segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

Pesa-me – LANE GALHARDO

LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO POR IN-FINITA
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Saudade dói por dentro
Quando a gente perde alguém
O que suplanta esta dor
É seguir e viver bem.
Assim aconteceu comigo
Quando minha mãe faleceu
Tudo parecia triste
Minha alegria se perdeu.
Foram dias de sofrimento
Sem norte e sem vontade
Trabalhar era um tormento
Tudo era dor e saudade.
Mas tinha que reagir
Pois a vida continua
E de nada adianta
Viver só de amargura.
Além de toda essa dor
Tinha também um desejo
De poder encontrá-la
Dá-lhe um último beijo.
Seria impossível, eu sei
Estava então sentenciada
Respirar das lembranças
Memórias armazenadas.
Nutrir isso não é fácil
Mãe deveria ser eterna
Mas enquanto estou aqui
Serei seu fruto na Terra.

EM - VERSO & PROSA - COLECTÃNEA - IN-FINITA

domingo, 30 de janeiro de 2022

Lisboa – JOSÉ FERNANDO DELGADO MENDONÇA

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Lisboa

tenho pudor

de falar de ti

porque te amo

de todas as formas

 

bem sei

que tens uma rival

sabes bem qual é

porque tem mar

por todo o lado

tem ruas feitas de mar

muitos turistas

como tu

 

mas sete colinas … não tem

 

não tens canais

mas tens um rio

grande, largo

com gaivotas e cacilheiros

 

tens outra margem

de beleza rara

também por tua causa

porque de lá

te vemos sem defeitos

 

tens miradouros

onde os poetas sonham

verso a verso

e os amantes

se entrelaçam

esperando a noite

 

tens um poeta

feito de muitos poetas

 

tens o fado

que é de todos nós

tens amália, josé afonso

e tantos outros

 

tens o castelo

calçada portuguesa

maresia

também velhas amarras

que nos obrigam sempre a ficar

 

tens o vinte e oito

número mágico

para um eléctrico

 

e tens muito mais

que  por pudor

não posso contar


EM - VERSO & PROSA - COLECTÃNEA - IN-FINITA

sábado, 29 de janeiro de 2022

Não pude criar a mulher… - JOSÉ ANTÓNIO PINTO

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Não criei a mulher por que cheguei atrasado

e sem talento para vencer o Miguel Ângelo
ou outro Ângelo, capaz de lhe fazer frente.
Se a pudesse ter criado tê-la-ia desenhado sem pressas
com pinceladas de sedução numa gradação de cores
transmutáveis com a intensidade do desejo e do prazer.
O busto teria tanto de belo como de misterioso
sublimando-se com a luminosidade e a música.
Os lábios seriam sensuais e doces disparando felicidade
sem economia de tempo nem espaço.
Mas se pudesse ter criado o homem,
deixá-lo-ia o tempo que bastasse numa ilha qualquer
para observar e aprender com a mulher.
E é essa a minha frustração por não ter podido criar homem,
nem mulher...

EM - VERSO & PROSA - COLECTÃNEA - IN-FINITA

sexta-feira, 28 de janeiro de 2022

As palavras que te digo – JOAQUINA RAIMUNDO

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Meu amor, as palavras que sinto e te digo

Têm o pulsar do meu feliz coração,

De mim, têm o amor que trago comigo,

E por te amar tanto ganharam emoção!

 

Dos meus lábios, são fonte de água pura,

Têm a frescura de um lindo jardim;

Dos meus olhos são toda a ternura

E por te amar tanto ficaram assim!

 

Têm da florida primavera a linda cor,

Foram criadas somente por amor

E com elas estás, no meu amoroso eu!

 

Têm todas os meus sonhos de mulher

E em tudo o que, em cada uma, te disser,

É o meu coração a dar-te cada beijo meu!


