sábado, 25 de novembro de 2017

Almocreve - JOSÉ LUIZ MELO

A noite vai bem alta, mas o sono
não chega numa nuvem de algodão.
Numa cesta de vime, no abandono
deito, sob o telhado da amplidão.

Mas eu confesso que me emociono,
pela contigüidade com o chão,
me puxa para si, como meu dono,
não posso resistir à compulsão.

Eu não sei realmente se não devo,
se quero resistir a esta união,
ou se devo amoldar-me ao seu relevo,

com ele compartir o mesmo pão,
se somos alimária e almocreve,
filhos do mesmo pai, somos irmãos.

EM - LIVRO DOS SONETOS, DOS PRIMEIROS AOS PENÚLTIMOS - JOSÉ LUIZ MELO - NOVO ESTILO EDIÇÕES DE AUTOR

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