A realidade não tem portas nem janelas - Carla De Sà Morais

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Quanto mais me abro a ti, 

Mais distância crio entre nós. 

Vivemos num ciclo interminável 

De dor e sofrimento. 

Como sair dele e entrar noutro 

Sem que seja alienável? 

Mesmo sabendo que jamais 

Faremos parte da vida um do outro, 

Evitamos as situações reais. 

A nossa energia não cria intimidade. 

Os nossos desencontros, certos ou errados, 

Só têm gerado complexidade. 

Não vibramos na mesma frequência 

Por tantos recomeços tentados. 

E grande seja a nossa concupiscência!

EM - MONÓLOGOS EM DÓ MAIOR - CARLA DE SÀ MORAIS - IN-FINITA

Contra a corrente - Desafinador de palavras

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Rio acima, vou contra a maré do sentido do teu coração 

Do extravasar e desperdiçar do teu amor 

Do amor que não o queres entregar a ninguém 

Que morre encarcerado nessa tua prisão. 

Mas eu insisto e vou contra esse teu desejo de ficares só 

Subo contra a vazante do teu amor 

Do despejar do teu coração 

Da foz para a nascente 

Nado…, luto…, remo… 

Tentando apenas tocar a tua mão. 

Não sei se o motor desta minha jangada improvisada 

Que é o meu coração 

Vai aguentar muito mais tempo, a lutar contra essa maré 

Contra essa enxurrada de sentimentos, que descarregas em mim 

Ou se vai deixar-se levar pela corrente, até outro porto de abrigo 

Que o queira amar e que o faça esquecer 

Os dias que perdeu contigo.

EM - AMOR - FRANCISCO MCM FAUSTINO (DESAFINADOR DE PALAVRAS) - IN-FINITA

47 - Elizabete Dente

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Abençoada por Deus 

Nasci mulher destemida 

Nasci força engrandecida 

Nasci amor e paixão 

Quis ser mulher liberdade 

Inspirei os trovadores 

Despertei muitos amores 

Sou feita de mansidão 

Soubera eu ao nascer 

Que seria tão valente 

Forte airosa competente 

Ai que tudo venceria 

Mas quiseram que eu fosse 

Submissa amargurada 

Por vezes tão maltratada 

Esquecida sem ter voz 

Eu penso todos os dias 

E o meu fado assim mo diz 

Que está traçado o meu fado 

E o meu fado é ser feliz

EM - 60 ANOS, 60 POEMAS - ELIZABETE DENTE - IN-FINITA

Não tenho sono - Wagner Molina

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Não tenho sono

Estou cansado

Muito cansado

Mas não tenho sono

Talvez eu esteja

dormindo e isto seja

Parte de um sonho

Uma pequena parte

ruim do sonho.

EM - O ESCREVINHADOR DE IMPULSOS - WAGNER MOLINA - IN-FINITA

A mesa dos chacais - Frassino Machado

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A tarefa da guerra está ao rubro

Cada hora que passa, cada dia,

A paz que todos sonham vai sombria

Que o coração humano s’ acha duro.

As bocas e gargantas’ stão sedentas

Os corpos denegridos querem pão

E mais que isso gritam com razão

Que se calem as armas violentas ...

Ó mundo, que te deixas comandar

Por cérebros retorcidos e bem grossos

Que de justo pensar não dão sinais...

Segundo transparece, ao terminar

A guerra, saquearão pra si destroços

Como fazem na selva os cruéis chacais!

EM - ODIRONIAS - FRASSINO MACHADO - IN-FINITA

Sonhos (excerto) - Davi Santos

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Ele na realidade não é só no sonho, nem na imaginação.

Nosso brilho é resplandecente, até na escuridão.

Porque é com o maior clarão, que todos enxergarão,

o sucesso, afeto, êxito e vitória da nossa união.

Sonho que tudo vai decorrer da melhor maneira.

A realidade tentamos para que seja assim.

Mas enfim.

O sonho é muito lindo, mas a realidade não é assim.

Não posso prometer as maravilhas nas nossas vidas

Mas posso dizer que vamos torcer para que nunca entremos

em becos sem saídas.

Não queremos que o que estamos construindo,

vire ruínas.

Estamos na construção de algo sustentável.

Nada tóxico, queremos que seja agradável.

Para que permaneça saudável.

Não há algo que todos queiram, mas do que ser feliz.

Mesmo em meio às atribulações.

Temos foco em realizar nossas missões.

Viver é sonhar

Pois quando sonhas em ter algo,

fazes o possível para ganhar.

EM - MISTÉRIO AMOROSO - DAVI SANTOS - IN-FINITA

Animais de estimação - Ivo Álvares Furtado

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A Maria Luísa gostava…

trazia sempre consigo

e não largava,

um livro ilustrado,

que permitia identificar,

animais de estimação.

