Terraços inúteis, varandas
das traseiras, arrecadações,
escadas de caracol, marquises
desbotadas, antigas estufas,
barracas, vasos partidos,
paredes abertas, telhas,
ferro-velho, andares vazios,
degraus sem uso, o fosso
do elevador, fechaduras
de portões, gatos, cadeiras,
um sol sem préstimo,
ervas daninhas, um triciclo,
humidade, silêncio, azulejos,
sábado à tarde e o meu corpo.
EM - MENOS POR MENOS - PEDRO MEXIA - DOM QUIXOTE
domingo, 30 de junho de 2013
sábado, 29 de junho de 2013
Catinga de inimigo - JOSÉ CARLOS ARY DOS SANTOS
Minha senhora da cruz vermelha
crucificada na cruz gamada
trazeis-me novas da minha orelha?
Ai é cortada!
Minha senhora visitadora
da minha vida o desairada
trazeis-me novas da minha cova?
Ai é cavada!
Minha senhora retardadora
desta vingança sempre adiada
trazeis-me novas da minha hora?
Ai é suada!
EM - OBRA POÉTICA - JOSÉ CARLOS ARY DOS SANTOS - AVANTE
sexta-feira, 28 de junho de 2013
Não - NATÉRCIA FREIRE
Não formar nenhuma ideia
do que somos ou seremos
mas entre as vozes que fogem
precisar o que dizemos.
Dormir sonos ante-céus
abismos que são infernos.
Dormir em paz. Dormir paz,
enfim a nota segura.
Lembrar pessoas e dias
que penetraram no espaço
de eventos primaveris.
E dar a mão aos espectros
beijá-los lendas, perfis.
Amar a sombra, a penumbra
correr janelas e véus.
Saber que nada é verdade.
Dizer amor ao deserto
abraçar quem nos ignora
dormir com quem não nos vê
mas precisar do calor
de quem nunca nos encontra.
EM - ANTOLOGIA POÉTICA - NATÉRCIA FREIRE - ASSÍRIO & ALVIM
do que somos ou seremos
mas entre as vozes que fogem
precisar o que dizemos.
Dormir sonos ante-céus
abismos que são infernos.
Dormir em paz. Dormir paz,
enfim a nota segura.
Lembrar pessoas e dias
que penetraram no espaço
de eventos primaveris.
E dar a mão aos espectros
beijá-los lendas, perfis.
Amar a sombra, a penumbra
correr janelas e véus.
Saber que nada é verdade.
Dizer amor ao deserto
abraçar quem nos ignora
dormir com quem não nos vê
mas precisar do calor
de quem nunca nos encontra.
EM - ANTOLOGIA POÉTICA - NATÉRCIA FREIRE - ASSÍRIO & ALVIM
quinta-feira, 27 de junho de 2013
Amo os teus defeitos - ANTÓNIO OSÓRIO
Amo os teus defeitos, e tantos
eram, as tuas faltas para comigo
e as minhas; essa ênfase
de rechaçar por timidez; solidão
de fazer trepadeiras, agasalhos
para velhos, depois para netos;
indulgência de plantar e ver
o crescimento da oliveira do paraíso,
carregada de flores persistentemente
caducas; essa autoridade, irremediável
desafio; e a astúcia
de termos ambos quase a mesma cara.
EM - POEMAS DE AMOR - ANTOLOGIA - DOM QUIXOTE
eram, as tuas faltas para comigo
e as minhas; essa ênfase
de rechaçar por timidez; solidão
de fazer trepadeiras, agasalhos
para velhos, depois para netos;
indulgência de plantar e ver
o crescimento da oliveira do paraíso,
carregada de flores persistentemente
caducas; essa autoridade, irremediável
desafio; e a astúcia
de termos ambos quase a mesma cara.
EM - POEMAS DE AMOR - ANTOLOGIA - DOM QUIXOTE
quarta-feira, 26 de junho de 2013
Fragmento - FRANCISCO VALVERDE ARSÉNIO
O tempo é cíclico, move-se circularmente em segundos fora dos relógios, é voraz e (in)concreto, é um rasgo, é uma ilha com forma de quimera. O tempo é um fragmento do vazio que nos cabe preencher, é um grão de pó que não conseguimos guardar nas algibeiras. O tempo é o paradoxo da quietude.
EM - CIDADE EMPRESTADA - FRANCISCO VALVERDE ARSÉNIO - UNIVERSUS
EM - CIDADE EMPRESTADA - FRANCISCO VALVERDE ARSÉNIO - UNIVERSUS
terça-feira, 25 de junho de 2013
Os meus versos - FLORBELA ESPANCA
Rasga esses versos que eu te fiz, Amor!
Deita-os ao nada, ao pó, ao esquecimento,
Que a cinza os cubra, que os arraste o vento,
Que a tempestade os leve aonde for!