EM - VERSO & PROSA - COLECTÃNEA - IN-FINITA

quinta-feira, 27 de janeiro de 2022

Saudade não me faz chorar - INÊZ OLUDÉ DA SILVA

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meu corpo
que eu saiba
não faz nunca
minutos de silêncio

ora se lamenta
ora se desmonta
ora despeja versos
capengas, ocos
sem sentido

outras se despenca
desborda, transborda

me transporta sem piedade
de porta em porta
dos olhos da alma
volta torpe
se revolta
se arrebenta
se suspende

meu corpo é minha oca
nele não tenho repouso
mas por nenhum
outro lhe troco

por momentos
pesa, penso
no fundo, intui que a saudade
do que fui
não me faz chorar

EM - OS POEMAS QUE O DIABO AMASSOU - INÊZ OLUDÉ DA SILVA - IN-FINITA

Bélico desabrochar – JOANA COMPLETO

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O suspiro gritou de um vazio insano

Consistente e aparentemente perpétuo
Outrora faseado em pétalas cintilantes
Inspirado no momento fugaz e sorrateiro
Num brilho florescente brevemente momentâneo
Uma corola de brisas num tiro certeiro
Longínquo recuou como uma flora descendente
Tépida e reconfortante num esmalte singelo
Esboço inacabado de raízes adocicadas
O mel cruzado em capítulos estonteantes
Paladar colorido em sintonia com o carpelo
Memórias ocultas refletidas e exorbitantes
Com a brisa rodopiou em paraísos defasados
Simbiose escondida no pólen determinante
Por vezes claros e escuros, enraizados na pele pigmentada
Disfarçados foram os dias que outrora erradicou
Caprichos falseados por asas alheias
Espinhos ofuscados que o céu miraculou
Alma negada com tenra sapiência
Virtudes subjugadas em reflexos tocantes
Tormentas ofuscadas pela água celestial
Caminhos de louvor entre o vento e a razão
Porquê? Questiona a fábula inexistente
O apelo ergueu a parábola da salvação!

EM - VERSO & PROSA - COLECTÃNEA - IN-FINITA

quarta-feira, 26 de janeiro de 2022

Tenho poemas dentro de mim - Mª LEONOR COSTA (NONÔ)

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Tenho poemas dentro de mim,
Sempre prontos a brotar,
Nem sempre os registo
Eles voltam para o seu lugar.

Muitos ficam perdidos
Outros não me conseguem largar
Aproveitam momentos de criação
Para se poderem mostrar.

São pensamentos e mantras
Histórias, ideias e relatos
Escrevo pinceladas de instantes
Não me fico em boatos.

EM - Mª LEONOR COSTA (NONÔ) - COLECÇÃO DISPERSOS - IN-FINITA

terça-feira, 25 de janeiro de 2022

Primavera – ISA CORGOSINHO

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Dos olhos glutões

escorrem ácida chuva

solo ressentido

 

Ressequidos 

versos 

penumbram

ponticulas cortantes

 

Insalubres

sabores

bifurcam a língua

devoradoras chamas

ensandecida

Serpente

 

Jaz em cinzas

Fauna

Flora

Gente

 

Eis que a primavera

prima por novas eras

deixar-se queimar

Fênix

Vicejar

Sempre


EM - VERSO & PROSA - COLECTÃNEA - IN-FINITA

segunda-feira, 24 de janeiro de 2022

Sobrevivência 3 - JOÃO RASTEIRO

O canto que se perde nas searas da língua,
a subtileza de desenhar promessas
rompendo os diques dos seus membros,
a luz que cega na dimensão dos dias
desafiando a teia que inunda a nudez da carne
nas horas inquietas da respiração suspensa,
e apenas um estertor por entre a orla do corpo.

EM - OFÍCIO - JOÃO RASTEIRO - PORTO EDITORA

domingo, 23 de janeiro de 2022

Corpo suspenso - JOÃO RASTEIRO

O grito de todas as vértebras vazias,
as raízes brancas no caminho do eclipse
nada inocente e sagrado,
as folhas da acácia sobre o mármore florido
nos dias que antecedem a colheita,
e todavia o corpo permanece
sob o subterrâneo peso dos seus casulos
atento ao mínimo rumor ou gestos,
como se o sopro alçasse à superfície
o enigma do reino crepuscular que aguarda,
que o construa "igual a alguém que dança".

