segunda-feira, 31 de março de 2025

Expectativa - Maria João Abreu

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Crio cada um dos meus poemas,
como se fossem parte de mim,
no meio das balas de uma guerra sem fim,
onde as palavras são insuficientes.

Teimo em criar e acreditar no amor,
como se não houvesse amanhã,
cercada por barulho e poluição,
nuvem tóxica que desaparece em um sorriso.

Creio que em torno das minhas palavras,
apesar de saber que a morte é supersônica,
a esperança é constante e a paz avança vagarosa,
como letras riscadas no muro de uma prisão.

Crio cada um dos meus poemas,
com palavras de alma e coração,
como fossem manuscritos que ficam para a eternidade,
como a última carta antes da minha desaparição.

EM - MULHERIO DAS LETRAS PORTUGAL - COLETÂNEA - IN-FINITA

domingo, 30 de março de 2025

O que sou? (excerto) - Maria Felisbela dos Reis

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Sou um ser humano igual a tantos
Ou não… igual a ninguém
Vim ao mundo sem pedir
Para sofrer, amar e morrer,

Na vida nunca se pode dizer
O que por vezes nós pensamos
Nunca maltratei ninguém
Será que sei o que sou afinal?
No meu conscientemente eu sei
Que por vezes não sou compreendida
Pois tanta maldade há nesta vida
Que se vive sempre em competição.

Mas quando se olharem para si próprios
Os outros, talvez se vejam como são
Ignorantes ou inocentes
Com os seus pensamentos em vão!

A muito tenho assistido
E é forte o meu pensar
Não sabendo eles o que dizem
Ah! Se as verdades eu quisesse falar…

A maior parte da minha vida
Foi passada rápidamente
Sabendo eu ao que me refiro
Noto que o amor se vai perdendo
E sem querer consentir
É isso que nos vai acontecendo.

EM - MULHERIO DAS LETRAS PORTUGAL - COLETÂNEA - IN-FINITA

sábado, 29 de março de 2025

Pai (excerto) - Maria do Céu de Carvalho

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Como é difícil celebrar um aniversário
Quando dois dias depois se morre?
Optei por celebrar a vida!
Um dia em que mesmo na cama do hospital
Conseguiste ter junto de ti as tuas três filhas e netas.
Estavas feliz, por estarmos todos juntos!
Bateste palmas e cantaste a ti próprio
Os parabéns!
Via-se o brilho nos teus olhos
Mesmo em grande sofrimento!
Feliz aniversário Pai.
Pelo dia em que nasceste.
É este o dia que quero e vou guardar
Eternamente na minha memória!
Acredito que estejas onde estiveres
Estás bem!
Foste aquele que partiu
Deixando uma enorme tristeza na minha alma!
Deixaste em mim um legado enorme
O gosto pelos livros, pela paz, pela simplicidade e humildade.
Pelo amor!
A vida não nos abençoou com a felicidade
Existiu sempre uma espada negra entre nós
Não nos deixaram aproveitar a nossa união.
Tudo fiz para ser amada.
Eu por ti sei que fui e contigo aprendi
O significado do verdadeiro amor!

EM - MULHERIO DAS LETRAS PORTUGAL - COLETÂNEA - IN-FINITA

sexta-feira, 28 de março de 2025

Canção de setembro - Zito Jr.

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Hoje faz aniversário
A sereia que eu pesquei
Num dia 20 de abril,
Por Sertânia, lá, deixei
O que de tristeza tinha
Assim que a vislumbrei.

Em Sumé, nossa morada
Dois filhos, aqui tivemos
A caminhada é bem árdua
Mas muito nós já vencemos
A primavera nos dá
As flores que nós não vemos.

A convivência não é fácil
Viver é fácil demais!
Conflitos vêm e se vão
As mágoas ficam pra trás
E assim nós dois seguimos
Em paz e amando mais!