Rasga-os na mente, se os souberes de cor,
Que volte ao nada o nada de um momento!
Julguei-me grande pelo sentimento,
E pelo orgulho ainda sou maior!...
Tanto verso já disse o que eu sonhei!
Tantos penaram já o que eu penei!
Asas que passam, todo o mundo as sente...
Rasgas os meus versos... Pobre endoidecida!
Como se um grande amor cá nesta vida
Não fosse o mesmo amor de toda a gente!...
EM - SONETOS - FLORBELA ESPANCA - BERTRAND
Deita-os ao nada, ao pó, ao esquecimento,
Que a cinza os cubra, que os arraste o vento,
Que a tempestade os leve aonde for!
Rasga-os na mente, se os souberes de cor,
Que volte ao nada o nada de um momento!
Julguei-me grande pelo sentimento,
E pelo orgulho ainda sou maior!...
Tanto verso já disse o que eu sonhei!
Tantos penaram já o que eu penei!
Asas que passam, todo o mundo as sente...
Rasgas os meus versos... Pobre endoidecida!
Como se um grande amor cá nesta vida
Não fosse o mesmo amor de toda a gente!...
EM - SONETOS - FLORBELA ESPANCA - BERTRAND
segunda-feira, 24 de junho de 2013
Doces lembranças... - LUIS VAZ DE CAMÕES
Doces lembranças da passada glória,
que me tirou Fortuna roubadora,
deixai-me repousar em paz u'hora,
que comigo ganhais pouca vitória.
Impressa tenho n'alma larga história
deste passado beque nunca fora;
ou fora, e não passara; mas já agora
em mim não pode haver mais que a memória.
Vivo em lembranças, mouro d'esquecido,
de quem sempre devera ser lembrado,
se lhe lembrara estado tão contente.
Oh! quem tornar pudera a ser nascido!
Soubera-me lograr do bem passado,
se conhecer soubera o mal presente.
EM - POESIA LÍRICA - LUIS VAZ DE CAMÕES - VERBO
que me tirou Fortuna roubadora,
deixai-me repousar em paz u'hora,
que comigo ganhais pouca vitória.
Impressa tenho n'alma larga história
deste passado beque nunca fora;
ou fora, e não passara; mas já agora
em mim não pode haver mais que a memória.
Vivo em lembranças, mouro d'esquecido,
de quem sempre devera ser lembrado,
se lhe lembrara estado tão contente.
Oh! quem tornar pudera a ser nascido!
Soubera-me lograr do bem passado,
se conhecer soubera o mal presente.
EM - POESIA LÍRICA - LUIS VAZ DE CAMÕES - VERBO
domingo, 23 de junho de 2013
Domingo - JORGE DE SENA
Na orla do mar azul
de um céu quase sem nuvens,
as águas, crespas, murmuram.
Jogam ao sol crianças
na aragem primaveril.
Já outras param pensando
as formas do corpo alheio.
Os barcos, suaves, singram
nos olhos de solitários
cujos passos hesitantes
pela praia se misturam
aos de corridas e jogos
da juventude esgotando-se.
As vozes chegam longínquas...
Meus passos deixam sinais
que a tarde, ténue, adejando,
aos outros misturará
na orla do mar azul.
EM - ANTOLOGIA POÉTICA - JORGE DE SENA - GUIMARÃES
de um céu quase sem nuvens,
as águas, crespas, murmuram.
Jogam ao sol crianças
na aragem primaveril.
Já outras param pensando
as formas do corpo alheio.
Os barcos, suaves, singram
nos olhos de solitários
cujos passos hesitantes
pela praia se misturam
aos de corridas e jogos
da juventude esgotando-se.
As vozes chegam longínquas...
Meus passos deixam sinais
que a tarde, ténue, adejando,
aos outros misturará
na orla do mar azul.
EM - ANTOLOGIA POÉTICA - JORGE DE SENA - GUIMARÃES
sábado, 22 de junho de 2013
Tesouro - JOSÉ LUÍS OUTONO
No fundo do mar aberto de pleno imenso
Está um tesouro opaco de curiosidades
Algas dançantes guardiãs seculares
Que hospedam o borbulhar de uma lenda...
No fundo secreto fascínio do mar toldado
Há um silêncio cantado de cores matizes
Há vida e espelhos de metamorfoses líricas
Há rasgos e correntes cíclicas de atrevimentos...
Neste sétimo mar de horizonte indefinido
Folheio o calendário metódico de esperanças
Na conquista de um passar sem amarras
Volteio de águas rainhas e feudos...
Escrevo-te mar profundo de viagens
Neste ritual de palavras vestidas de ti
Onde balanço as gotas da mão tangente
De um matinal brincar liberto contigo...
EM - MAR DE SENTIDOS - JOSÉ LUÍS OUTONO - EDIÇÕES VIEIRA DA SILVA
Está um tesouro opaco de curiosidades
Algas dançantes guardiãs seculares
Que hospedam o borbulhar de uma lenda...
