quinta-feira, 13 de agosto de 2020

Nuvens cortadas - ANGELI ROSE

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Um zumbido vinha suave aos meus ouvidos
Sob meus olhos, muitos bonecos de tez parda e escura
O sol baixava entre os corações empedernidos
Em torno, falares esquisitos, diferentes, agitados
sem doçura
Sentia doer meu braço e os pés esfolados
Minha caminhada fora demorada, extensa
Por onde andaram meus pais, tão enamorados?
Nossa casa, a escola, toda vida suspensa?
A memória trai quem a sufoca por anos
Entre tendas árabes, muçulmanos, senegaleses
Ciganos, cubanos, venezuelanos, africanos,
Um amontoado de mortos, porcos, descorteses
Cresci entre baionetas, fuzis, escopetas, lama
Paisagem desvalida de refugiados em cabanas
enfileiradas
Prédios demolidos, famílias descasadas, alma porcelana
Fileiras pro médico, pra sopa, pro nada, almas
evisceradas
Que horizontes podem vislumbrar no tempo?
Que brinquedo ou jogo ainda podemos imaginar?
Dormir ,comer de quando em quando, vento
Sem futuro, crianças, abraços pra contar?
É a vida de refugiados, infantes mutilados
Quem de vocês juntará nossos cacos?
Escuta o meu lamento de horror nesse mundo
Enxerga a minha dor, acredita em nossos laços
Mas medita sobre a guerra, a infâmia sobre as infâncias
Constrói por todos nós um amanhã, dá-nos só regaços...

EM - CONEXÕES ATLÂNTICAS V - COLECTÂNEA - IN-FINITA

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