terça-feira, 1 de março de 2022

Apoteose – RUNA

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se um homem estivesse acordado
no dia do seu próprio funeral
talvez esse acontecimento
pudesse ser uma festa
ou um momento para mais tarde recordar
 
com os amigos todos a acenar
à passagem do cortejo
e a gritar bem alto o seu nome
enquanto pombas brancas
se elevavam num imenso azul
 
músicos contratados
seguiriam ao lado do caixão
através das ruas decoradas
tocando música festiva
e varrendo a tristeza dos corações
 
viria gente de muito longe
apenas para aplaudir
ver com os próprios olhos
a derradeira encenação de um ator
a regressar de novo ao anonimato
 
o dia parecer-se-ia
com um qualquer domingo de verão
em que as pessoas saem à rua
para ver o sol brilhar
e celebrar o fascínio da vida
 
 
quando tudo estivesse terminado
regressariam todos a casa
cantando e dançando
sem arrastar o peso da saudade
ou qualquer outra consternação
 
o funeral de um homem
não tem que ser um episódio nefasto
pode muito bem ser a apoteose
de alguém que sai de cena
e emocionado se despede do mundo

EM - VERSO & PROSA - COLECTÃNEA - IN-FINITA

1 comentário:

  1. Como sempre, poeta, os teus versos, a tua forma de nos mostrar o mundo, causa-nos um impacto, bom. Dessa forma é-nos possível ver a dor por outra perspectiva.
    Abraço-te.

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