sexta-feira, 30 de novembro de 2012
Poeta - LITA LISBOA
Poeta vive a falar de amor,
Poeta vive a falar de dor,
Poeta informa,
Poeta grita,
e quem lê a sua escrita?
Poeta imagina,
Poeta cria,
Poeta sofre,
Poeta grita,
e quem lê a sua escrita?
Poeta voa,
Poeta inventa,
Poeta sonha,
Poeta grita,
e quem lê a sua escrita?
Poeta morre,
num labirinto de palavras,
num oceano ignorado,
com a ferida, jamais sarada,
da incompreensão.
EM - CREPÚSCULO - LITA LISBOA - TEMAS ORIGINAIS
quinta-feira, 29 de novembro de 2012
Quero-te - RUTH CÂNDIDO
Quero-te.
Quero-te por ser tua
quero-te desesperadamente
como a noite precisa da lua
de um luar branco e luzente
como um rio beijando a vertente
deitada no leito nua.
Quero-te.
Para seres meu
querendo-me absolutamente
todo o meu ser, todo o meu eu
numa paixão ardente
por um amor estonteante
que dá a quem é seu...
Quero-te.
EM - UM SOPRO NO DESTINO - RUTH CÂNDIDO - LUA DE MARFIM
quarta-feira, 28 de novembro de 2012
No meu olhar - CECÍLIA VILAS BOAS
No meu olhar, voam pássaros inventados
Contos lendários de príncipes e princesas
Centelhas de ventos sobranceiros
Violetas que perfumam o meu travesseiro.
Vejo névoas que encobrem castelos
Manhãs de bruma em dias soalheiros
Ondas oceânicas, que rebentam nas estrelas
Tudo cabe ali, na fantasia do meu olhar...
Nos meus sonhos perco-me em melancolia
Ainda lembro as brisas aladas do fim de tarde
E as magnólias do meu jardim...
Onde estão as magnólias do meu jardim?!
EM - O ECO DO SILÊNCIO - CECÍLIA VILAS BOAS - ESFERA DO CAOS
terça-feira, 27 de novembro de 2012
Templo extremo - CLÁUDIO CORDEIRO
A hora é um templo extremo.
A água impõe um nome
a cada dia importado pelo vento.
Não me revolto com a luz.
É preciso coragem para suportar
as lágrimas do coveiro.
O tempo perdido é um punhado
de terra salgada...
... por palavras que secaram
a luz do dia.
EM - UM TUDO NADA ÁGUA - CLÁUDIO CORDEIRO - LUA DE MARFIM
segunda-feira, 26 de novembro de 2012
Os afectos - ANA CASANOVA
Porque se fecham portas e janelas
Porque se viram costas
Se negam palavras
Levantam muros de indiferença...
Tudo assim perde forma e sentido
Pois não existe maior porta
Que a dos Afectos
A que desbrava caminhos
E encurta as distâncias
Porque o amor
Recebêmo-lo em catadupa
Quando nos damos
domingo, 25 de novembro de 2012
Contra a árdua torrente * - ANTÓNIO GIL
Contra a àrdua torrente
do tempo que me recobre
água cristalina sobe
em busca de sua nascente
o fluir é este instante
em movimento contrário
partindo de largo estuário
desaguando a montante
memória: secreto labor
lugar de perpétua esgrima
alquímica matéria-prima
convertida em luz d'alvor
EM - OBRA AO RUBRO - ANTÓNIO GIL - LUA DE MARFIM
sábado, 24 de novembro de 2012
Perpetuar o amor - LUIS FERREIRA
Entre a poeira,
Existirão sempre degraus para pisares,
Uma luz escondida,
Entre jardins
Que irão brilhar ao teu toque.
Falei de ti,
Chamei pelo teu nome,
Germinando ecos no ventre da terra,
Entre as mais límpidas palavras,
Que acenderam as madrugadas.
Hoje,
No refúgio do nosso ninho,
Abrigo eterno...
Ainda sinto os ardores,
Que me levam a escrever os versos
Recordando todo o amor que fizemos.
EM - O CÉU TAMBÉM TEM DEGRAUS - LUIS FERREIRA - ESFERA DO CAOS
sexta-feira, 23 de novembro de 2012
A Alma - TELMA ESTEVÃO
Grandes são os labirintos,
da minha alma e os caminhos
Da minha vida.
Flutuam sem dimensão,
São fantasmas e fantasias,
Que cavalgam no meu tempo
E deixam rastilhos
De um fogo em brasa.
