sábado, 5 de março de 2016

Analogias - NUNO JÚDICE

No dia de sol em que as árvores parecem
saídas de um postal turístico, fecho os olhos
para sonhar que é um dia de chuva. Como resultado,
a água que escorre das folhas transforma-se
num verso que se estende
até ao chão, onde se formam charcos
que reflectem as folhas presas
aos ramos. Cada uma delas é uma pequena
metáfora. Aquilo que representam tem a ver
com uma vida natural que se prolonga no inverno,
e este pensamento transporta-me de novo
para o dia de sol. Estas árvores, sem chuva,
não me dizem nada; mas quando me aproximo
da sua sombra, vejo a luz do sol escorrer por entre
as folhas, como se fosse água, e cair sobre
a sombra, formando charcos de luz. E ponho
o poema do verão ao lado do poema
do inverno, como se fossem ramos, as metáforas
que atiro para o chão do poema
como se fossem folhas.

EM - GUIA DE CONCEITOS BÁSICOS - NUNO JÚDICE - DOM QUIXOTE

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