quarta-feira, 15 de maio de 2013

As cartas - FIAMA HASSE PAIS BRANDÃO

Esperas os sinais da minha existência.
Eu transcrevo-te mas não vivo no poema.
Morro na mancha do papel. Uma carta cai
no matagal como um pássaro. O não ser
caçadora dá-me um sentido conciso da
realidade. Nem os belíssimos perdigueiros
me sentirão passar aqui. Eles

não me vêem até ao âmago. Tudo
o que é exterior e visível como
o corpo atrai-os. Tenho um limite
onde estou e nada está. As cartas
caem diante da avidez de cães.
Vou existir onde jamais vivi.

EM - ÂMAGO - FIAMA HASSE PAIS BRANDÃO - ASSÍRIO & ALVIM

1 comentário:

  1. Por norma o poema desvaloriza as cartas. Já ninguém usa essa forma de comunicar...Desprezo, pode assinalar...andar com o sabor dos tempos. Gostei. Grata.

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