São os lamentos da dor
No rufar do tambor
Que rasga o céu.
Apenas por instantes,
Oiço os ecos do amor
E as palavras,
Na sua cor de mel.
Nesta valsa tocada,
Cai a noite estrelada
Também ela encantada.
Neste meu destino alucinado,
Sigo querendo manter oculto,
Este local tão desejado.
EM - PALAVRAS - TELMA ESTEVÃO - LUA DE MARFIM
da minha alma e os caminhos
Da minha vida.
Flutuam sem dimensão,
São fantasmas e fantasias,
Que cavalgam no meu tempo
E deixam rastilhos
De um fogo em brasa.
São os lamentos da dor
No rufar do tambor
Que rasga o céu.
Apenas por instantes,
Oiço os ecos do amor
E as palavras,
Na sua cor de mel.
Nesta valsa tocada,
Cai a noite estrelada
Também ela encantada.
Neste meu destino alucinado,
Sigo querendo manter oculto,
Este local tão desejado.
EM - PALAVRAS - TELMA ESTEVÃO - LUA DE MARFIM
quinta-feira, 22 de novembro de 2012
Na noite do quarto * - UNDERSCORE
Na noite do quarto,
todos os corpos são sombrios...
todos se assombram com a sua própria sombra.
Na noite do quarto,
a luz é um folgo de vida.
Na noite do quarto,
a luz é a velha esperança de
um dia de sol.
EM - VULNERABILIDADES NO DESERTO - UNDERSCORE - CHIADO EDITORA
* O poema não tem titulo, usei o 1º verso por razões logisticas
quarta-feira, 21 de novembro de 2012
A minha escolha - VERA SOUSA SILVA
Sou quem sabe da minha morte,
escolho o tempo
e a forma,
a banda sonora
e a sequência final.
Não quero flores
de quem nunca me as deu
com um sorriso perfumado.
Não quero lágrimas
de quem nunca me soube
amar, como mereci.
Não quero palavras
de quem nunca teve tempo
nem paciência para me ouvir.
Quero apenas poemas
num livro branco,
escritos pela alma
de quem um dia
morreu feliz.
EM - BIPOLARIDADES - VERA SOUSA SILVA - LUA DE MARFIM
escolho o tempo
e a forma,
a banda sonora
e a sequência final.
Não quero flores
de quem nunca me as deu
com um sorriso perfumado.
Não quero lágrimas
de quem nunca me soube
amar, como mereci.
Não quero palavras
de quem nunca teve tempo
nem paciência para me ouvir.
Quero apenas poemas
num livro branco,
escritos pela alma
de quem um dia
morreu feliz.
EM - BIPOLARIDADES - VERA SOUSA SILVA - LUA DE MARFIM
terça-feira, 20 de novembro de 2012
Tela de palavras - MARIA JOSÉ LACERDA
Nas palavras
Mais bonitas de mim
Na junção de cada uma
Tudo se arruma
Na perfeição.
Em cada conjugação
Na tela feita de palavras
O Sol e a Lua
Em perfeita sintonia
Misturam a noite e o dia.
Num sentido imperfeito
Cheio de perfeitos sentidos
Não há tempo perdido
Nesta tela de palavras
Consentida
E com sentido
Onde todo o Amor é unido
A fundo perdido.
EM - ESCRITUS E RABISCUS - MARIA JOSÉ LACERDA - UNIVERSUS
segunda-feira, 19 de novembro de 2012
Olhos de poeta - EDSON INCOPTÉ
Vejo o mundo
Como um mar de rosas
E vejo mesmo!
Algumas pisadas
Outras com espinhos
Mas vejo!
Vejo em cada pessoa
Uma rosa diferente
Em cada rosa
Um beleza presente
Vejo sem receios
Porque vejo ao meu jeito
Vejo com olhos de poeta
Que até o sofrimento
O inspira para mais um momento
EM - INSANA REBELDIA - EDSON INCOPTÉ - TEMAS ORIGINAIS
domingo, 18 de novembro de 2012
Fado lembrança - JESÚS RECIO BLANCO
Um violino quebrado neste canto,
uma lua ferida na janela,
quatro cravos vermelhos e uma estrela.
Isto é tudo o que tenho, por enquanto.
Na minha sala um barco de amaranto,
entre ecos de mercúrio e de canela;
uma espada de vento em cada vela,
uma esteira de sombra, um nó de espanto.
