segunda-feira, 22 de outubro de 2018

Breviário para dejejum em manhãs de primavera - PAULO DE CARVALHO

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de linho alvo forrada está a mesa
sobre o nobre pano de forma ordenada
os talheres as porcelanas e os cristais

                    à direita em bem formatada edição
                    as manchetes do dia e o valor das ações

dos mais nobres trigos os pães fartos
tantas frutas e queijos o suco o leite e o mel
na justa medida do afeto amor para dois

                   no centro ao alcance dos desejos
                   algemas venais para onde a vista
                   compra

do cristal mais raro a taça para a lágrima
sumo das uvas para o desejo rústico do vinho
ao desassombro do espírito o ritual das falas

                  aos ouvidos como pérolas adornam
                  cântico das falas soltas palavras sedução

de corte cambraia a blusa veste um medo
de macio algodão a calça tom cáqui | a hora fere
o tempo raso e a certeza crua d’um nada

                 um vazio que tão denso ocupa espaço
                 opaco — dor rígida e fria no aço seus
                 ecos

à pergunta certa a resposta presta e aponta
o automatismo não indaga que é você, mas o que você
é pronto momento mecânico das falas póstumas

                 o risco da lâmina incide a letra rasga
                 atravessado o símbolo a palavra sangra

um lancinante gemido às eras a primavera lança
outonam-se os homens — criogenia dos afetos lamas
venais
inversão totêmica o homem faz-se por símbolo de si

                breviário cotidiano escárnio do pranto
                o canto desencanto o desengano seu
                ápice
         
                cala-se o cálice entorpecidas eras

EM - CONEXÕES ATLÂNTICAS II - ANTOLOGIA - IN-FINITA

1 comentário:

  1. Muito compacto, com certas redundâncias que desconheço. Não é diminuir o poema é considerá-lo fora do meu alcance.

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