quinta-feira, 25 de abril de 2013

Sonata de Outono - JOSÉ CARLOS ARY DOS SANTOS

Inverno não ainda mas Outono
a sonata que bate no meu peito
poeta distraído  cão sem dono
até na própria cama em que me deito.

Acordar é a forma de ter sono
o presente o pretérito imperfeito
mesmo eu de mim próprio me abandono
se o rigor que me devo não respeito.

Morro de pé, mas morro devagar.
A vida é afinal o meu lugar
e só acaba quando eu quiser.

Não me deixo ficar. Não pode ser.
Peço meças ao Sol, ao céu, ao mar
pois viver é também acontecer.

EM - OBRA POÉTICA - JOSÉ CARLOS ARY DOS SANTOS - EDIÇÕES AVANTE

3 comentários:

  1. Muito show, Manu.

    Parabéns ao poeta José Carlos Ary dos Santos...

    "Acordar é a forma de ter sono
    o presente o pretérito imperfeito
    mesmo eu de mim próprio me abandono
    se o rigor que me devo não respeito"

    beijoca gaúcha

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    Respostas
    1. Andréa!
      Ary dos Santos foi um dos maiores nomes da poesia revolucionária portuguesa. Revolução que hipocritamente se comemora hoje!
      Beijo luso.

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  2. Sempre apreciei a poesia de Ary dos Santos. Até ao fim do meu Outono vibrava com estas mensagens contidas e algumas musicadas, como sabemos.
    Se o Poeta estivesse entre nós, o que lançaria, neste acontecer de dias gélidos,sem alma e a anunciarem uma despedida?
    Espero melhores dias para os jovens e para os que anseiam por conjugar o pret. imperfeito.
    Agradeço, com muita alegria este belo poema.

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