Três espelhos de neve por meu rosto,
três pássaros sem peito e sem pegada,
um calendário triste e descomposto;
apenas o silêncio da almofada.
Isto é tudo o que resta desse agosto:
teus olhos de ar e musgo. A minha nada.
EM - SOBRE OS FADOS - JESÚS RECIO BLANCO - LUA DE MARFIM
sábado, 17 de novembro de 2012
Beijo de luz - JOSÉ M.M. PEDRO
pequenina
Feita de espuma
do mar,
Como estrela
que ilumina
- Numa noite de luar.
Nessa onda
a desmaiar
Baila, volteia
seduz
Vem o Mar
trazê-la à praia
- Um beijo de Luz
EM - AO SABOR DO VENTO E DA MARÉ - JOSÉ M. M. PEDRO - UNIVERSUS
sexta-feira, 16 de novembro de 2012
Simone Weil - JOSÉ TOLENTINO MENDONÇA
Mantinha um fascínio indeciso
uma impressão capaz de proteger
tanto a ordem como a rebeldia
sozinha perante pedidos
agitações e escombros
desligada há muito de motivos
EM - BALDIOS - JOSÉ TOLENTINO MENDONÇA - ASSÍRIO & ALVIM
uma impressão capaz de proteger
tanto a ordem como a rebeldia
sozinha perante pedidos
agitações e escombros
desligada há muito de motivos
EM - BALDIOS - JOSÉ TOLENTINO MENDONÇA - ASSÍRIO & ALVIM
quinta-feira, 15 de novembro de 2012
Rir, roer - ALEXANDRE O'NEILL
E se fôssemos rir,
Rir de tudo, tanto,
Que à força de rir
Nos tornássemos pranto.
Pranto colector
Do que em nós sobeja?
No riso, na dor,
Que o homem se veja.
Se veja disforme,
Se disforme for.
Um horror enorme?
Há outro maior...
E se não houver,
O horror é nosso.
Põe o dente a roer,
Leva o dente ao osso!
EM - POESIAS COMPLETAS - ALEXANDRE O'NEILL - ASSÍRIO & ALVIM
Rir de tudo, tanto,
Que à força de rir
Nos tornássemos pranto.
Pranto colector
Do que em nós sobeja?
No riso, na dor,
Que o homem se veja.
Se veja disforme,
Se disforme for.
Um horror enorme?
Há outro maior...
E se não houver,
O horror é nosso.
Põe o dente a roer,
Leva o dente ao osso!
EM - POESIAS COMPLETAS - ALEXANDRE O'NEILL - ASSÍRIO & ALVIM
quarta-feira, 14 de novembro de 2012
Ronda - MIGUEL TORGA
Parece a teimosia
De uma criança:
Do outro lado... Do outro lado... Do outro lado...
E larga as rédeas à imaginação,
Num galope furtivo e aventureiro.
Do outro lado há outra inquietação...
Do outro lado nasce o sol primeiro...
Ah, sempre insatisfeita,
Contrafeita
Natureza humana!
Ah, tentação raiana
Do pensamento!
Passar, passar, de todas as maneiras!
Mas passar, sem licença, passa o vento,
Que não tem pátria, nem fronteiras.
EM - POESIA COMPLETA VOL. II - MIGUEL TORGA - DOM QUIXOTE
De uma criança:
Do outro lado... Do outro lado... Do outro lado...
E larga as rédeas à imaginação,
Num galope furtivo e aventureiro.
Do outro lado há outra inquietação...
Do outro lado nasce o sol primeiro...
Ah, sempre insatisfeita,
Contrafeita
Natureza humana!
Ah, tentação raiana
Do pensamento!
Passar, passar, de todas as maneiras!
Mas passar, sem licença, passa o vento,
Que não tem pátria, nem fronteiras.
EM - POESIA COMPLETA VOL. II - MIGUEL TORGA - DOM QUIXOTE
terça-feira, 13 de novembro de 2012
Noite de S. João... - ALBERTO CAEIRO
Noite de S. João para além do muro do meu quintal.
Do lado de cá, eu sem noite de S. João.
Porque há S. João onde o festejam.
Para mim há uma sombra de luz de fogueiras na noite,
Um ruído de gargalhadas, os baques dos saltos.
E um grito casual de quem não sabe que eu existo.
EM - POESIA - ALBERTO CAEIRO - ASSÍRIO & ALVIM
Do lado de cá, eu sem noite de S. João.