No fundo secreto fascínio do mar toldado
Há um silêncio cantado de cores matizes
Há vida e espelhos de metamorfoses líricas
Há rasgos e correntes cíclicas de atrevimentos...
Neste sétimo mar de horizonte indefinido
Folheio o calendário metódico de esperanças
Na conquista de um passar sem amarras
Volteio de águas rainhas e feudos...
Escrevo-te mar profundo de viagens
Neste ritual de palavras vestidas de ti
Onde balanço as gotas da mão tangente
De um matinal brincar liberto contigo...
EM - MAR DE SENTIDOS - JOSÉ LUÍS OUTONO - EDIÇÕES VIEIRA DA SILVA
sexta-feira, 21 de junho de 2013
A talha de Coimbra - JAIME CORTESÃO
Quem inventou a talha era casado.
Revejo o artista e a mulher, já mãe,
Cheia de graça doce que elas têm,
Vendo o filhinho adormecido ao lado.
Viu-a: e a talha tem o seio arqueado
E o mesmo pucarinho, vejam bem,
No lindo testo, se não é também
Um menino no berço inda deitado.
Formam as asas um airoso par:
É porque as Mães, a quem o Amor exalta,
Erguem os filhos, a tremer, no ar...
Ei-la igualzinha quase que ao modelo,
Tão boa e maternal que só lhe falta
Pôr o menino ao colo e adormecê-lo...
EM - POESIA - JAIME CORTESÃO - INCM
Revejo o artista e a mulher, já mãe,
Cheia de graça doce que elas têm,
Vendo o filhinho adormecido ao lado.
Viu-a: e a talha tem o seio arqueado
E o mesmo pucarinho, vejam bem,
No lindo testo, se não é também
Um menino no berço inda deitado.
Formam as asas um airoso par:
É porque as Mães, a quem o Amor exalta,
Erguem os filhos, a tremer, no ar...
Ei-la igualzinha quase que ao modelo,
Tão boa e maternal que só lhe falta
Pôr o menino ao colo e adormecê-lo...
EM - POESIA - JAIME CORTESÃO - INCM
quinta-feira, 20 de junho de 2013
Hino ao desejo e à fantasia - JESSICA NEVES
Cai a noite de mansinho, nua
Em pleno olhar de lua cheia
Agridoce tentação, minha e tua
Adivinhando a última ceia...
Contorno traço a traço o teu rosto
Dos teus lábios de mar, provo o sal
Sinto a ondulação, saboroso mosto
Des(a)pertando o toque celestial...
De asas acetinadas, somos anjos nus
Clamando o hino ao desejo e à fantasia
Diamante lapidados sem tabus
Em noite mágica, recital de poesia...
Troncos suados no cais do prazer
Soprando alto a mais pura paixão
Poema-explosão, sede de pertencer
De quem se quer em êxtase-união!
Afogados a meio da estrela sírio
Nossos corpos mornos, estremecidos
Ancorados um ao outro, em delírio
Exaustos, poeticamente rendidos...
Desvendando segredos ao ouvido
Nu(m)a explosão sem amanhã
Desatam-se as fontes em vagido
Com aroma a canela e hortelã!
EM - AUDAZ FANTASIA - ANTOLOGIA - UNIVERSUS
Em pleno olhar de lua cheia
Agridoce tentação, minha e tua
Adivinhando a última ceia...
Contorno traço a traço o teu rosto
Dos teus lábios de mar, provo o sal
Sinto a ondulação, saboroso mosto
Des(a)pertando o toque celestial...
De asas acetinadas, somos anjos nus
Clamando o hino ao desejo e à fantasia
Diamante lapidados sem tabus
Em noite mágica, recital de poesia...
Troncos suados no cais do prazer
Soprando alto a mais pura paixão
Poema-explosão, sede de pertencer
De quem se quer em êxtase-união!
Afogados a meio da estrela sírio
Nossos corpos mornos, estremecidos
Ancorados um ao outro, em delírio
Exaustos, poeticamente rendidos...
Desvendando segredos ao ouvido
Nu(m)a explosão sem amanhã
Desatam-se as fontes em vagido
Com aroma a canela e hortelã!
EM - AUDAZ FANTASIA - ANTOLOGIA - UNIVERSUS
quarta-feira, 19 de junho de 2013
Hotel viking - NATÁLIA CORREIA
Onde os peixes e as maçãs
misturam os acidulados cheiros
acordo numa vibrátil manhã
que descarregam os barcos pesqueiros
freme o mar no búzio do ar
um salgado latido um acorde
de coração pelas fúrias marinhas
atraído na ponta de um fiorde
Do resplendor do holmenkolen
despenha-se oslo branca e breve
no salto de um esquiador
crescente de uma lua de neve
Chamada pela rocha caminhante
atira-lhe serpentinas o mar
e por caminhos de leite de cabra
se chega à palavra chegar
Predicam as renas no púlpito
do granito uma abscôndita Ofir
à força dos olhos das renas
acabaremos por existir?
