segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Alquimia - NUNO GUIMARÃES



queria ser alquimista
poder brincar com poções
mudar alguns corações
que mudaram meu destino

pegar em ti, transportar-te
para um local bem distante
por magia transformar-te
num ser algo diferente
daquele que num dia quente
me marcou amargamente
com o sabor doce do engano

terá alguém a magia
de matar a nostalgia
e transformar, num repente
alguém de quem muito gostamos
num ser algo diferente?

EM - RIO QUE CORRE INDIFERENTE - NUNO GUIMARÃES - TEMAS ORIGINAIS

domingo, 30 de agosto de 2015

Cinismos - CESÁRIO VERDE



Eu hei-de lhe falar lugubremente
Do meu amor enorme e massacrado,
Falar-lhe com a luz e a fé dum crente.

Hei-de expor-lhe o meu peito descarnado,
Chamar-lhe minha cruz e meu Calvário,
E ser menos que um Judas empalhado.

Hei-de abrir-lhe o meu íntimo sacrário
E desvendar a vida, o mundo, o gozo,
Como um velho filósofo lendário.

Hei-de mostrar, tão triste e tenebroso,
Os pegos abismais da minha vida,
E hei-de olhá-la dum modo tão nervoso,

Que ela há-de, enfim, sentir-se constrangida,
Cheia de dor, tremente, alucinada,
E há-de chorar, chorar enternecida!

E eu hei-de, então, soltar uma risada...

EM - OBRA COMPLETA - CESÁRIO VERDE - LIVROS HORIZONTE

sábado, 29 de agosto de 2015

Oração - JAIME CORTESÃO



Tu, que és a minha Filha e a minha Mãe,
Que andas ao meu e trazes-me ao colo,
Tu que me arrolas, Tu, a quem arrolo
Para que mais quietinha durmas bem;

Tu que me enches de mimo, Tu a quem
Só eu nas mágoas íntimas consolo,
Pequenina e leal 'strela do Pólo,
Única estrela firme que o Céu tem,

Olha, minha Mãezinha, o teu menino
De sofrer e chorar perde o sentido:
Vê se o tornas de novo pequenino,

E nessa doce voz, como não há,
Sobre o teu seio canta-lhe ao ouvido:
"Sossegue e durma, meu menino, vá..."

EM - POESIA - JAIME CORTESÃO - INCM

sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Fotografia - GONÇALO LOBO PINHEIRO




A imagem ficou retida
Na película da eternidade.
Disparei ao tentar agarrar o infinito.
Sei que se estiveres no enquadramento,
Serás minha em lembrança de papel.
No foco tornei claro o teu rosto,
No diafragma regulei a tua luz.
Perdi sensibilidades par te poder dar recorte, e
Orientei as linhas para te percorrer.
Escolhi esta fotografia!
De olhar para ela vi magia,
Sossego, calma, traduz sem fim,
A invertida imagem da tua alma.
Olha bem para esta fotografia.
É tua, minha e de mais ninguém.

EM - ETÉREO - GONÇALO LOBO PINHEIRO - TEMAS ORIGINAIS

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Azul que em azul te desdobras - VICTOR OLIVEIRA MATEUS


Azul que em azul te desdobras.
Cerco de baías. Moldura de espuma.
De penhascos afagados pelo vento.
É na linha do fogo que te desenho,
Ó insubmissa de vagas e fulgores!
É em ti que me renovo, Cítera,

a dos amores. E por ti diariamente
renasço, ilha que em ilhas
te desdobras, onde me apoio
e urdo a teia que sempre refaço,
com o Cabo de Maleia ao fundo;
lâmina apontada ao meu peito

lasso. Aqui me fico, envolto em
algas e sargaço. Azul que em azul
te desdobras das chaminés das casas
ao dúctil reflexo do horizonte;
percurso onde sempre me busco
e busco do ser sua nítida fonte.

EM - A IRRESISTÍVEL VOZ DE IONATOS - VICTOR OLIVEIRA MATEUS - LABIRINTO

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Estranho-me - LURDES DIAS (CLEO)



Estranho-me
Quando de negro me visto
E de silêncio me calço...