EM - OFÍCIO - JOÃO RASTEIRO - PORTO EDITORA

sábado, 22 de janeiro de 2022

As três marias - INÊZ OLUDÉ DA SILVA

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três marias
três manias
a primeira cantava de noite
a segunda filosofava de dia
a terceira nada dizia

uma cantava o silêncio
a segunda ao vento mentia
a terceira nada fazia

nem canto, nem filosofia
nem esperava à noite
o homem que lhe queria

três marias
três manias
e a vã filosofia

uma definhava da noite pro dia
a outra encheu-se de sabedoria
a terceira quis ficar só
sem nada saber

escolheu num santo dia
fazer umas bruxarias
pra ver se o diabo lhe sorria

EM - OS POEMAS QUE O DIABO AMASSOU - INÊZ OLUDÉ DA SILVA - IN-FINITA

Casamento – GILSA DA ROCHA MAGRI

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Ontem estrela me supus
antes, muito antes
sonhaste a minha luz
Te rocei com minhas vestes
mesmo grão te desejei.
A música pode tudo
cantei e dancei a tua fé!
Brotaram iluminuras de amor
cintilâncias carnais
vidas a mais.
Esqueceste dos teus pés
aos céus em seus azuis
lançou teu viver.
Em nossas peles
estampas de cometas
chão de amor surgiram.
Me fiz estrela
cai do meu espaço
mergulhei em tua areia fértil
herdamos morada
numa mansa praia
cercados de estrelas do mar.

EM - VERSO & PROSA - COLECTÃNEA - IN-FINITA

sexta-feira, 21 de janeiro de 2022

Escrevendo poesia ao som da chuva - Mª LEONOR COSTA (NONÔ)

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Escrevendo poesia ao som da chuva
Sentada no carro à porta de casa
Cai que nem uma luva
A minha imaginação levanta a asa.

Já cheira a terra molhada
O dia esteve bem quente
Assim do nada
Começou a chover de repente.

Entretanto, a chuva acalmou
Do carro já consigo sair
E assim um poema se declamou
Com o som da chuva a cair.

EM - Mª LEONOR COSTA (NONÔ) - COLECÇÃO DISPERSOS - IN-FINITA

quinta-feira, 20 de janeiro de 2022

Onde o rumor se escreve - JOÃO RASTEIRO

Tudo se mantém obscuro no cutelo do poema:
regar o cobre luminoso da raiz dos pássaros
e soldar os passos incertos no enredo da busca,
encenar silenciosamente o destino das carícias
e depois sentir-me capaz de caminhar no incêndio
até desabar "nos mapas derradeiros das viagens"
enfeitado nas tranças oleosas da serpente.

Para seduzir o corpo no esplendor do ventre,
na combustão de mel dos seus próprios vestígios,
nas palavras que "olham os abismos das âncoras",
abro os dedos, solto as borboletas e fecundo a terra.

EM - OFÍCIO - JOÃO RASTEIRO - PORTO EDITORA

quarta-feira, 19 de janeiro de 2022

Ele – GAB BOSAN

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A voz, o jeito, o cheiro
o gosto, o rosto, o posto e os gestos.
Como ele trabalha em mim
– Tarado, esforçado!
O jeito com ele trabalha, alucinado
– Não para!
O jeito que precisa de mim para tudo,
até para ver, para vestir, para comer.
Como ele pega no volante, como ele anda.
Como pega, como me pega
– Como não?
Como ele fala, como se cala,
como ele pisa no chão.
As costas, os pelos, os dedos, os braços
– E a palma da mão!
Como ele me olha, o olhar, o som, o tom
o mar, o lar, a lágrima, a casa e o chão.
A tara, a cara, a viagem,
a cerca, o quintal e o pau?
Uau!
O amigo, o dono, o sono,
o pai, o sal, o bem, o mal
– E o pão!

EM - VERSO & PROSA - COLECTÃNEA - IN-FINITA

terça-feira, 18 de janeiro de 2022

À Teresa Carvalho - JOÃO RASTEIRO

Depois do clarão um outro clarão subsiste,
um sopro rasgado em corte abertos
como se dentro dele a sombra do corpo

É preciso arriscar e sair velozmente,
como se um corpo lambendo os cílios maternos
cresça impune junto à respiração
sentindo o hálito de uma serpente branca,
a que só aguarda o ruído aceso da noite.