É esse o segredo que hasteia
no reino sonâmbulo das estátuas
um obelisco de corpos que trepam
por um som de prometidas flautas?
EM - POESIA COMPLETA - NATÁLIA CORREIA - DOM QUIXOTE
misturam os acidulados cheiros
acordo numa vibrátil manhã
que descarregam os barcos pesqueiros
freme o mar no búzio do ar
um salgado latido um acorde
de coração pelas fúrias marinhas
atraído na ponta de um fiorde
Do resplendor do holmenkolen
despenha-se oslo branca e breve
no salto de um esquiador
crescente de uma lua de neve
Chamada pela rocha caminhante
atira-lhe serpentinas o mar
e por caminhos de leite de cabra
se chega à palavra chegar
Predicam as renas no púlpito
do granito uma abscôndita Ofir
à força dos olhos das renas
acabaremos por existir?
É esse o segredo que hasteia
no reino sonâmbulo das estátuas
um obelisco de corpos que trepam
por um som de prometidas flautas?
EM - POESIA COMPLETA - NATÁLIA CORREIA - DOM QUIXOTE
terça-feira, 18 de junho de 2013
Mulher sofrida... mulher real - ALEXANDRE CARVALHO
Beijo-te com língua húmida
percorrendo teu pescoço
estás de vestes despida
sinto-te como um esboço.
Imóvel, hirta, tensa
feita estátua
em pó de pedra prensa
tua beleza será perpétua.
Escorrida de suor, ora frio ora quente
percorrendo-te o dorsal com as mãos
faço acelerar teu desejo premente
vivos estão os teus órgãos
sentes paixão renascer dentro de ti
imaginas um jogo
queres fugir daí
saltar do pedestal
brotam chispas de fogo
das entranhas da mulher animal
soltaste os pés
inicias um prólogo
finalmente és...
Mulher real.
EM - CAVALETE COM POESIA - ALEXANDRE CARVALHO - UNIVERSUS
percorrendo teu pescoço
estás de vestes despida
sinto-te como um esboço.
Imóvel, hirta, tensa
feita estátua
em pó de pedra prensa
tua beleza será perpétua.
Escorrida de suor, ora frio ora quente
percorrendo-te o dorsal com as mãos
faço acelerar teu desejo premente
vivos estão os teus órgãos
sentes paixão renascer dentro de ti
imaginas um jogo
queres fugir daí
saltar do pedestal
brotam chispas de fogo
das entranhas da mulher animal
soltaste os pés
inicias um prólogo
finalmente és...
Mulher real.
EM - CAVALETE COM POESIA - ALEXANDRE CARVALHO - UNIVERSUS
segunda-feira, 17 de junho de 2013
Só a prosa é que se emenda - ALBERTO CAEIRO
Como ele me disse uma vez:«Só a prosa é que se emenda. O verso nunca se emenda. A prosa é artificial. O verso é que é natural. Nós não falamos em prosa. Falamos em verso. Falamos em verso sem rima nem ritmo. Fazemos pausas na conversa que na leitura da prosa se não podem fazer. Falamos, sim, em verso, em verso natural - isto é, em verso sem rima nem ritmo, com as pausas do nosso fôlego e sentimento.
Os meus versos são naturais porque são feitos assim...
O verso ritmado e rimado é bastardo e ilegítimo.»
EM - POESIA - ALBERTO CAEIRO - ASSÍRIO & ALVIM
Os meus versos são naturais porque são feitos assim...
O verso ritmado e rimado é bastardo e ilegítimo.»
EM - POESIA - ALBERTO CAEIRO - ASSÍRIO & ALVIM
domingo, 16 de junho de 2013
Sou... - RITA FARIAS
Sou o que sou
nua e crua
com ou sem vestido
sou eu!
Triste arrependida
alegre destemida
sou eu!
A transparência
que alcanças em mim
aveludada em cetim
sou eu!
Aquela que maltratas
e que olha por ti
sem fim
sou eu!
A tal que dá o que tem
e o que não tem luta por ter
para te oferecer
sem nada temer
sou eu!
A vilã que chora
a vítima que grita
a cobarde que te encara
a frontal que se esconde
sou eu!
Pronta para viver
a temível realidade
sou eu!
Apagando
a vida em ilusão
temendo
a audaz fantasia
sou eu!
A que acende
a luz à escuridão
a que fecha
a cortina à multidão
sou eu!
A que vês e ouves,
a fria e quente
sou eu!
sou eu!
que deixei de ser
para ser TU!
