINITA