quarta-feira, 12 de março de 2025

Cotidiano (excerto) - Jullie Veiga

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
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a dor
o azul
a saudade incessante
o azedume e o amargo, na boca
- não comi nada

a carne morta
em carne-viva

batidas na porta
batidas no peito

alguma coisa cortando o vento
- mil rodopios no mesmo eixo

sons dum avião sobre mim
um avião em queda
uma nave em chamas na torre de um prédio

meus discos intactos
a música que não para em meus ouvidos
minha máquina de escrever - que tem nome próprio -
me olha e não me chama pelo nome, me desconhece

visto inquietudes e fujo da palavra inteira

uma palavra guardada no barro,
no ventre da terra
e no meu ventre o que se guarda de nascer
e não sonha
e chora o choro que não dorme

EM - MULHERIO DAS LETRAS PORTUGAL - COLETÂNEA - IN-FINITA

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