sábado, 15 de junho de 2019

Indigente - MANUEL MACHADO

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
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Mãos esqueléticas, ásperas, medonhas
Com artrites, artroses, deformadas
Vezes sem conta sachos, picaretas
Em caixotes ou lixeiras nauseabundas.

Dedos ávidos, agílimos, sedentos
Às teclas do piano que desejo,
Ao tempo menina protegida, abençoada.

Cãs desgrenhadas soltas à brisa
Atravessadas pelos dedos em riste
Quando trôpega, cansada, espezinhada
Olho-me frente à montra da moda
Cetins, sedas, organdis esquecidos
Agora vestes largas, escuras, enodoadas
Úteis ora a estios ora a invernias.

Boca cavernosa por edentulismo,
Lábios escondidos antes apetecíveis,
Carnudos, desejados, beijocados,
Amorosos, amados, namorados,
Sem forças ao balbuciar da vida.

Tudo e toda transfigurada,
Indigente à sociedade moribunda.

Princípios, valores aferrolhados
Entre costelas do peito ferido,
Guardados no cofre pensante,
Sonhos passados, presentes,
Teimosamente não esquecidos.

EM - DAR VOZ A... - MANUEL MACHADO - IN-FINITA

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