EM - CONEXÕES ATLÂNTICAS IX - COLETÂNEA - IN-FINITA

Coração puro - Maria Cristina de Sá Pereira

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Coração puro
No amor presente
Olhar além...
Libertar para ser liberto
Serenidade
Paz
Primeiro em mim
E expandir para o outro
Em mim contrai
No outro expande
E assim é o caminhar
Coração puro
Vida segue

EM - MULHERIO DAS LETRAS PORTUGAL - COLETÂNEA - IN-FINITA

quinta-feira, 27 de março de 2025

Sonho de um rio - Zezé Matos

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Corrente de água doce é rio...
Porção de água salgada é oceano
É oceano, é oceano
É o mar que tanto amo.
É Oceano, é oceano.
Onde eu quero morar.
São as águas, imensidão!
Que meu coração, rio.
É menino que anseia
Sonha livre e deseja
Nestas águas serpentear.
Para a vida continuar

EM - CONEXÕES ATLÂNTICAS IX - COLETÂNEA - IN-FINITA

O verão vira outono - Maria Cabana

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Chega o outono colorido
A rodopiar com leveza
No sonho traz a certeza
De um inverno garantido

As folhas bailam ao som
De manhãs estremunhadas
Festejam às gargalhadas
Fazendo ecoar seu tom

Nuvens se vestem de cores
De uma certa melancolia
Se colhem no dia a dia
Frutos que já foram flores

Regressa o ano letivo
Com sorrisos luminosos
Todos eles ansiosos
Se debruçam sobre o livro

Assim é era após era
O verão vira outono
O inverno vira sono
Para acordar em primavera.

EM - MULHERIO DAS LETRAS PORTUGAL - COLETÂNEA - IN-FINITA

quarta-feira, 26 de março de 2025

Carrasco inconsciente - Tita Tavares

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Vivo na angústia… no medo… na sofreguidão…
no receio…
Vivo na sombra do carrasco sem rosto... invisível…
Que não se assume nem dialoga.
Mas sempre presente,... constante... inadiável... implacável…

O carrasco que não necessita de chicote
Mas chicoteia
O carrasco que não necessita de espada
Mas apunhala
O carrasco que não necessita de uma cela
Mas que encarcera
O carrasco que não necessita de ponto
Mas que controla
O carrasco que deixa rasto…
Que faz o caminho sem caminhar…
Que acompanha… sem ser convidado

O carrasco que de nada necessita… que não existe…
Mas que persiste… insiste… jura… perjura…
Que promete… incumpre… que seduz… que trai…
Faz sonhar, desilude…
Que mata … mas também cura.

O carrasco…
O tempo… o tempo… o tempo…

EM - CONEXÕES ATLÂNTICAS IX - COLETÂNEA - IN-FINITA

Loucura - Maria Antonieta Oliveira

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A loucura
É uma pasta vazia
É uma pauta sem clave de sol
Uma praia sem areia
E um mar sem água
A loucura
É uma cabeça oca
Um pensamento sem nexo
Um som agudo
Ou grave tanto faz
A loucura
É louca
Inventa e cria ilusões
Acredita em mentiras e desilusões
É louca
A loucura
Porque é abstrata e pura.

EM - MULHERIO DAS LETRAS PORTUGAL - COLETÂNEA - IN-FINITA

terça-feira, 25 de março de 2025

A voar com os pés na Terra - Teresa Carrapato Moleiro

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Preciso da tua asa para voar
Preciso da tua asa para me abrigar
Preciso da tua asa para poder chorar...
Ah, se preciso...!
Vem, minha borboleta
Toca-me com suavidade,
Preciso de sair do casulo,
Preciso de me renovar,
A minha alma poder libertar..

Um dia vou voar tão alto,
tão alto ...
Saio da roleta!
Que o chão não será só chão!
A terra não prenderá mais os meus pés,
À minha volta não haverá sombras...
Só cor..., amarelo, azul, vermelho,
Cor branca...!
Serei, quiçá, um anjo...
Ou, simplesmente, uma borboleta...!

