sexta-feira, 11 de maio de 2018

Dispo-me...* - ALICE VIEIRA

LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO POR MANUEL MACHADO
Saibam da autora neste link

dispo-me de velhos lençóis
acumulados como os velhos sonhos
à beira do tempo que foi nosso
e onde tudo já se perdeu     menos
a memória que hei-de guardar
das horas em que não percebi
que esquecias o meu nome
por entre nomes soletrados naqueles
lentos minutos em que o sono não vinha

só muito tarde percebi que
o nosso amor era apenas um
inquilino temporário da nossa pele
roubado sabe-se lá a quem
até ao dia em que disseste     tenho pressa

e aquela espessura transparente que
só na cama as almas ganham
desapareceu     como se descesse
sem ruído as escadas das nossas noites
e do que restava dos nossos corpos
- peças roídas de engrenagens vazias
que te habitavam até saíres de mim
como de um lugar incómodo

EM - OLHA-ME COMO QUE CHOVE - ALICE VIEIRA - DOM QUIXOTE

2 comentários:

  1. Um poema muito atraente, com um tema muito expressivo: um amor desamor. Tarde entendido como tal, pela mulher.

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