Nasceram-me ilusões
Nas pontas dos dedos...
Escreveram um castelo
Alto demais
Não lhe chego...

Abraço-me ao cansaço
Que me ampara
Na curva redonda
Do nada...

Invadem-me
Insignificantes sensações
Alma submersa
Em constante desassossego

Rendo-me
Descanso-me...

EM - IN PULSOS - LURDES DIAS (CLEO) - TEMAS ORIGINAIS

terça-feira, 25 de agosto de 2015

Se eu estivesse dentro de ti - MARIA PAULA RAPOSO



Se eu estivesse dentro de ti
saberia o que pensas
quando não consentes e calas
ou quando dizes o que não queres.

Se eu estivesse dentro de ti
saberia das tuas palavras
que ao contrário deslizam
no oposto pensamento de dizer.

Se eu estivesse dentro de ti
ficaria a olhar-me em silêncio
e a pensar de que nada vale
quando se está dentro de alguém.

Se eu estivesse dentro de ti
tudo seria uma imensa monotonia
tudo se desmoronaria sem tempo
para poder estar dentro de ti.

Se eu estivesse dentro de ti
seria a mais estúpida das pessoas...

EM - GOLPE DE ASA - MARIA PAULA RAPOSO - APENAS LIVROS

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Era uma vez... LUIS FERREIRA



Era uma vez...
Começam assim as histórias,
Abrem-se os livros,
Liberta-se o ser...
Envolvem-se mistérios e segredos,
Onde tudo acontece...
E tudo pode acontecer.
Textos de encanto,
Que contamos às gerações de hoje...
E que as crianças escutam...
Com os olhos hipnotizados,
Sorrisos nos lábios,
Mundosde magia...
Reinos de fantasia,
Já as ouvimos dos nossos avós.
Ilusões, entre princesas e dragões,
Mágicos, duendes e castelos...
Personagens de faz de conta,
Vivemos em florestas de encanto,
Somos as personagens do reino,
Neste espaço só nosso.
Cavaleiros andantes...
Feijões mágicos,
Potes de ouro...
Lindas histórias que alimentam a alma,
Cristais mágicos,
Luta do bem contra o mal...
Ideias que nascem e que se esquecem,
Em ilusões que a idade apaga.
Escuto, em silêncio, no meu quarto,
E lembro-me do meu passado...
De quando criava asas e voava,
Alcançava o céu...
Libertava os meus sonhos,
E na Terra do Nunca,
Na plenitude do encanto,
Num momento de liberdade...
Atingia a felicidade,
Voltava a ser criança.

EM - RIO DE SAL - LUIS FERREIRA - EDIUM EDITORES

domingo, 23 de agosto de 2015

Naufrágio - VÍTOR CINTRA

O vento uiva alto, enfurecido,
Dançando na borrasca gigantesca,
Agitam-se no céu, enegrecido,
Tormentos duma noite que é dantesca.

A chuva, grossa e fria, em catadupas,
Que jorra sem parar, das nuvens negras,
Alaga, quer os homens, quer chalupas,
Que o mar, enraivecido, atira às pedras.

Os raios, ziguezagues a luzir,
Projectam-se do céu, vindo cair
No alto dos coqueiros, desgrenhados;

E cada voz murmura uma oração,
Pedindo à Santa Virgem protecção
P'ra aqueles pobres homens naufragados.

EM - ROMEIROS DOS OCEANOS - VÍTOR CINTRA - LUA DE MARFIM

sábado, 22 de agosto de 2015

Sementeira - TERESA BRINCO OLIVEIRA

É quando me silencio, que renasço.
Semeio-me por dentro e irrompo em primaveras
num corpo que é só meu.
Assim me dou ao Mundo.
Esse que é de todos e de ninguém.

EM - MARGINÁLIA - ANTOLOGIA - EDITA-ME

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

36 - ARMANDO SILVA CARVALHO

Meu Deus, a natureza é branca.
E envolve as massas de barreiras sonoras
que a boca tenta soerguer num compasso de guia
pelos caminhos do texto:
a cada palavra o seu sinal de cor,
a triste magia de buracos e dedos, de flautas
e serpentes.