EM - CONEXÕES ATLÂNTICAS IX - COLETÂNEA - IN-FINITA

Esta canção - Maria Alice Bragança

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Há anos não escuto
esta canção.

Hoje que desafino,
desatino desse destino.

Dentro de mim,
fuga em mi menor.

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segunda-feira, 24 de março de 2025

Janela azul de água - Susana Veiga Branco

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Dá-me água
Que de sede me afogo

Dá-me o teu calor húmido de inverno
Desabrocha a pena colorida

Trai com o olhar uma rosa branca
Quem sabe até uma flor de algodão

A cor
Sempre a cor
Ou a sua ausência

A luz
Sempre a luz
Ou a sua ausência

Inspiro-me no teu chapéu
Transparente
Inundado

Inspiro-me no amor
E na sua ausência

Inspiro-me na coberta da cama acabada de fazer
No ninho vazio do vaso da janela azul...

EM - CONEXÕES ATLÂNTICAS IX - COLETÂNEA - IN-FINITA

domingo, 23 de março de 2025

Recordações de mulher - Manuela Frade

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Quase não as tenho
A mulher mundi
Mergulhou numa noite profunda
As memórias são fugazes
Tristes
Se autoestima,
A mulher mater
Foi perfeita
Desde o primeiro dia
Senti meu corpo
Minha alma diferente
Deixei de me sentir
Vazia e só
Até que o meu passarinho
Ganhou asas e voou
A distância existe
Mesmo quando partilhamos
O mesmo galho...
Ficaram apenas
Recordações!

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sábado, 22 de março de 2025

Há magia na tela - Manuela Conceição

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Há magia na tela
Magia no ar
Criando magia
Eu vivo a pintar
Pinto de manhã
De tarde ou de noite
Que o amor à arte
Fala sem parar.

E por cada tela
Vou-me apaixonar
Nasce então a luz
Surge a inspiração
E por cada tela
Dou meu coração.

Com magia
Concentro energias
Na magia transmite amor
Na minha tela mágica
Com todo o dom da côr.

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sexta-feira, 21 de março de 2025

Aylan Kurdi - Manuela Bailão

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Era dourado o teu olhar
Como dourada era a areia
do deserto imenso do teu país.

Não sabias onde vinhas
nem para o que vinhas
nem porque te traziam para uma terra que não te queria.

Não sabias que o mar que atravessavas
esse teu mar entre terras que nunca viras
que era azul e brando
se tornaria bravo e traiçoeiro
quando deixasse de ser o mar da tua terra.

Neptuno, em dia de raiva agitou as águas
e o oceano onde agora navegavas abriu-se em violência
arrancou-te aos braços da tua mãe.

Vingativo, deitou-te sem vida
na areia inóspita da terra que não te queria.

Nunca mais será dourado o teu olhar.

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quinta-feira, 20 de março de 2025

Natal - Rosalina Vaqueiro

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Ah o Natal!
É a festa da paz, da luz, do amor
Celebra o nascimento de Jesus
O aconchego do lar tem mais calor
Há presépio, luzes a cintilar, árvore enfeitada
Arroz-doce, filhós, bolo-rei, azevias
Bacalhau da consoada
Há abraços, prendas, sorrisos
A família sente-se amada
Há afetos, ternuras, carinhos
Comunhão, missa do galo, sino da igreja a chamar
Boa vontade para amigos, estranhos ou vizinhos
O Deus da guerra pode até calar!
Que dádiva esta quadra Senhor!
Lembrando que o homem afinal é capaz de amar
Não é só ódio, destruição e horror
Fosse mais vezes Natal e não haveria tanta fome e dor!

