quinta-feira, 2 de junho de 2022

O florescer do Sertão - VITÓRIA BARRETO SANTOS

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Era uma manhã ensolarada
Debaixo do pé de juá
Onde olhava a seca se espalhar
E as palhas do milho a secar.

Olhava suas pequenas filhas
Brincar com o golfo
Daquele antigo tanque que estava
Com os dias contados pra secar.

Ficava pensando na chuva
Nas goteiras da velha casa de taipa
Que nem era de piso queimado
Era de chão batido.

Se aproximava a hora do almoço
Sua esposa já vinha chegando
Como já era de costume
Vinha sorrindo e cantando.

Que a chuva chegasse mais depressa
Do que a do outro ano
Antes de lavar as mãos
Afastava o golfo e enchia a cabaça.

Mais ou menos quatro litros de água
Então se sentavam em uma roda
Faziam a sagrada oração
Os pais contavam uma história.

Saboreava a comida de sua amada
Era fava com farinha
E o resto de uma galinha
Que matou na noite passada.

Ainda tinha a rapadura
Para adoçar qualquer paladar
Mesmo que desse uma sede danada
Não deixava de provar.

Descansava meia hora
E já voltava a trabalhar
Sentia o suor escorrer na testa
E a coluna a queimar.

Mas como um bom trabalhador
Não deixava o mato crescer
Em sua pequena plantação
Pois dali tiraria seu sustento.

O dinheiro do seu pão
Assim se aproxima a noite no sertão.
Seu Pedro sentado no terreiro da casinha
Chamando as crianças da casa vizinha.

Para contar a história de Lampião
O candeeiro apagava e ascendia
A fumaça que incomodava
Já nem existia.

Pois nessa noite
Tudo se tornará alegria
Na casa de dona Maria
Tinha festa e cantoria.

Os mais velhos
Daquele povoado
Era ali que se reuniam
Ao som do xote e baião.

Com sua velha sanfona
Luiz Gonzaga a tocar
E aos amigos do pife
Vinham prestigiar.

Naquela cozinha de taipa
O fogão de lenha a assopra
O caldeirão de mungunzá
Prestes a cozinhar.

O milho pisado no pilão
Para fazer a fubá
Tudo feito com coração
Só viemos nos deliciar.

E no outro dia sem esperar
A chuva começa a cair
A terra a molhar
E o sertanejo a sorrir.

EM - ECOS DO NORDESTE - COLECTÂNEA - IN-FINITA

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