quarta-feira, 6 de março de 2013

Outra voz - MARIA DO ROSÁRIO PEDREIRA


Ela não pediu esse silênncio. Mas também nada fez
para defender-se dele ou dominá-lo. Quando entrou,
a casa tinha-se calado de repente, as coisas dele
tinham mudado de lugar, desaparecido, e não importava
que tivesse sido ela própria a escondê-las, de véspera
na arca das lãs que só voltaria a abrir no inverno.

Ela não quis conhecer esse silêncio. Soube apenas
que não voltaria a ouvir a voz dele
no espelho do seu quarto - a outra voz.

Sentou-se no chão e abriu um pequeno livro de capa azul.
Naquele fim de tarde, só mesmo os livros podiam dizer
algo mais do que o silêncio - essa outra voz.

EM - POESIA REUNIDA - MARIA DO ROSÁRIO PEDREIRA - QUETZAL

1 comentário:

  1. Do passado apenas queira a saúde que me tem faltado.
    É um poema passadista, mas com valor poético.

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