sexta-feira, 19 de julho de 2019

Varreduras (excerto) - MANUEL MACHADO

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
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Acordo a pensar na faxina diária, rotineira.
Calcorreio ruas cobertas de folhas outonais,
Soltas de galhos secos anunciando invernias,
Amontoadas por ventos em noites frias.

Dobro esquinas com caixotes atulhados
Esventrados por mãos rudes e ávidas,
Famintas às côdeas desprezadas por saciados
Sequiosas por gotas deixadas em vasilhames.

Entro em pátios com cheiros de violência
Onde a gritaria denuncia intolerâncias vis
Sinto a pairar no ar insultos e sarcasmos
Das gentes cansadas das misérias da vida.

Desemboco na praça, hoje cheia e ensolarada.
Há velhos quedos a armazenar aquecimentos
Olhares fixos em águas paradas do lago existente
Apenas mecânicos à inspiração de agradáveis fumos.

Crianças que ondulam em baloiços multicolores
Mães zelosas de sorriso largo às infantis diabruras
Melros saltitantes, periquitos de galho em galho
Sons e gritarias abafam o raspar da minha vassoura.

Nesta quotidiana faxina vou construindo varreduras,
Casculhos misturados às beatas desprezadas,
Papéis alvos ou escritos rasgados ou amarfanhados,
Restos e lixos do dia-a-dia na vida das gentes.

Finda a jorna há carreiros de montículos formados,
Folhados antes viçosos agora secos e mortos,
Pressinto corjas de segredos, gemidos e queixumes,
Limpo e dou esperança à renovação do amanhã!

EM - DAR VOZ A... - MANUEL MACHADO - IN-FINITA

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