EM - AUDAZ FANTASIA - ANTOLOGIA - UNIVERSUS
nua e crua
com ou sem vestido
sou eu!
Triste arrependida
alegre destemida
sou eu!
A transparência
que alcanças em mim
aveludada em cetim
sou eu!
Aquela que maltratas
e que olha por ti
sem fim
sou eu!
A tal que dá o que tem
e o que não tem luta por ter
para te oferecer
sem nada temer
sou eu!
A vilã que chora
a vítima que grita
a cobarde que te encara
a frontal que se esconde
sou eu!
Pronta para viver
a temível realidade
sou eu!
Apagando
a vida em ilusão
temendo
a audaz fantasia
sou eu!
A que acende
a luz à escuridão
a que fecha
a cortina à multidão
sou eu!
A que vês e ouves,
a fria e quente
sou eu!
sou eu!
que deixei de ser
para ser TU!
EM - AUDAZ FANTASIA - ANTOLOGIA - UNIVERSUS
sábado, 15 de junho de 2013
Sangram roseiras - MARIA ANTONIETA OLIVEIRA
Sangram pétalas vermelhas
Das roseiras do meu jardim
São dores sofridas da alma
São lágrimas derramadas por mim.
Sentidas, profundas
Soltando os gritos contidos
Soltando amarras ao vento
No desatino dum pobre sentimento.
Rolam pela calçada
Formando um rio colorido
São lágrimas tristes, cansadas
Perdidas no caminho percorrido.
Soltam-se pétalas vermelhas
Gemendo, gritando lamentos
Sangram os espinhos cravados
Na vida, da vida, os tormentos.
Sangram
As roseiras do meu jardim.
EM - ENTRE O SONO E O SONHO VOL IV TOMO II - ANTOLOGIA - CHIADO EDITORA
Das roseiras do meu jardim
São dores sofridas da alma
São lágrimas derramadas por mim.
Sentidas, profundas
Soltando os gritos contidos
Soltando amarras ao vento
No desatino dum pobre sentimento.
Rolam pela calçada
Formando um rio colorido
São lágrimas tristes, cansadas
Perdidas no caminho percorrido.
Soltam-se pétalas vermelhas
Gemendo, gritando lamentos
Sangram os espinhos cravados
Na vida, da vida, os tormentos.
Sangram
As roseiras do meu jardim.
EM - ENTRE O SONO E O SONHO VOL IV TOMO II - ANTOLOGIA - CHIADO EDITORA
sexta-feira, 14 de junho de 2013
A tarde do romancista - VASCO GRAÇA MOURA
tarde tensa em bicesse. o meu romance
encravou e não ata nem desata.
há quem me recomende que descanse
e deixe de escrever da pátria ingrata
e fale de outras coisas, das que não
têm risco especial nem figurino,
mas pátria do romance é a paixão
e pátria da paixão é o destino
e é ele que comanda as personagens
e o seu desvario, o seu desnorte,
encontros, desencontros e viagens,
razão e sem razão e vida e morte.
tarde tensa em bicesse, mas os fados
por vezes dão enredos encravados.
EM - POESIA 2001/2005 - VASCO GRAÇA MOURA - QUETZAL
encravou e não ata nem desata.
há quem me recomende que descanse
e deixe de escrever da pátria ingrata
e fale de outras coisas, das que não
têm risco especial nem figurino,
mas pátria do romance é a paixão
e pátria da paixão é o destino
e é ele que comanda as personagens
e o seu desvario, o seu desnorte,
encontros, desencontros e viagens,
razão e sem razão e vida e morte.
tarde tensa em bicesse, mas os fados
por vezes dão enredos encravados.
EM - POESIA 2001/2005 - VASCO GRAÇA MOURA - QUETZAL
quinta-feira, 13 de junho de 2013
O anjo de pedra - EUGÉNIO DE ANDRADE
Tinha os olhos abertos mas não via.
O corpo todo era a saudade
de alguém que o modelara e não sabia
que o tocara de maio e claridade.
Parava o seu gesto onde pára tudo:
no limiar das coisas por saber
- e ficara surdo e cego e mudo
para que tudo fosse grave no seu ser.
EM - PRIMEIROS POEMAS... - EUGÉNIO DE ANDRADE - ASSÍRIO & ALVIM
O corpo todo era a saudade
de alguém que o modelara e não sabia
que o tocara de maio e claridade.
Parava o seu gesto onde pára tudo:
no limiar das coisas por saber
- e ficara surdo e cego e mudo
para que tudo fosse grave no seu ser.
EM - PRIMEIROS POEMAS... - EUGÉNIO DE ANDRADE - ASSÍRIO & ALVIM
quarta-feira, 12 de junho de 2013
Olhos lindos - JOSÉ MOURA
Um dia passaram por mim
Dois olhos tão lindos e depois
Julguei sonhar, vendo enfim
Os teus olhos como há só dois.