Porque há S. João onde o festejam.
Para mim há uma sombra de luz de fogueiras na noite,
Um ruído de gargalhadas, os baques dos saltos.
E um grito casual de quem não sabe que eu existo.
EM - POESIA - ALBERTO CAEIRO - ASSÍRIO & ALVIM
segunda-feira, 12 de novembro de 2012
Fado - MANUEL ALEGRE
Com que voz nos dirias com que voz
de lira já cansada e enrouquecida?
A gente cega e surda somos nós
o tempo se mudou mas não a vida.
Com que voz nos dirias com que voz?
O tempo se mudou mas não o ser
falas connosco às vezes quase a sós
e o que te dói nos dizes sem doer.
Com que voz de além poema e de além língua?
Quem procura notícias não encontra.
Com que voz? Vai-se a ver e é outra Índia.
Com que voz nos dirias e quem diz
a outra biografia o viver contra?
Com que voz? Vai-se a ver e é um país.
EM - POESIA II - MANUEL ALEGRE - DOM QUIXOTE
de lira já cansada e enrouquecida?
A gente cega e surda somos nós
o tempo se mudou mas não a vida.
Com que voz nos dirias com que voz?
O tempo se mudou mas não o ser
falas connosco às vezes quase a sós
e o que te dói nos dizes sem doer.
Com que voz de além poema e de além língua?
Quem procura notícias não encontra.
Com que voz? Vai-se a ver e é outra Índia.
Com que voz nos dirias e quem diz
a outra biografia o viver contra?
Com que voz? Vai-se a ver e é um país.
EM - POESIA II - MANUEL ALEGRE - DOM QUIXOTE
domingo, 11 de novembro de 2012
Epílogo - MANUEL BANDEIRA
Eu quis um dia, como Schumann, compor
Um Carnaval todo subjectivo:
Um Carnaval em que só o motivo
Fosse o meu próprio ser interior...
Quando o acabei - a diferença que havia!
O de Schumann é um poema cheio de amor,
E de frescura, e de mocidade...
E o meu tinha a morta morta-cor
Da senilidade e da amargura...
- O meu Carnaval sem nenhum alegria!...
EM - ANTOLOGIA - MANUEL BANDEIRA - RELÓGIO D'ÁGUA
Um Carnaval todo subjectivo:
Um Carnaval em que só o motivo
Fosse o meu próprio ser interior...
Quando o acabei - a diferença que havia!
O de Schumann é um poema cheio de amor,
E de frescura, e de mocidade...
E o meu tinha a morta morta-cor
Da senilidade e da amargura...
- O meu Carnaval sem nenhum alegria!...
EM - ANTOLOGIA - MANUEL BANDEIRA - RELÓGIO D'ÁGUA
sábado, 10 de novembro de 2012
Soneto do amor total - VINICIUS DE MORAES
Amo-te tanto, meu amor... não cante
O humano coração com mais verdade...
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade.
Amo-te afim, de um calmo amor prestante
E te amo além, presente na saudade.
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.
Amo-te como um bicho, simplesmente
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.
E de te amar assim, muito e amiúde
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude.
EM - ANTOLOGIA POÉTICA - VINICIUS DE MORAES - DOM QUIXOTE
O humano coração com mais verdade...
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade.
Amo-te afim, de um calmo amor prestante
E te amo além, presente na saudade.
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.
Amo-te como um bicho, simplesmente
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.
E de te amar assim, muito e amiúde
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude.
EM - ANTOLOGIA POÉTICA - VINICIUS DE MORAES - DOM QUIXOTE
sexta-feira, 9 de novembro de 2012
Lira romantiquinha - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
por que me trancas
o rosto e o riso
e assim me arrancas
do paraíso?
Por que não queres,
deixando o alarme
(ai, Deus: mulheres!)
acarinhar-me?
Por que cultivas
as sem-perfume
e agressivas
flores do ciúme?
Acaso ignoras
que te amo tanto,
todas as horas,
já nem sei quanto?
Visto que em suma
é todo teu,
de mais nenhuma,
o peito meu?
Anjo sem fé
nas minhas juras,
porque é que é
que me angusturas?
Minh'alma chove
frio, tristinho.
Não te comove
este versinho?
EM - ANTOLOGIA POÉTICA - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE - RELÓGIO D'ÁGUA
o rosto e o riso
e assim me arrancas
do paraíso?
Por que não queres,
deixando o alarme
(ai, Deus: mulheres!)
acarinhar-me?