EM - DE AMORE - ARMANDO SILVA CARVALHO - ASSÍRIO & ALVIM

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Reino - SARA TIMÓTEO

LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO PELA EDITORA

No meu reino secreto
subsiste apenas a voz sugestiva
do que é breve
e insuportavelmente belo
na essência
do ser aninhado em espelhos
de complacência

não há espaço de quatro paredes,
apenas vegetação
e surpresas estranhas
que se revelam sem mácula à razão

EM - ELIXIR VITAE - SARA TIMÓTEO - LUA DE MARFIM

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Consoantes consonânticas - RITA PAIS

O receio do reencontro ressoa no rugir do rio.
Revolta-se, rebela-se, refugia-se em recantos remotos.
Remete-se depois a um rumor resignado e remissivo.
Reage, regurgita, enquanto repudia a raiva
e reclama o remanso de recônditos regressos.
Tudo é tão terrivelmente tentador...

Aguardo ansiosa a angústia do amanhecer.
Desejo o desejo do beijo dormente,
dolente, descompassado, devorante e devorador.
Preciso da palavra de precioso veludo
pronunciada num passado ainda presente.
Faltas-me no tu que já fui eu.
Volatilizo vazios que vagabundeiam
nos vagos vagares que vivem nas vielas da verdade,
e em vão vou sonambulando o teu nome silenciado...

EM - MARGINÁLIA - ANTOLOGIA - EDITA-ME

terça-feira, 18 de agosto de 2015

Lembrando: Aquilino Ribeiro - VÍTOR CINTRA

Nasceu em Sernacelhe - Carregal.
Lamego e em Viseu, ali estudou.
Não tendo vocação sacerdotal,
Também o seminário frequentou.

Não fora ser um tanto desordeiro
E sendo um romancista de valor,
Tivesse dado à escrita o tempo inteiro
Seria a sua obra bem maior.

Foi preso e evadiu-se duas vezes,
Em ambas por revoltas abraçadas.
E sempre o mesmo exílio nas jornadas.

Casou também na terra dos franceses.
Sabendo misturar trigo com joio
Na vida toda sempre teve apoio.

EM - NAS MARGENS DO ESQUECIMENTO - VÍTOR CINTRA - LUA DE MARFIM

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Do lado mais calado do tempo* - GRAÇA PIRES

LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO PELA AUTORA

Do lado mais calado do tempo
podemos falar das mãos das mães,
tão frágeis, quando trazem nas costas
a febre dos filhos.
Podemos sentir o rosto perturbado
das crianças que nos mostram a boca
mordida pela fome.
Podemos querer de volta o fascínio
dos papagaios de papel e do tempo
em que não faltava ninguém
nas fotografias da família.

EM - POEMAS ESCOLHIDOS 1990-2011 - GRAÇA PIRES - EDIÇÃO DE AUTOR

domingo, 16 de agosto de 2015

A nostalgia do sol - ALVARO GIESTA

LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO PELO AUTOR

A nostalgia do sol
é uma prece
que fica a irradiar

na primordial penumbra
da noite

Entra-se nessa luz...

profana-se o oculto
despojando do seu ventre
o susto
e o silêncio

No fundo da paisagem
o silêncio
que corta as veias dos pulsos,

verte
o sangue
da algema que já não sela
a voz
para todo o sempre

EM - UM ARBUSTO NO OLHAR - ALVARO GIESTA - CALÇADA DAS LETRAS

sábado, 15 de agosto de 2015

Ródão - VÍTOR CINTRA

Elevas-te no topo duma escarpa,
Olhando, lá do alto, o rio Tejo.
Memória doutro tempo em que o desejo
Da honra acicatava como farpa.

Das lutas, que travou contra a mourama,
Em ti o grande Wamba descansou.
E, sempre que o califa o atacou,
Maior foi, entre o povo, a sua fama.

Mais tarde, ao suceder a reconquista,
Por ter valor 'stratégico essa crista
Impôs-se refazer a construção.

Mas séculos passados, nem a vista
Tão bela, que nos enche de emoção,
Impede um abandono, sem perdão.