Vi esses dois olhos tão lindos,
A sonhar pensei serem os teus
E aqueles olhos tão lindos
Depois afastaram-se dos meus.
Falta pouco para me veres,
Ontem faltava mais.
Se são lindos não sei ver
Pois deve haver muitos iguais.
Olhos, espelhos da tua beleza!
Com uma força de razão
Definem em ti a pureza
E o amor que tens no coração.
EM - PALAVRAS QUE DIZEMOS - JOSÉ MOURA - UNIVERSUS
Dois olhos tão lindos e depois
Julguei sonhar, vendo enfim
Os teus olhos como há só dois.
Vi esses dois olhos tão lindos,
A sonhar pensei serem os teus
E aqueles olhos tão lindos
Depois afastaram-se dos meus.
Falta pouco para me veres,
Ontem faltava mais.
Se são lindos não sei ver
Pois deve haver muitos iguais.
Olhos, espelhos da tua beleza!
Com uma força de razão
Definem em ti a pureza
E o amor que tens no coração.
EM - PALAVRAS QUE DIZEMOS - JOSÉ MOURA - UNIVERSUS
terça-feira, 11 de junho de 2013
Vida - CECÍLIA MEIRELES
Do pano mais velho usava.
Do pão mais velho comia.
Num leito de vides secas,
e de cilícios vestida,
em travesseiro de pedra,
seu curto sono dormia.
Cada vez mais pobre
tinha de ser sua vida,
entre orações e trabalhos
e milagres que fazia,
a salvar a humanidade
dolorida.
Mãos no altar, a acender luzes,
pés na pedra fria.
Humilde, entre as companheiras;
diante do mal, destemida,
Irmã Clara, em seu mosteiro
ténue vivia.
EM - ANTOLOGIA POÉTICA - CECÍLIA MEIRELES - RELÓGIO D'ÁGUA
Do pão mais velho comia.
Num leito de vides secas,
e de cilícios vestida,
em travesseiro de pedra,
seu curto sono dormia.
Cada vez mais pobre
tinha de ser sua vida,
entre orações e trabalhos
e milagres que fazia,
a salvar a humanidade
dolorida.
Mãos no altar, a acender luzes,
pés na pedra fria.
Humilde, entre as companheiras;
diante do mal, destemida,
Irmã Clara, em seu mosteiro
ténue vivia.
EM - ANTOLOGIA POÉTICA - CECÍLIA MEIRELES - RELÓGIO D'ÁGUA
segunda-feira, 10 de junho de 2013
Um caso real - JOEL LIRA
Num dos bancos do jardim,
Queimados pelo sol e pelo uso,
Há um desgaste pelo abuso
Em cada tarde sem fim
Alguém, sentado, curvado,
Tem nas pernas a cabeça.
Ignorando a sentença,
É refém do seu estado.
Seu corpo exala um cheiro,
Moribundo, sem dinheiro,
Ressona perdidamente...
Quem lá passa, vê desgraça,
Nem ele sabe a sua graça.
Só se vê que "aquilo" é gente!
EM - POESIA AO VENTO - JOEL LIRA - LUA DE MARFIM
Queimados pelo sol e pelo uso,
Há um desgaste pelo abuso
Em cada tarde sem fim
Alguém, sentado, curvado,
Tem nas pernas a cabeça.
Ignorando a sentença,
É refém do seu estado.
Seu corpo exala um cheiro,
Moribundo, sem dinheiro,
Ressona perdidamente...
Quem lá passa, vê desgraça,
Nem ele sabe a sua graça.
Só se vê que "aquilo" é gente!
EM - POESIA AO VENTO - JOEL LIRA - LUA DE MARFIM
domingo, 9 de junho de 2013
Conselho - MIGUEL TORGA
Renuncia, poeta!
Renuncia!
Sou eu, também poeta, que to digo.
Nenhum verso se deixa encarcerar.
Prender água nas mãos é um jogo antigo,
Que aumenta a sede, em vez de a mitigar.
Temos
O que perdemos
Dia a dia.
O sol da poesia
É lua, em nós.
Sai-nos do peito um canto comovido,
E ouvimos, como um eco arrefecido,
O som da própria voz.
EM - POESIA COMPLETA VOL. II - MIGUEL TORGA - DOM QUIXOTE
Renuncia!
Sou eu, também poeta, que to digo.
Nenhum verso se deixa encarcerar.
Prender água nas mãos é um jogo antigo,
Que aumenta a sede, em vez de a mitigar.
Temos
O que perdemos
Dia a dia.
O sol da poesia
É lua, em nós.
Sai-nos do peito um canto comovido,
E ouvimos, como um eco arrefecido,
O som da própria voz.
EM - POESIA COMPLETA VOL. II - MIGUEL TORGA - DOM QUIXOTE
sábado, 8 de junho de 2013
Ah, falemos da brisa - EUGÉNIO DE ANDRADE
Eu dizia:
«Nenhuma brisa é triste»,
e procurava água, lábios,
um corpo
onde a solidão fosse impossível.