Por que cultivas
as sem-perfume
e agressivas
flores do ciúme?
Acaso ignoras
que te amo tanto,
todas as horas,
já nem sei quanto?
Visto que em suma
é todo teu,
de mais nenhuma,
o peito meu?
Anjo sem fé
nas minhas juras,
porque é que é
que me angusturas?
Minh'alma chove
frio, tristinho.
Não te comove
este versinho?
EM - ANTOLOGIA POÉTICA - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE - RELÓGIO D'ÁGUA
quinta-feira, 8 de novembro de 2012
Ar livre - CECÍLIA MEIRELES
A menina translúcida passa.
Vê-se a luz do sol dentro dos seus dedos.
Brilha em sua narina o coral do dia.
Leva o arco-íris em cada fio do cabelo.
Em sua pele, madrepérolas hesitantes
pintam leves alvoradas de neblina.
Evaporam-se-lhe os vestidos, na paisagem.
É apenas o vento que vai levando seu corpo pelas alamedas.
A cada passo, uma flor, a cada movimento, um pássaro.
E quando pára na ponte, as águas todas vão correndo,
em verdes lágrimas para dentro dos seus olhos.
EM - ANTOLOGIA POÉTICA - CECÍLIA MEIRELES - RELÓGIO D'ÁGUA
Vê-se a luz do sol dentro dos seus dedos.
Brilha em sua narina o coral do dia.
Leva o arco-íris em cada fio do cabelo.
Em sua pele, madrepérolas hesitantes
pintam leves alvoradas de neblina.
Evaporam-se-lhe os vestidos, na paisagem.
É apenas o vento que vai levando seu corpo pelas alamedas.
A cada passo, uma flor, a cada movimento, um pássaro.
E quando pára na ponte, as águas todas vão correndo,
em verdes lágrimas para dentro dos seus olhos.
EM - ANTOLOGIA POÉTICA - CECÍLIA MEIRELES - RELÓGIO D'ÁGUA
quarta-feira, 7 de novembro de 2012
Outono do amor...* - GASTÃO CRUZ
Outono do amor que folhas moves
na direcção dos corpos separados
e molhas desses prantos ignorados
de quem da primavera conheceu o
movimento das aves
e desse movimento estas esperas
agora só conhece já e ouve
a própria descida com as folhas
a voz própria cansada
quando a vida
e a voz lhas está a dor tirando
Outono do amor outono de aves
e de vozes caladas e de folhas
molhadas de temor e surdo pranto
EM - POEMAS DE AMOR - ANTOLOGIA - DOM QUIXOTE
na direcção dos corpos separados
e molhas desses prantos ignorados
de quem da primavera conheceu o
movimento das aves
e desse movimento estas esperas
agora só conhece já e ouve
a própria descida com as folhas
a voz própria cansada
quando a vida
e a voz lhas está a dor tirando
Outono do amor outono de aves
e de vozes caladas e de folhas
molhadas de temor e surdo pranto
EM - POEMAS DE AMOR - ANTOLOGIA - DOM QUIXOTE
terça-feira, 6 de novembro de 2012
Bicho da terra - PEDRO MEXIA
Bicho da terra, mas basta
uma pazada brutal
ou umas quantas para fertilizar
o mundo que tanto fiz promessas.
Terra, que designas solo e planeta,
inimai os nossos pecados,
os remorsos de cadáver, a pequena
condição do vaso. Vaso oco,
vaso putrefacto, honorífico,
digno de coisa alguma, coisa
ele mesmo. Mas se assim
me sei e me aceito como
foi que num entardecer confiada-
mente te entreguei a órbita
e a minha órbita para sempre?
EM - MENOS POR MENOS - PEDRO MEXIA - DOM QUIXOTE
uma pazada brutal
ou umas quantas para fertilizar
o mundo que tanto fiz promessas.
Terra, que designas solo e planeta,
inimai os nossos pecados,
os remorsos de cadáver, a pequena
condição do vaso. Vaso oco,
vaso putrefacto, honorífico,
digno de coisa alguma, coisa
ele mesmo. Mas se assim
me sei e me aceito como
foi que num entardecer confiada-
mente te entreguei a órbita
e a minha órbita para sempre?