Tinha predileção pelo cão,

… e com o dedo indicador apontava,

e de seguida pronunciava “ão… ão”!

Seguia-se o gato e prontamente dizia, “miau”!

À cabrinha associava o “mé… mé”!

E até,

o “quá… quá” do pato.

A cada dia era diferente,

e novas habilidades eram patentes,

para deleite dos avós,

felizes e contentes!

EM - A SEMENTE VERDE DA ESPERANÇA - IVO ÁLVARES FURTADO - IN-FINITA

respostas - Rosa Melo

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foste inventada 

em noite de comemorar 

não a ti mas ao 25 

do mês quatro 

vieste a saber esse dia 

do mesmo modo que

o 23 de fevereiro 87 

e viste que os homens choram 

quando se vai um dos nossos 

precisei perguntar-te 

para te saber responder

EM - CURTO SEM AÇUCAR - ROSA MELO - IN-FINITA

Pauta de amor em papel de alabastro - Carla De Sà Morais

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Morro-me por ti, 

Por este amor marginal, 

Compulsivo e ingrato. 

Incapaz de reconhecer 

Uma melodia apaixonada, um acorde de felicidade, 

Uma exaltação de sons, sem serem os silêncios 

Que se instalam e me mortificam, 

Como uma canga de tortura. 

Em cada nota, sente-se o desespero intrépido, 

Sejam elas agudas ou graves 

São isentas de amor, de carícias abrasadoras. 

Deixam saudades do que não se fez… 

E nos olhos se leem as sobras deste amor, 

E o tempo que o condenou. 

Morro-me por ti…

EM - MONÓLOGOS EM DÓ MAIOR - CARLA DE SÀ MORAIS - IN-FINITA

Celebrar - Desafinador de palavras

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Tentei celebrar a vida na sua plenitude 

Fui um mau celebrante 

Fui um mau anfitrião de celebrações 

Tudo me aconteceu de pior nesta vida 

Doenças, morte, desilusões 

A única coisa que posso celebrar 

É ainda estar de pé a lutar 

Como se a vida fosse um quartel de desilusões 

E eu um soldado raso desta vida 

Mas um valente guerreiro, firme teimoso militar 

Que não se conforma, com simples explicações

EM - AMOR - FRANCISCO MCM FAUSTINO (DESAFINADOR DE PALAVRAS) - IN-FINITA

36 - Elizabete Dente

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No devir do tempo misturam-se as lembranças 

Tangidas no bafio do restolho 

Correm instantes da infância no esmorecer da tarde calma 

Rejubila em festa e em fulgor a alma 

Soa nos céus o sublime canto das aves 

Enamoradas do sol e do vento 

Trazem à memória 

Cada história do passado 

Do vivido sentido 

Ou somente do sonhado 

E quando a noite desce e escurece 

A moldar o adeus de nostalgia 

Rufam os tambores das vontades 

A trovar o reencontro em poesia

EM - 60 ANOS, 60 POEMAS - ELIZABETE DENTE - IN-FINITA

Monalisas - Wagner Molina

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Monalisas 

De tudo 

Nem eu sei de mim 

À porta do inferno 

Um condenado dantesco, ressuscitado 

Angústia 

Um Baco doente, triste, fraco 

Sou eu 

O amor triunfante 

Sansão traído sob a luz da lamparina 

Avesso 

Errante 

Couro seco, louco 

Um duplo nos teus olhos 

Cego pela tua imagem sem moldura

EM - O ESCREVINHADOR DE IMPULSOS - WAGNER MOLINA - IN-FINITA

Os mosqueteiros d’Angra - Frassino Machado

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Sobre este ninho de pombas

voaram os quatro amigos

fazendo contas às bombas

olhando pr’ os seus umbigos!

É triste contradição

num dia feito de sombras

unidos p’ lo coração

sobre este ninho de pombas...

Há quem passe sem defeito,

na origem doidos varridos,

para as ilhas a preceito

voaram os quatro amigos.

Aviões topo de gama,

cada um com belas trombas,

negoceiam sua trama

fazendo contas às bombas.

Acordaram um Ultimato

e jantaram açord’ e figos

cagaram no Sultanato

olhando pros seus umbigos!

EM - ODIRONIAS - FRASSINO MACHADO - IN-FINITA

Coração (excerto 3) - Davi Santos

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Não sei como explicar o amor.

Só consegui entender que é algo

de extrema importância e de muito valor.

Não há nada que possa substituí-lo.

Amar me deixa muito tranquilo.

Traz-nos uma paz interna.

Uma felicidade imensa.

Nos faz valorizar o outro do jeito que é.

