domingo, 28 de fevereiro de 2021

Chuva - LIÈGE DE MELO

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
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Neste dia frio, vejo a chuva cair serena -
molha a janela, umedece minha alma,
faz a vida parecer pequena.

Admiro o cinza perdido desta natureza sombria
na transparência líquida de quem vê de perto,
na paisagem embaçada do olhar distante.

Pingos e notas de melancólica sinfonia,
a penetrar no vazio do sentir-se errante.

Lembro momentos de chuva alegria,
misturados aos sons de risos de crianças -
a beleza invernal das nebulosas serras,
na bucólica cidade feliz da minha infância.

Tempo em que um pai esperançoso, previa boa
colheita, na enxurrada do sertão.

Cheiro de terra molhada era perfume,
não combinava com tristeza,
banho de chuva era diálogo,
                  do homem com a natureza.

Após tanto tempo a morar, em um Recife,
plantado no mar,
o encanto da chuva tem chegado transvertido -
o efeito dos anos, também tem me confundido.

Procuro na intimidade das memórias,
o otimismo rural aflorado pelas chuvas,
encontro apenas o tumulto das vias turvas,
daqueles dias de tristes histórias.

Outrora,
            sentia a vida se renovar com águas,
hoje vejo sobreviventes, casas destroçadas
A metrópole ruidosa, vias inundadas
cenas cotidianas, tristemente esperadas.

Águas de chuvas buscam sem medidas,
abrir caminhos para seus trajetos,
tal qual os cambaleantes passos
                                         que ora desenho,
buscando sentidos em novos projetos.

EM - ROTAS POÉTICAS - LIÈGE DE MELO - IN-FINITA

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