terça-feira, 26 de março de 2024

A noite que será sem lua - Jorge de Sena


Como a noite que chega, um cão teima ladrando,
e aqui, junto de mim, à luz tão fraca,
apenas ouço o seu ladrar longínquo.
É doce, pobre e mansa esta demora enorme.
Quando a noite chega, e estou sozinho,
e sem pensar em nada, sem saudades,
só vendo a mágoa do amor mais plácido...
tanto me falta para um sonho inglório,
um sonho dia a dia mais perdido,
mais esquecido, mais tornado hábito,
imagem de sentir alguém olhando
o resto que eu não sou, onde não estou.

Se os sonhos morrem como os sonhos passam,
que nasça o dia, como o cão se cala,
neste silêncio devotado aos outros.

EM - POST-SCRIPTUM - JORGE DE SENA - ASSÍRIO & ALVIM

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