EM - NA SENDA DOS TEMPLÁRIOS - VÍTOR CINTRA - LUA DE MARFIM

sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Voos apelos - JOSÉ LUÍS OUTONO

O infindável sedar apelo dos teus lábios
dilatou-se na lucidez horizonte
do meu atear constante de vontades uníssonas.

Faltam poucas leituras geodésicas
para sombrear o teu corpo mar.

Até já, imperdível falésia guardadora dos meus traços.

EM - MARGINÁLIA - ANTOLOGIA - EDITA-ME

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Cadeiras vazias - SÉRGIO GODINHO

Cadeiras vazias são prova de vida.
ali se sentou ao piano a mãe
ali se decidiu em que noite.
Partir é um pré-balanço da vida: assim
fosse para sempre.
madeiras com três nós
Três nós na madeira no soalho,
assim vista a função
assim fosse.
Furam (mas seguram) o vasto e longo itinerário.

De lembranças só dá conta o filho da prevista
terra de ninguém.
Para alguns (mas agora não eu)
o inesperado é mesmo agora.

Mãe, hoje voltei
uma cadeira será fonte de alegrias.
De ano a ano nem o tempo passa
mas tu ainda sabes disso.

EM - O SANGUE POR UM FIO - SÉRGIO GODINHO - ASSÍRIO & ALVIM

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Aviltado - VÍTOR CINTRA

Se toda a minha mágoa vem da dor
De ver o meu país tão aviltado,
É esta canalhada, em bom rigor,
Que faz com que me sinta angustiado.

Se em cada candeeiro pendurassem
Um "chulo", que político se diz,
Faríamos que as vidas melhorassem,
Cortando todo o mal pela raiz.

Quem nada é, além de parasita,
É réu do "mau viver" e da desdita,
Que atingem todo o povo e Portugal.

Enforcar, duma vez, esta cambada
Era mostrar respeito à Pátria amada
E erradicar, de vez, todo este mal.

EM - AO ACASO - VÍTOR CINTRA - LUA DE MARFIM

terça-feira, 11 de agosto de 2015

Poesia é a melodia do coração - MARIA ISABEL RODRIGUES

LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO PELA EDITORA

Canto todo dia esta canção
A cada passo que dou
Mais forte eu sou
E mais firme piso o chão
Canto todo dia a mesma melodia
Ao som de um violão vou cantando
Poesia é arte, é vida e é alegria
Isso me faz bem todo dia
A alegria da vida é ter alguém que nos entenda com amor
Com palavras que nos alivia a dor
Transmitindo a mensagem do bem
Pela manhã saudar o dia
Com um sorriso de satisfação
Por estarmos vivos e caminhando cada dia para a evolução...
E continuarei a cantar e a escrever Poesia...
A melodia do coração.

EM - AMANTES DA POESIA - ANTOLOGIA - UNIVERSUS

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Penedono - VÍTOR CINTRA

Chamaram-te "Castelo do Magriço"
Por Álvaro Coutinho ser a glória
Dos "Pares d'Inglaterra" e já, por isso,
Mais rica ter ficado a tua história.

Mas quando Dom Ramiro de Leão,
Após vir de Simancas co'a vitória,
Mandou ir Tedoniz p'ra região
Já eras bem antigo na memória.

Doente e sem herdeiros, te doou
Chamoa, à sua tia Mumadona,
Co'os muitos bens que tinha em toda a zona.

Mas, quando Portugal se transformou
Em reino português, ficas pertença
Do trono, com reforço da presença.

EM - NO CREPÚSCULO DAS AMEIAS - VÍTOR CINTRA - LUA DE MARFIM

domingo, 9 de agosto de 2015

A carta - JOSÉ ALBERTO OLIVEIRA

O apelo à sinceridade
não resultou:
há muito que deixou
esta casa,
que um olhar
indiferente percorre;
escreveu uma carta,
três páginas
que lhe custaram
noites e sossego,
com as datas precisas
e os pormenores
sangrados,
para a esquecer
numa gaveta promíscua.

EM - NADA TÃO IMPORTANTE, QUE NÃO POSSA SER DITO - JOSÉ ALBERTO OLIVEIRA - ASSÍRIO & ALVIM

sábado, 8 de agosto de 2015

Dois tempos - JOSÉ GABRIEL DUARTE

Ontem
noutro tempo
tudo se apressava
nem por nada
eu esperava.

