quinta-feira, 14 de novembro de 2019

Lavadeira - ANCHIETA ANTUNES

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Na curva do rio melíflua criatura, lavadeira de pele
tisnada sem jaça na cepa, do mastro liberto.
Menina moça, afro caracóis encimando as curvas,
meandros intocáveis, natureza a pujar;
tão grande por dentro, pequena por fora.
Uma fresta nas nuvens e a luz insinua-se por entre
pernas roliças,marcando os caminhos do desejo viçoso,
sem laços ou liças, sem tempo de ser.
Lavadeira que torce roupa e tempo,
imagens que correm rio abaixo, redemoinhos,
remanso dormido sob sol abrasivo,
menina assentada na sombra frondosa do umbuzeiro
em flor, pronta para deitar.
Gota reprodutora de vida que molda, de aluvião
que solda, que surge e ressurge ao longo dos dias.
Lavadeira solitária, pinta ao redor com roupas coloridas,
quadradas, listradas, azuis e vermelhas,
seu quadro dengoso, de eras longínquas,
de mentes febris, de noites abertas e voos libertinos.
Libélula do rio canta os dias, curte os risos que sulcam
seus olhos tombados na brisa do entardecer despido
de horas, de tempos, de vagas.
Lavadeira indolente vem comigo sentir o prazer
do macio viver, vem olhar surpresa a réstia de luz;
vem comigo rolar na areia do rio, molhar o molhado,
sugar o sugado, criar o futuro.
Apaga a luz invasora, acende tua chama interna de vida,
ilumina o salão menina atrevida das águas da vida.
Vem... Lavadeira. Espero...

EM - ECOS DO NORDESTE - COLECTÂNEA - IN-FINITA

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