Se isso não for amor, não consigo dizer o que é.

Encontrei valores e capacidades em ti.

Era apenas eu, agora fazes parte de mim.

Nem tudo será perfeito.

Mas um relacionamento não é só de felicidades,

surgem batalhas e aceito.

Tenho a esperança do nosso futuro ser risonho.

Tudo que penso e sinto a ti, exponho.

Percebes através dos versos que componho.

Preciso de ti na minha realidade,

pois já és minha princesa... no sonho.

EM - MISTÉRIO AMOROSO - DAVI SANTOS - IN-FINITA

O silvado - Ivo Álvares Furtado

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Perto do povoado,

há um silvado.

E antes que a pergunta seja feita:

o que é um silvado?

“Uma moita de silvas”, diz o avô,

“a modos que”, apressado.

Irás comigo ver, Benvinda,

os animais que por lá vivem,

e convivem, lado a lado.

Assim saberás o que é um silvado,

onde vivem esquilos e marmotas,

que verás ocasionalmente,

e com maior frequência, os pardais.

A coruja, sendo ave noturna,

saberás que existe;

porém, no nosso passeio,

não será contemplada.

E ao fim do dia,

daremos por terminada,

a nossa jornada,

pois estaremos decerto com fome,

após a caminhada!

EM - A SEMENTE VERDE DA ESPERANÇA - IVO ÁLVARES FURTADO - IN-FINITA

perguntas - Rosa Melo

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vens vindo para cá 

e à medida que avanças 

tudo se fecha atrás de ti 

não sei por isso donde vieste 

dum vale de lágrimas feitas cristais

ou desse verde vencendo outonos 

onde pássaros galhofavam à tripa-forra 

donde — diz 

terei de partir pedra 

para saber o teu início 

quem te permitiu a entrada

 e como te fizeste no que agora és 

essa saia que trazes 

quem a fez e ta vestiu 

é grande demais 

não vês 

continuas pequena 

é branca demais 

para seres mais um anjo inexistente 

sei que me entendes 

mas avanças 

então abro os braços 

e não estreito nada ao peito 

segues adiante ou levitas

EM - CURTO SEM AÇUCAR - ROSA MELO - IN-FINITA

Ao amor eterno que é o nosso - Carla De Sà Morais

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Os teus olhos são alvores, 

São o desejo apressado 

De onde brotam amores. 

O teu peito é aconchego de lareira, 

Ainda o meu lugar preferido, 

Como na vez primeira. 

E o meu passado está feito presente, 

Recordação imortal 

Tatuada na minha mente.

EM - MONÓLOGOS EM DÓ MAIOR - CARLA DE SÀ MORAIS - IN-FINITA

Cabelos ao vento - Desafinador de palavras

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Os teus cabelos ao vento 

Apontaram para o futuro 

Indicaram a direção de um mundo melhor 

Neste presente tão inseguro 

Os teus cabelos ao vento 

São fios de oiro fino, filigranas 

Ramos de jasmim com flores brancas 

Que dás àqueles que amas 

Os teus cabelos ao vento 

Não são apenas cabelos 

São estrelas cadentes neste universo 

Que só mesmo os predestinados 

Com o coração conseguem vê-los 

Os teus cabelos ao vento 

São como ondas, calmarias abundantes 

Onde mergulhamos nossas vidas 

Nos transformando…, em amantes

EM - AMOR - FRANCISCO MCM FAUSTINO (DESAFINADOR DE PALAVRAS) - IN-FINITA

34 - Elizabete Dente

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Acordem as nascentes e as fontes 

Soltem as aragens e as brisas 

Deem de beber à primavera 

Fardem de luz almas perdidas 

Tragam arpas guitarras e violinos 

Encham de amor as cidades e os campos 

Floresça o mundo de abraços e de beijos 

Acenem à chegada lenços brancos 

E que o sol adorne as flores 

E tal como elas 

O sorriso brote às cores 

Dos lábios da mulher pura e bela 

Qual roseira perfumada a trepar 

Na janela tão clara do olhar

EM - 60 ANOS, 60 POEMAS - ELIZABETE DENTE - IN-FINITA

Isso mesmo... - Wagner Molina

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Isso mesmo. Natural.

Até que enfim posso ser natural. 

Assim como a água, o vento, 

a terra, o fogo. Arde, queima, 

sopra um sopro e passa. 

Quase um artista. 

Um tanto de tanta coisa. 

Um tanto de nada. Um vazio. 

Naturalmente nada. 

À espera de um olhar qualquer 

para nascer. Ou então morrer 

no esquecimento da saudade 

que renasce a cada instante.

EM - O ESCREVINHADOR DE IMPULSOS - WAGNER MOLINA - IN-FINITA