segunda-feira, 21 de março de 2022

Inquietação - ISABEL BASTOS NUNES

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
Conheçam a In-Finita neste link

Espreitei por de trás das janelas
A inquietação que eu sentia
Talvez se tenha escondido
Na esquina mais próxima
Do final da rua.

Afastei as cortinas
Não havia movimento
Nem sequer um ruído…

A cidade parecia vazia.

De onde vinha então essa inquietação
Que tanto me perturbara?

Olhei para o relógio da igreja
Mesmo de fronte da janela onde me encontrava.

Parado…
O silêncio total.

Talvez fosse o que mais me incomodava
Seria então essa a causa a minha inquietação?

Esperei mais um pouco…

Abri as janelas sem pressas
Olho o desfiar da minha curiosidade

Seria a saudade dos ruídos
Das pessoas correndo nas calçadas?

Ou o burburinho louco das conversas e risadas
Daqueles correm para a vida
Como gotas de água saídas de uma torneira
Mal fechada?

Senti-me um pouco desnorteada
Como se os meus pensamentos
Tivessem descarrilado num comboio feito de nada
Numa curva da minha imaginação

Talvez fosse isso...

Mas a inquietação continuava…

Ocorre-me então
Que todos esses ruídos se enchiam de palavras
Era isso que me faltava…

O barulho da vida
Nas ruas cheias de gente
Mesmo daqueles que vagueiam sem destino
À procura de um tudo ou de nada
Sem tempo nem hora
Para o encontrarem…

Nada mais me inquietava então
Senão esse vazio que o tempo gerou
Na minha desorientação…

As ruas desertas na minha cidade
E a saudade dos que vagueiam sem destino

Ou daqueles que correm apressados
Para mais um dia de trabalho?…

Ainda bem que não chove
Assim posso esperar por eles
Numa esquina qualquer sem ter de me molhar…

Afinal a minha inquietação
Era não saber esperar…

EM - ECOS PORTUGAL - COLECTÂNEA - IN-FINITA 

Sem comentários:

Enviar um comentário