LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO POR IN-FINITA
Conheçam a IN-FINITA neste link
Em mim uma criança dança descalça
na sala
toma sol num sofá-praia
quer sair para brincar
Uma velha prende a criança
em casa
peço que tenha modos
a vida é perigosa
há um vírus à espreita
Quero silêncio para ler e escrever
mas me distraio com os chamados da velha
já tomou o seu remédio?
precisa beber mais água
e o lixo, já tirou?
Às vezes, acordo animada
planejo aspirar os quartos, lavar cozinha,
banheiros
mas logo volto a dormir.
A velha então me chacoalha, limpeza acima de tudo
passo cloro nos sapatos
álcool em gel nas maçanetas
e higienizo biscoitos
Em algumas manhãs raras,
caminho cinco mil passos
de uma parede a outra
às quartas, mexo na terra
faço bolos, bolinhos e pão
sigo cursos inusitados
troco lâmpadas queimadas
derrubo a panela de arroz
Por chamada de vídeo, a mãe conversa com a filha,
a filha cuida da mãe, a avó brinca com o neto,
a amiga consola a outra
Foto feliz nos stories
unhas pintadas
pijama
À noite, uma grande cama
vazia e cheia de sonhos
estranhos
Sendo uma, à própria sorte,
a driblar saudade e medo
Somos tantas.
EM - PANDEMIA DE PALAVRAS - COLECTÂNEA - IN-FINITA
Sem comentários:
Enviar um comentário