Hoje
sorvo as manhãs
alimento-me das tardes
saboreio as noites
enlaço-me no tempo.

Vou contando os dias
esquecendo os anos
marcando os instantes
saboreando as horas.

Enganando o tempo
no relógio das palavras...

EM - MARGINÁLIA - ANTOLOGIA - EDITA-ME

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

A voz - ANTÓNIO MEGA FERREIRA

Ah, louvar a voz
de Deus,
se Deus cantasse,
se a sua divina voz
existisse
antes de estar
no coração dos homens,
se Deus ousasse
ou tivesse estado
entre nós,
antes de nós,
entre um murmúrio
e a neve,
entre o sol e a voz.

EM - O TEMPO QUE NOS CABE - ANTÓNIO MEGA FERREIRA - ASSÍRIO & ALVIM

quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Acordamos - ALVARO GIESTA

LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO PELO AUTOR

Acordamos...

nesse lugar vazio
da noite
nascerá
o novo dia,

far-se-á renascer
de novo
ao acordarmos

Nesse lugar vazio da noite
um rio de silêncio apenas...

a manhã deixa o poema inacabado
como se a promessa fosse
para adormecer os sentidos

Nascerá o poema
ao gerar-se da sombra
a imagem
no desvendar da luz

EM - UM ARBUSTO NO OLHAR - ALVARO GIESTA - CALÇADA DAS LETRAS

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

A chave de casa - TERESA M.G. JARDIM

Ouves o mar enrolado
as pedras, as palavras
atiradas às paredes da casa
o poema que me resiste?

Quero enlouquecer
devagar, esquecer o meu nome
a forma regular
o bolso que ninguém encontra
a chave dentro.

EM - JOGOS RADICAIS - TERESA M.G. JARDIM - ASSÍRIO & ALVIM

terça-feira, 4 de agosto de 2015

Manaus - VÍTOR CINTRA

Os homens da borracha te elegeram
Como a sua cidade, em tempos idos,
Mas hoje, muitos anos decorridos,
São outros interesses que prosperam.

O grande rio Negro, que te banha,
Tão largo, tão profundo, tão comprido,
Acaba por ser força a dar sentido
À vida, mesmo que ela seja estranha.

Já foste olhada em tempos, no passado,
Por quem na selva, quase desterrado,
Vivia, como a única cidade.

Mas hoje és capital dum mundo imenso,
Um mundo florestal, de um verde intenso,
Pulmão essencial da humanidade.

EM - POR TERRAS DE VERA CRUZ - VÍTOR CINTRA - LUA DE MARFIM

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Antecâmara - NATÉRCIA FREIRE

Anjo Branco. Infinita figura.
Companheiro impassível. Deserto
De qualquer criatura.

Tocador de instrumentos cinzentos.
Adejante penumbra nos ventos.
És de pedra. Infinita figura.

Se tens voz - a memória te escuta.
Se tens forma - a memória te oculta.
Tocador de instrumentos cinzentos.

Estás nos olhos, nos lábios de alguém
Que te espera e não sabe que tem
Os teus dedos nos seus movimentos.

EM - ANTOLOGIA POÉTICA - NATÉRCIA FREIRE - ASSÍRIO & ALVIM

domingo, 2 de agosto de 2015

Permaneces trancado* - LUIS FALCÃO

Permaneces trancado
No interior de um segredo
Implorando por dedos
Que silenciosa e docemente
Fossem abrindo
As corolas dos crisântemos

Uma criança olha-te de muito longe.

EM - PÉTALAS NEGRAS ARDEM NOS TEUS OLHOS - LUIS FALCÃO - ASSÍRIO & ALVIM

sábado, 1 de agosto de 2015

O infinito não tem memória - JOSÉ BRITES INÁCIO

O suor dos mares
são os rios
primeiro
e depois as nuvens
em percurso ao invés.

Atarantado
recolho pássaros e peixes
párias de vento
e sem marés.

À sétima virá a onda
e a ode
e a última carta que escrevi
devolvida
só asas
sem pés.

EM - MARGINÁLIA - ANTOLOGIA - EDITA-ME