Algum acaso, alguma leva, impossível de intuir,
e de carícia em carícia o tronco original.

EM - OFÍCIO - JOÃO RASTEIRO - PORTO EDITORA

segunda-feira, 17 de janeiro de 2022

Bandeirada do tempo – FRANCISCO DE CAMPOS

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Sorriso, abraço e gestos outros de amizade.
É bem visível o autêntico na oferta de carinho.
Mesmo a criança rejeita abraço desprovido de afeto.
Finjo que acredito no amor que você declara.
Os tempos que eu almejava mais já se foram.
Hoje nem inteiro esse amor me faz falta.
Imagine então o que penso das suas migalhas.
 
A esperteza com fantasia de amor e saudade.
É você que vem, depois de um tempo, saciar desejos.
Eu nada perco ao dar-lhe o especial que posso.
Seu desamor teimoso retribuo com o melhor de mim.
É bom estar certo de que meu amor não morre.
Mesmo que os maus tratos insistam em querer matá-lo.
Sofrer me fez criar músculo extra no coração.
 
Estou ciente do seu papel no palco.
Mas o que um dia senti ainda é intocável.
Você é ligado a mim pelo que corre nas veias.
Sou a você ligado por perene carinho.
Sonhei longos anos por retribuição à altura.
Até que se aplacou minha inquietude.
Hoje sou feliz quando me traz a sua encenação.
 
A vida anda por cidades, estradas e campos.
O tempo a merecer primeiro lugar no pódio.
Sei que vai existir a hora da bandeirada.
Prefiro crer que esta corrida não terá chegada.
Não posso barrar a sua vocação.
Penso não merecer mais que encenação.
E assim vivo contendo os meus rios de lágrimas.

EM - VERSO & PROSA - COLECTÃNEA - IN-FINITA

O diabo de lua cheia - INÊZ OLUDÉ DA SILVA

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o diabo diz que é um gênio
que tem o teclado afiado
língua de cobra e açoite
range os dentes pela noite
não se assombra com careta
vê claro no meio do escuro
não tem medo de forças obscuras
faz poesia sem amargura

nas primeiras horas do dia
salta da cama azeitado
enfrenta os malassombros da noite
ri dos fantasmas da madrugada
e combate moinhos de vento

mas, em vez
de me atender os pedidos
como fazem os gênios dos outros
ele é que pede pra mim
me dá um poema ai, me grita
mando verso bonito
para que não me aperreie
que o tinhoso é astuto
não deixa ficar barato
se o deixo sem cuidados
dei-lhe sina de poeta
e fama de cantador

hoje escreve pra mim
de tanto que me atentou
acabou se vendendo
sou dona de sua alma

EM - OS POEMAS QUE O DIABO AMASSOU - INÊZ OLUDÉ DA SILVA - IN-FINITA

domingo, 16 de janeiro de 2022

A casa do portugués – FRANCISCO ÁLVAREZ KOKI

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Poeta galego

 

A casa do Portugués ten

unha lúa na ventana,

estrelas mais de cen

e orballo na solana.

 

Ten parladoiros nas ventanas

forno de pan de millo,

e coplas galanas

nos seus ollos de brillo.

 

Marmurios da avoa María

que voan por toda a casa,

lembranzas que día a día

construien a historia que pasa.

 

O avó Agapito sentado

fuma un pito da petaca,

ollando o arado

que na eira descansa.

 

A Benilde e a Francesa

falan o pe da figueira,

namentras leveda o pan na artesa

e arde o fogo na lareira.

 

A casa do Portugués latexa

na grandeza dos seus anos,

fuxindo de toda envexa

deitada no calor dos seus amos.

 

O Lelo. Manuel O Gaiteiro

toca a gaita na sombra da Lúa,

no seu son feiticeiro

que se escoita en toda a rúa.

 

Nas súas pedras teimudas

crecen herbas centenarias,

mazás, castañas e uvas,

penas e bagoas solidarias.

 

E ten meu Deus ese amor

que quece riba da terra,

un amor cheo de door,

que esta tarde no meu peito berra.


EM - VERSO & PROSA - COLECTÃNEA - IN-FINITA