sexta-feira, 21 de maio de 2010

Lacrimatória 13 - JAIME ROCHA


O homem contempla tudo isto, parado, como
se o tivessem metido numa estátua. Uma outra
mulher, a que levou a barca até à ilha, encosta-se
ao túmulo e envolve-o com o corpo. Parece um
casulo de seda, alguém amortalhado que transporta
uma culpa, mas os seus gestos cruzam-se com os
ramos caídos, enrosca-se neles e afasta-se para as
falésias. Fica junto dos cipestres e transforma-se
num deles, num ser antigo que toma conta dos
túmulos. O homem é enrolado pelo frio, no chão,
esperando pela maré, mas já não vê a barca, nem
a remadora, nem a lua surge com a noite para
homenagear os sepulcros.

in... Lacrimatória - JAIME ROCHA - Relógio D'Água

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