EM - CONEXÕES ATLÂNTICAS IX - COLETÂNEA - IN-FINITA

quarta-feira, 19 de março de 2025

Na noite - Rosa Fonseca

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Dentro da noite, todas as noites e um vazio que começa
Um cansaço que confunde e um medo que consome
Atravessa-nos uma solidão antiga
Uma paisagem sem amanhecer, um escuro persistente.
Por dentro da noite, uma agonia que desfaz os sonhos
Um vento que se cala, uma voz que tarda
Vestígios de uma memória sonâmbula
E uns olhos furtivos na meia-luz da casa.
Desabrigados silêncios esculpem versos por dizer
Inquietam-se as palavras rente à garganta da noite
Ao longe, um halo…
Uns braços que se libertam
Demoradamente
Uns braços

Por dentro da noite, uma saudade de asas
De pássaros entre as mãos.

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Ei, tempo! - Lúcia Linhares

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Ei, tempo!
Para de brincar comigo!
Acalme seu tino de correr, por favor!
Se de amor o ser precisa;
Como assim se acostumar com despedida?
Calar não vou.
Andei em muitos sonetos,
Procurando um remédio,
Para esse mundo “caduca”;
Quase esmoreci, do tanto que vi;
Mas, nunca desisti.
Ei, tempo!
Deixa de ser teimoso!
Se tenho as provas; ainda sondas?
Deito em minha tensa caligrafia...
Faço-me entender;
E você, tempo?
Por que passar assim depressa,
Se o mais vibrante é o momento?
De estar o ser venera;
Por que então faz padecer?
Ei, tempo!
Para de impor esse seu compasso,
Porque eu mesmo faço, minha vida de aço;
E deito no que escrevi.

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terça-feira, 18 de março de 2025

À luz das estrelas - MJ Abreu


Na praia deserta, ao cair da noite,
As estrelas encantam, dançando ao vento,
Iluminam sorrisos, olhares e sonhos,
Um cenário perfeito, o nosso momento.

O mar murmura segredos escondidos,
Enquanto a lua deslumbra no céu,
Refletem-se nos meus os teus olhos,
E o amor floresce, doce e terno.

A areia fria sob nossos pés,
Como testemunha de caricias trocadas,
Corações que batem em perfeita harmonia,
Almas entrelaçadas, apaixonadas.

O tempo parece parar,
Na magia deste instante,
À luz das estrelas, na nossa praia,
Nosso amor é eterno e constante.

EM - CONEXÕES ATLÂNTICAS IX - COLETÂNEA - IN-FINITA

segunda-feira, 17 de março de 2025

Na vida vou caminhando… (excerto) - Maria Felisbela Paulo

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Por este mundo eu caminho
Por vezes lenta…outras apressada
Porque se a vida tudo o traz
Se não tivermos cuidado
Também o leva de volta
E nós ficamos sem nada.

Assim eu vou pensando
De como vejo agora o ser humano

Está tudo tão diferente
Comparando com o antigamente
Como era bonito então…
Havia amizade entre todos
Ninguém ficava indiferente
E todos dava-mos as mão.

Desilusões eu não quero ter
Mas é uma realidade da vida
As lembranças boas quero guardar
As más quero esquecer.

O ano está a acabar
Tanto se passou injustamente
Relembro-me então das guerras
Entristeço-me e de repente
Penso que infelizmente
Não é o sentir de toda a gente.

EM - CONEXÕES ATLÂNTICAS IX - COLETÂNEA - IN-FINITA

Cotidiano - Liana Timm

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qual dúvida me percorre
quando vejo uma estrela!
respiro ofegante
como se criança fosse

com fome e indefesa
espero perguntar certo
urgências de sempre
à alguém

olho para o céu
desviando as atenções
para o que sangra

a fumaça nos campos
os animais abatidos
neste asfalto derretido
são os mesmo buracos
abertos
pelos mais sórdidos interesses

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domingo, 16 de março de 2025

Alma rebelde - Maria do Céu de Carvalho

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Alma rebelde
Presa nos meus pensamentos
Entrei no meu pequeno mundo de fantasia.

O som do silêncio apodera-se de mim…
Sei que sou alma rebelde
Mas não vivo na solidão.

Fui ver o mar
Senti a brisa fresca e o cheiro a maresia
Voltei-me então para o horizonte
Vi o mar beijar a serra e senti o cheiro da terra molhada e macia.