Mas quem sabe dessa música
cativa nos meus dedos?
E depois, como guardar um beijo,
mar doirado ou sombra
desolada?
Recordava um rio,
álamos,
o sabor nupcial da chuva,
tropeçava em lágrimas e soluços
e lágrimas, e procurava.
Como quem se despe
para amar a madrugada nas areias,
eu dizia: «Nenhuma brisa é triste,
triste», e procurava.
E procurava.
EM - AS PALAVRAS INTERDITAS/ATÉ AMANHÃ - EUGÉNIO DE ANDRADE - ASSÍRIO & ALVIM
«Nenhuma brisa é triste»,
e procurava água, lábios,
um corpo
onde a solidão fosse impossível.
Mas quem sabe dessa música
cativa nos meus dedos?
E depois, como guardar um beijo,
mar doirado ou sombra
desolada?
Recordava um rio,
álamos,
o sabor nupcial da chuva,
tropeçava em lágrimas e soluços
e lágrimas, e procurava.
Como quem se despe
para amar a madrugada nas areias,
eu dizia: «Nenhuma brisa é triste,
triste», e procurava.
E procurava.
EM - AS PALAVRAS INTERDITAS/ATÉ AMANHÃ - EUGÉNIO DE ANDRADE - ASSÍRIO & ALVIM
sexta-feira, 7 de junho de 2013
Gula - LUISA DEMÉTRIO RAPOSO
Os sentidos, qual é o sentido?
Dois são pendentes, e um sentido...
Estava alto e tenso, o órgão vivo,
O estímulo inflecte nas minhas mãos!...
Havia a boca que o tinha... Devastador...
Todo o organismo, neutro vago tremor!
Em ti há chamas em... Num estrídulo duro.
Sucção da boca, que tem na boca, tem, na língua da boca...
Latente, que bate, na fronte, em frente, tua frente louca!
É na boca, é atrás, é na língua, é atrás, voz que suspira, rouca...
Torrente impetuosa, incandescente, extrema tensão!...
Na exausta haste erecta... Numa gula fascinação...
EM - RESPIRAÇÃO DAS COISAS - LUISA DEMÉTRIO RAPOSO - TEMAS ORIGINAIS
Dois são pendentes, e um sentido...
Estava alto e tenso, o órgão vivo,
O estímulo inflecte nas minhas mãos!...
Havia a boca que o tinha... Devastador...
Todo o organismo, neutro vago tremor!
Em ti há chamas em... Num estrídulo duro.
Sucção da boca, que tem na boca, tem, na língua da boca...
Latente, que bate, na fronte, em frente, tua frente louca!
É na boca, é atrás, é na língua, é atrás, voz que suspira, rouca...
Torrente impetuosa, incandescente, extrema tensão!...
Na exausta haste erecta... Numa gula fascinação...
EM - RESPIRAÇÃO DAS COISAS - LUISA DEMÉTRIO RAPOSO - TEMAS ORIGINAIS
quinta-feira, 6 de junho de 2013
A ideia I - ANTERO DE QUENTAL
Pois que os deuses antigos e os antigos
Divinos sonhos por esse ar se somem,
E à luz do altar da fé, em Templo ou Dolmem,
Apagaram os ventos inimigos;
Pois que o Sinai se enubla e os seus pascigos,
Secos à míngua de água, se consomem,
E os profetas d'outrora todos dormem
Esquecidos, em terra sem abrigo;
Pois que o céu se fechou e já não desce
Na escada de Jacob (na de Jesus!)
Um só anjo, que aceite a nossa prece;
É que o lírio da Fé já não renasce:
Deus tapou com a mão a sua luz
E ante os homens velou a sua face!
EM - SONETOS - ANTERO DE QUENTAL - ULMEIRO
Divinos sonhos por esse ar se somem,
E à luz do altar da fé, em Templo ou Dolmem,
Apagaram os ventos inimigos;
Pois que o Sinai se enubla e os seus pascigos,
Secos à míngua de água, se consomem,
E os profetas d'outrora todos dormem
Esquecidos, em terra sem abrigo;
Pois que o céu se fechou e já não desce
Na escada de Jacob (na de Jesus!)
Um só anjo, que aceite a nossa prece;
É que o lírio da Fé já não renasce:
Deus tapou com a mão a sua luz
E ante os homens velou a sua face!
EM - SONETOS - ANTERO DE QUENTAL - ULMEIRO
quarta-feira, 5 de junho de 2013
O quarto em desordem - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
Na curva perigosa dos cinquenta
derrapei neste amor. Que dor! que pétala
sensível e secreta me atormenta
e me provoca a síntese da flor
que não se sabe como é feita: amor,
na quinta-essência da palavra, e mudo
de natural silêncio já não cabe
em tanto gesto de colher e amar
a nuvem que de ambígua se dilui
nesse objecto mais vago do que nuvem
e mais defeso, corpo! corpo, corpo,
verdade tão final, sede tão vária,
e esse cavalo solto pela cama,
a passear o peito de quem ama.
