quarta-feira, 28 de abril de 2010

Estátua - CAMILO PESSANHA


   Cansei-me de tentar o teu segredo:
No teu olhar sem côr, - frio escalpello, -
O meu olhar quebrei, a debatel-o,
Como a onda na crista d'um rochedo.

   Segredo d'essa alma, e meu degredo
E minha obcessão! Para bebel-o,
Fui teu labio oscular, n'um pesadelo,
Por noites de pavor, cheio de medo.

   E o meu osculo ardente, hallucinado,
Esfriou sobre o marmore correcto
D'esse entreaberto labio gelado...

   D'esse labio de marmore, discreto,
Severo como um tumulo fechado,
Sereno como um pelago quieto.

in... Clepsydra - CAMILO PESSANHA - Relógio D'Água

Site da editora aqui

O poema respeita a grafia da época.

2 comentários:

  1. Este poeta seguiu um rumo de vida similar a Camões. Os seus sonetos transmitem os afectos
    mais sentidos numa dose de desolação sofrida. Gosto muito do título da sua obra.
    Aprecio este autor. PARABÉNS!

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