Senti-as bem dentro de mim
Na calmia da tarde eu nunca me senti só.

Sou alma rebelde
Mas ninguém me tira a paz e a tranquilidade
Que o som do silêncio me dá.

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Morada - Lania Santana

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Vive em mim um antigo vilarejo,
de um céu caiado de estrelas.
Um lugar em que nem sempre é silêncio, mas é sempre começo.
Em pequenas casas com belos e necessários jardins, moram os
meus afetos. Nos encontramos na esquina da saudade, revemos
conversas das quais alimento a minha coragem.
No alto, fica a capela, que no silencio cumplice da tarde ascendo
uma vela,
Para que a desilusão fique no lado de fora de tudo que conservo
dentro, como um raro bordado, tecido pelo destino com finos
fios dourados, forrando o pequeno altar do meu coração.
E na poeira que levanto, espalho boas lembranças.
Assim volto a ganhar o mundo.

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sábado, 15 de março de 2025

Males maiores - Maria de Fátima Soares

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Não me perguntem o que tenho.
Porque vos soo tão mal.
O meu mal não tem tamanho.
E qual será ele, afinal?

Não me queiram curar as dores.
Ouvirem em confissões, pesarosas.
As dores são das coisas piores.
Que tenho por mais ditosas.

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Café (excerto) - Kéllyda Antonia Casemiro

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Há várias maneiras de você
Saborear e apreciar um bom café,
Pode ser puro e forte,
Com leite ou sem leite.

Café expresso,
Mas sem excesso,
Um bom cappuccino
Com que me fascino!

Totalmente amargo,
Bem docinho e cremoso,
Vai depender do gosto
De cada um sem oposto.

Hum! Num dia de chuva,
Com pipoca e boa prosa!
À noite, acompanhado
De um bom livro que não deixarei de lado.

Café no trabalho
Para acalmar sem atalho.
Café com os amigos
Ou com os inimigos.

O importante é que seja
Um bom café
E que esteja
Bem consigo mesmo.

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sexta-feira, 14 de março de 2025

Tanta reunião… - Maria Cabana

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A senhora dona tecnologia
Vai dando o ar de sua graça
Transporta no regaço magia
E no nosso futuro se entrelaça

No engenho da engenhosa vida
Partem vidas por ti e por mim
No pó de esperanças perdidas
Somos cheiro de doce jasmim

Dos fracos não reza a história
Todos dizem! Será verdade?
Fica em nós deles na memória
Sua luta pela igualdade e liberdade

A sensível e imponente natureza
Grita por socorro a cada segundo
O bicho homem deverá ter uma certeza
Nada do que possui levará deste mundo

Tanto ódio, tanta guerra, tanta bala
Põem este mundo em pandemônio
Reunião e mais reunião em sala
Que com o tempo passa a património!

EM - CONEXÕES ATLÂNTICAS IX - COLETÂNEA - IN-FINITA

Nas falésias do Algarve respiramos — fundo - Katarina Lavmel

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a violência do vento são asas
e os sonhos já não são mais uma onda
deixo-me levar pelo oceano e por ti
sem mapa sem bússola nem consenso nem boia

já não contamos as lanternas no céu —
mesmo para as gaivotas perdidas a noite não é estranha
navegamos com o triunfo de uma vela cheia
empurrados para dentro da neblina da manhã

por trás das rochas do pensamento há remoinhos
dióxido de carbono em demasia —
os ambientalistas vão capturar-nos (sem piedade)
por causa deste fogo que arde como incêndio
imoderado nos nossos corações

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quinta-feira, 13 de março de 2025

Se eu fosse rouxinol - Maria Antonieta Oliveira

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Se eu fosse um rouxinol
E soubesse voar
Ia no caminho do sol
Em busca de um lugar
Emoldurava algumas fotografias
Numa tela em forma de coração
Para cada uma fazia um poema
Que ficasse para a posteridade
Depois, voltaria à nossa praia
Buscando os búzios escondidos
Ensinava-lhes o som de um fado
Em que o amor fosse o tema
E nesse eterno lema
Naquele lugar sagrado
Ficaria eternizado
Nosso amor
Nosso fado!

