domingo, 12 de abril de 2020

Todas as noites são a mesma noite - ALICE VIEIRA e JOÃO DORDIO


LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
Conheçam a In-Finita neste link

Nesse tempo o teu olhar limpava o que
lá por fora me garantia que tudo havia
de terminar depois das sete da tarde
ao ritmo de elevadores e portas fechadas

deixavas a mão no meu peito
e murmuravas tudo está por dentro
das palavras que não dizemos
e o silêncio é uma arma tão frágil que
só pode ser servido em copos de cristal

depois adormecias e eu sabia
que havias de sonhar com
as escadas que já não conseguias subir e a voz
que dentro de ti gritava
todas as noites são
a mesma noite

Nesse tempo os teus lábios sonhavam
porque eu deixava que eles sonhassem
pelos teus olhos que tudo miravam
para me encontrarem à saída da alma pelo corpo

Deixavas os teus lábios nos meus lábios
e todas as conversas passavam a ser para dentro
tal como todos os sonhos que tínhamos de dia
ficando a noite para os nossos brindes
de copo em corpo derramado pele na pele

A noite tinha-nos à sua disposição
com candeeiros de estrelas em abajures galácticos
que mantinham as palavras e o desejo
de sermos amantes eternos
pelas noites que são a mesma noite
quando nos amamos mesmo de mente...

Mas pela noite chega a aragem que me traz
o lugar certo de todas as coisas
do teu corpo das flores largadas à entrada
não, não, a noite há-de ser outra noite
e nunca mais a mesma
senão
que diríamos a quem nos perguntasse
que fizeste da tua vida?

E pela alvorada chegam os chilreares
e os primeiros raios de sol a espalhar sombras
pelos objectos perdidos e pelas paisagens
distraídas ainda pelos olhares e pelas letras
que as descrevem
e a noite terá mesmo que ser outra noite
com outra história
com uma nova vida...

EM - DUETOS DORDIANOS - COLECTÂNEA - IN-FINITA

1 comentário: