segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

A miséria deste tempo - JOSÉ JORGE LETRIA

Os jornais gostam de sangue,
de uma forma excessiva e obscena,
porque sabem que as pessoas também gostam
e que mesmo quando fingem tapar os olhos,
por repugnância ou por pudor,
é sempre e só isso que querem ver,
matreiramente perseguindo
o líquido fio vermelho que brota
da ferida, da boca entreaberta, da cratera
escancarada pelo ferro ou pela queda.

Os jornais, todos os jornais
de uma maneira ou de outra,
trabalham hoje para o consumo,
para o gosto rafeiro da maioria
que compra, que paga, que se vende,
que apodrece no lamaçal do óbvio.

Eis a miséria moral do nosso tempo,
correndo atrás da própria cauda,
em intermináveis círculos,
enquanto alguns poetas, sempre os mesmos,
continuam a escrever defronte do espelho
só para se lembrarem de quem amam.

EM - NÃO HÁ POETAS FELIZES - JOSÉ JORGE LETRIA - INDÍCIOS DE OIRO

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