EM - ANTOLOGIA POÉTICA - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE - RELÓGIO D'ÁGUA
derrapei neste amor. Que dor! que pétala
sensível e secreta me atormenta
e me provoca a síntese da flor
que não se sabe como é feita: amor,
na quinta-essência da palavra, e mudo
de natural silêncio já não cabe
em tanto gesto de colher e amar
a nuvem que de ambígua se dilui
nesse objecto mais vago do que nuvem
e mais defeso, corpo! corpo, corpo,
verdade tão final, sede tão vária,
e esse cavalo solto pela cama,
a passear o peito de quem ama.
EM - ANTOLOGIA POÉTICA - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE - RELÓGIO D'ÁGUA
terça-feira, 4 de junho de 2013
XXXIV - DANIEL AFONSO
carregas
todo o peso do mundo
fardo da tua existência
medos
pesadelos
angústias
perdeste-te
no lamaçal
águas turbulentas
azedaste a vida
rosto de infelicidade rugosa
gestos atribulados
aflitos
vives
tão somente
o passar dos dias
carregas esse fardo
queixas dessa existência obscura
EM - DIAS DE SETEMBRO - DANIEL AFONSO - LUA DE MARFIM
todo o peso do mundo
fardo da tua existência
medos
pesadelos
angústias
perdeste-te
no lamaçal
águas turbulentas
azedaste a vida
rosto de infelicidade rugosa
gestos atribulados
aflitos
vives
tão somente
o passar dos dias
carregas esse fardo
queixas dessa existência obscura
EM - DIAS DE SETEMBRO - DANIEL AFONSO - LUA DE MARFIM
segunda-feira, 3 de junho de 2013
Sorriso - GRAÇA PIRES
A melancolia vem açoitar-me as margens do sorriso que resta nos meus lábios quando busco um sulco de água doce para chegar ao restolho das palavras em misteriosas bocas.
EM - CADERNO DE SIGNIFICADOS - GRAÇA PIRES - LUA DE MARFIM
EM - CADERNO DE SIGNIFICADOS - GRAÇA PIRES - LUA DE MARFIM
domingo, 2 de junho de 2013
Irmã - MANUEL BANDEIRA
Irmã - que outra expressão, por mais que a tente
Achar, poderei dar-te? - , em teu ouvido
Quero a queixa vazar confiantemente
Desta vida sem cor e sem sentido.
Amei outras mulheres, mas a urgente
Compreensão, sem a qual, por mais subido,
Falece o amor, esteve sempre ausente.
Em nenhuma encontrei o bem querido.
Em ti tudo é perfeito e incomparável.
E tudo o que de injusto e duro e amargo
Sofri, vieste delir com o teu carinho:
Com esse frescor de fruta desejável;
Com esse gris de teus olhos, que do largo
Me traz o ar sem mistura, o sal marinho.
EM - ANTOLOGIA - MANUEL BANDEIRA - RELÓGIO D'ÁGUA
Achar, poderei dar-te? - , em teu ouvido
Quero a queixa vazar confiantemente
Desta vida sem cor e sem sentido.
Amei outras mulheres, mas a urgente
Compreensão, sem a qual, por mais subido,
Falece o amor, esteve sempre ausente.
Em nenhuma encontrei o bem querido.
Em ti tudo é perfeito e incomparável.
E tudo o que de injusto e duro e amargo
Sofri, vieste delir com o teu carinho:
Com esse frescor de fruta desejável;
Com esse gris de teus olhos, que do largo
Me traz o ar sem mistura, o sal marinho.
EM - ANTOLOGIA - MANUEL BANDEIRA - RELÓGIO D'ÁGUA
sábado, 1 de junho de 2013
O homem do barrete preto - JOSÉ LUÍS MONTERO
O homem do barrete preto
Detém-se em pontes vidradas.
Recua e avança
Através das ramas do pinheiro verde.
Diz-se calmo, seguro, equilibrado
Em cima do falo adorado.
O homem do barrete preto
Canta monossílabos
Aos eucaliptos australianos.
EM - COMEÇOU A VIAGEM - JOSÉ LUÍS MONTERO - UNIVERSUS
Detém-se em pontes vidradas.
Recua e avança
Através das ramas do pinheiro verde.
Diz-se calmo, seguro, equilibrado
Em cima do falo adorado.
O homem do barrete preto
Canta monossílabos
Aos eucaliptos australianos.
EM - COMEÇOU A VIAGEM - JOSÉ LUÍS MONTERO - UNIVERSUS
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