terça-feira, 7 de abril de 2020

Reflexo-te-me-nós - ANA P DE MADUREIRA e JOÃO DORDIO


LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
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Meu amor,
Hoje os teus lábios vieram comigo
Em perfeita harmonia ainda com os últimos sussurros
Que em mim deixaste.
Provavelmente os teus ouvidos também vieram comigo
Provavelmente tudo de ti vem sempre comigo.
Não sei se consigo ver alguma coisa para além de ti nessas coisas...

Vou e fico em ti.
Sou-te morada por dentro do teu corpo, leito onde a pele do corpo
e da alma se seduzem e sucumbem.
Tão meninos na candura com que trememos na emoção do beijo
cantado nos ouvidos que nos são eco.
E depois os lábios, a língua pedindo mais e mais até que o além
nos resgate e as águas se derramem.
Mistérios os nossos cravando poemas onde ninguém os pode
raptar, nem mesmo os anjos.
É que não há asas grandes o suficiente que consigam fazer sombra
ao amor...

Meu amor,
Hoje o teu olhar veio comigo
Em perfeita simbiose ainda com a tua recordação em mente
apaixonada
Porque é sempre assim que me deixas.
Provavelmente tudo de ti acabou por vir comigo sem corpo.
Provavelmente tudo de ti sempre veio comigo de outras vidas.
E nem sei se consigo ser eu próprio sem ser também a tua pessoa
em tudo...

Entrego-te os meus olhos cintilando no reflexo endoidecido dos
teus e conto todos os véus que são pele na recordação de nós.
Casulo o nosso feito no ventre onde nos tecemos,
no deleite da seda que nos arde.
E no latejo do sangue, sol e mais sol onde adormecemos
em cegueira. Labaredas as que dançam no rasto marcando o nosso
caminho.
Não temos como fugir ao tudo onde nem distancia ou tempo
moram, mas tão só a eternidade.
Por isso, amor, tomo-te as mãos da alma nesse agarrar das tuas
e acaricio os braços alados que sempre nos libertam do peso dos pés.

EM - DUETOS DORDIANOS - COLECTÂNEA - IN-FINITA

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