sexta-feira, 13 de outubro de 2017

34 - JOÃO AYRES

LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO PELO AUTOR
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Gosto da desordem
De um tanto incomensurável de caos em qualquer lugar.
Gosto de nomear aleatoriamente coisas sem nexo:
De atirar com meu revólver imaginário num campo repleto de verdes misteriosos.

Gosto de tirar o sentido das coisas
De devolver as mesmas ao seu lugar escuro.

Gosto de tirar a roupa e andar pela casa como se houvesse me despido dos símbolos
Gosto de murmurar o ininteligível para aprender a não decifrar os arredores do que vejo.

Gosto destas manhãs com jeito de morte por asfixia:
Estrangulado nas coisas poucas como uma espinha de peixe.

Gosto de estar assim sem jeito algum frente ao espelho
Gosto de não ver a minha face refletida quando lavo as mãos.

Gosto da desordem
Gosto de desarrumar o quarto e procurar aquilo que sempre esteve à minha frente.

Gosto da falta de qualquer coisa
De buracos ou fossas ou grutas ou cavernas distantes do contato humano.

Gosto de estar quente ou frio como o sol ou as águas que escorrem em meu desterro.

Gosto da desordem seja ela de que natureza for.

Gosto definitivamente do abandono e do caos:

Do silêncio mais profundo quando a noite vem.

EM - POEMAS ESCUROS - JOÃO AYRES - ARMAZÉM DE QUINQUILHARIAS E UTOPIAS

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