EM - MENOS POR MENOS - PEDRO MEXIA - DOM QUIXOTE
segunda-feira, 5 de novembro de 2012
Paixão - MARIA TERESA HORTA
limito-me a sentir-te
simplesmente
a beber o teu cheiro
cheia de sede
A tomar-te nos meus braços
neste incêndio
deixando-me afundar
por tanto querer-te
EM - AS PALAVRAS DO CORPO - MARIA TERESA HORTA - DOM QUIXOTE
simplesmente
a beber o teu cheiro
cheia de sede
A tomar-te nos meus braços
neste incêndio
deixando-me afundar
por tanto querer-te
EM - AS PALAVRAS DO CORPO - MARIA TERESA HORTA - DOM QUIXOTE
domingo, 4 de novembro de 2012
Repouso - MIGUEL TORGA
Paz das alturas, evasão furtiva
Da inquietação rasteira.
Aprazível clareira
Na floresta do tempo penitente.
Branca serenidade passageira
Onde tudo é sereno eternamente.
Um pequeno descanso refractário
De ser homem.
Pousei o meu carrego.
A cavalo na terra, olho-a de cima,
Fugido à força de atracção que anima
O seu desassossego.
EM - POESIA COMPLETA VOL. II - MIGUEL TORGA - DOM QUIXOTE
Da inquietação rasteira.
Aprazível clareira
Na floresta do tempo penitente.
Branca serenidade passageira
Onde tudo é sereno eternamente.
Um pequeno descanso refractário
De ser homem.
Pousei o meu carrego.
A cavalo na terra, olho-a de cima,
Fugido à força de atracção que anima
O seu desassossego.
EM - POESIA COMPLETA VOL. II - MIGUEL TORGA - DOM QUIXOTE
sábado, 3 de novembro de 2012
A água chia...* - ALBERTO CAEIRO
A água chia no púcaro que elevo à boca.
«É um som fresco» diz-me quem me dá a bebê-la.
Sorrio. O som é só um som de chiar.
Bebo a água sem ouvir nada na minha garganta.
EM - POESIA - ALBERTO CAEIRO - ASSÍRIO & ALVIM
«É um som fresco» diz-me quem me dá a bebê-la.
Sorrio. O som é só um som de chiar.
Bebo a água sem ouvir nada na minha garganta.
EM - POESIA - ALBERTO CAEIRO - ASSÍRIO & ALVIM
sexta-feira, 2 de novembro de 2012
Sigam o vosso caminho - LUÍS FERREIRA
Rebanho de desgraçados,
Eu... sigo o meu, mesmo que sozinho,
Servirei a Deus... não às tentações do Diabo
Nesta maneira louca... sã de agir.
Crio os meus próprios laços...
Desenho a minha vida no livro que se abre
Sou o que sou e nada devo a ninguém,
Por isso, meus amigos...
Grito... grito e gritarei
Ao mundo e a ninguém
Sigam os vossos passos...
Não vale a pena... chamarem por mim
Vou à minha vida...
À procura da Felicidade!!!
EM - ROSAS & ESPINHOS - LUÍS FERREIRA - TEMAS ORIGINAIS
Eu... sigo o meu, mesmo que sozinho,
Servirei a Deus... não às tentações do Diabo
Nesta maneira louca... sã de agir.
Crio os meus próprios laços...
Desenho a minha vida no livro que se abre
Sou o que sou e nada devo a ninguém,
Por isso, meus amigos...
Grito... grito e gritarei
Ao mundo e a ninguém
Sigam os vossos passos...
Não vale a pena... chamarem por mim
Vou à minha vida...
À procura da Felicidade!!!
EM - ROSAS & ESPINHOS - LUÍS FERREIRA - TEMAS ORIGINAIS
quinta-feira, 1 de novembro de 2012
Endechas ou Canção da diferença - MANUEL ALEGRE
De Bárbara outro poema outra palavra
Senhora nossa que não tem senhor
De Bárbara a diferença que faltava
E nunca mais na língua uma só cor
De Bárbara o ser só ela sendo a outra
Senhora nossa santa pretidão
Antes de Bárbara Europa era tão pouca
Cativos somos nós Bárbara não
EM - POESIA II - MANUEL ALEGRE - DOM QUIXOTE
Senhora nossa que não tem senhor
De Bárbara a diferença que faltava
E nunca mais na língua uma só cor
De Bárbara o ser só ela sendo a outra
Senhora nossa santa pretidão
Antes de Bárbara Europa era tão pouca
Cativos somos nós Bárbara não
EM - POESIA II - MANUEL ALEGRE - DOM QUIXOTE
Subscrever:
Mensagens (Atom)