LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO PELO AUTOR
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Gosto da desordem
De um tanto incomensurável de caos
em qualquer lugar.
Gosto de nomear aleatoriamente
coisas sem nexo:
De atirar com meu revólver
imaginário num campo repleto de verdes misteriosos.
Gosto de tirar o sentido das coisas
De devolver as mesmas ao seu lugar
escuro.
Gosto de tirar a roupa e andar pela
casa como se houvesse me despido dos símbolos
Gosto de murmurar o ininteligível
para aprender a não decifrar os arredores do que vejo.
Gosto destas manhãs com jeito de
morte por asfixia:
Estrangulado nas coisas poucas como
uma espinha de peixe.
Gosto de estar assim sem jeito algum
frente ao espelho
Gosto de não ver a minha face
refletida quando lavo as mãos.
Gosto da desordem
Gosto de desarrumar o quarto e
procurar aquilo que sempre esteve à minha frente.
Gosto da falta de qualquer coisa
De buracos ou fossas ou grutas ou
cavernas distantes do contato humano.
Gosto de estar quente ou frio como o
sol ou as águas que escorrem em meu desterro.
Gosto da desordem seja ela de que
natureza for.
Gosto definitivamente do abandono e
do caos:
EM - POEMAS ESCUROS - JOÃO AYRES - ARMAZÉM DE QUINQUILHARIAS E UTOPIAS
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