quinta-feira, 1 de abril de 2010
Quadras - ANTÓNIO ALEIXO
Co'o mundo pouco te importas
Porque julgas ver direito.
Como há-de ver coisas tortas
Quem só vê em seu proveito?
À guerra não ligues meia,
Porque alguns grandes da terra,
Vendo a guerra em terra alheia,
Não querem que acabe a guerra.
Vós que lá do vosso império
Prometeis um mundo novo,
Calai-vos, que pode o povo
Q'rer um mundo novo a sério.
Há luta por mil doutrinas.
Se querem que o mundo ande
Façam das mil pequeninas
Uma só doutrina grande.
Tenho fé nas almas puras,
Embora viva enganado;
Não troco esp'ranças futuras
Pelas glórias do passado.
Que importa perder a vida
Em luta contra a traição,
Se a Razão, mesmo vencida,
Não deixa de ser Razão?
Enquanto o homem pensar
Que vale mais que outro homem,
São como os cães a ladrar,
Não deixam comer, nem comem.
Foste mordido como eles,
Sofreste, e sem que o recordes,
Agora mordes naqueles
Que sofrem quando lhes mordes.
Há muitos que são alguém...
Mas no mundo onde alguém são,
Nunca seriam ninguém,
Se alguém não lhes desse a mão.
Sei que pareço um ladrão...
Mas há muitos que eu conheço
Que, sem parecer o que são,
São aquilo que eu pareço.
in... Este livro que vos deixo... I - ANTÓNIO ALEIXO - Casa das letras
Site da editora aqui.
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De vez em quando lei-o, faz-me reflectir a comezinha sociedade em que vivemos! O grande poeta popular da minha terra!!!!
ResponderEliminar"Porque o mundo me empurrou,
caí na lama, e então
tomei-lhe a cor, mas não sou
a lama que muitos são."
Grata, amigo!
Beijo MAIOR