Ah! Se eu fosse um rouxinol!

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Eu e meus retalhos - Juraci Cruz

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Minha vida é de retalhos
E eu, tecelã que sou, fui exercitando costurar
Uns, feridas com suas dores
Uns, sonhos e seus amores
Vivi desafios
Superei medos
Guardei segredos, incontáveis até para mim
Meus pés foram furados por espinhos enquanto plantava o milho
E segui, sempre tentando colocar tudo nos trilhos
As mãos foram machucadas no moinho e no pau da lata d'água
Caminhei, e caminhando aprendi a arte de unir o diferente
Peguei cada retalho de vida
Costurei um tapete de sonhos onde meus pés foram acariciados
Fiz uma colcha de esperança e me protegi da falta de gratidão
Hoje, olho para mim
Vejo a diversidade das cores vibrantes
E danço no compasso do meu coração, sem pressa
Já não sou de pedaços
Me fiz inteira, bordada de luz
E os retalhos?
Se misturaram, e juntos ficaram fortes
Na minha força, sou única.

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quarta-feira, 12 de março de 2025

Cotidiano (excerto) - Jullie Veiga

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a dor
o azul
a saudade incessante
o azedume e o amargo, na boca
- não comi nada

a carne morta
em carne-viva

batidas na porta
batidas no peito

alguma coisa cortando o vento
- mil rodopios no mesmo eixo

sons dum avião sobre mim
um avião em queda
uma nave em chamas na torre de um prédio

meus discos intactos
a música que não para em meus ouvidos
minha máquina de escrever - que tem nome próprio -
me olha e não me chama pelo nome, me desconhece

visto inquietudes e fujo da palavra inteira

uma palavra guardada no barro,
no ventre da terra
e no meu ventre o que se guarda de nascer
e não sonha
e chora o choro que não dorme

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terça-feira, 11 de março de 2025

Amor - Manuela Conceição

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Amor… sempre Amor!

Amor que vai
Amor que vem
Inquieto coração pulsando forte
Procurando a paz que não tem.

Amor é louco e não tem pensar
Quando se deita só quer amar
Sonha de noite
Sonha de dia
Qualquer conselho
Não tem valia.

Amor amante
Na alma fica
Quando se entrega perde a razão
Sofre de mais quem tanto ama
Porque não manda no coração.

Amor que arde
Sem ver a chama
É pecador… mas sem pecado
Esconde-se louco… foge à paixão
Fica em silêncio
Ama calado.

Amor é luz e sedução
Desnuda o corpo na perfeição
Entre suspiros se devaneia
Quando se une com emoção.

EM - CONEXÕES ATLÂNTICAS IX - COLETÂNEA - IN-FINITA

segunda-feira, 10 de março de 2025

Noite e dia - Madalena Santos

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De dia, os campos estão sedutoramente lindos,
No encanto dos raios solares, a natureza brilhar!
Embalados por um vento suave, e pelo sol tingidos,
Os frutos, ainda na beleza floral, a perfumar!

Quando a noite chega, o sol lá longe resguardado,
A lua no seu percurso do horizonte a surgir,
E as nuvens escondidas por detrás do céu estrelado,
Tudo numa harmonia que nos leva a refletir!

E neste sonho imagino a fada do sono encantado,
Cativante com a sua arpa lindamente a tocar
E o sol brilhando, para um novo dia, acordado.
A iluminar a vida, para um feliz recomeçar!

EM - CONEXÕES ATLÂNTICAS IX - COLETÂNEA - IN-FINITA

Sonhos, Sonhos e Sonhos... - Jane Caneca

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Sonhos, sonhos que venham sombrear
De olhos abertos viajando
Olhos fechados sonhando
Navegando na imaginação
Na sua companhia em qualquer lugar
Cada qual com seu olhar.

Sonhos, sonhos e sonhos.
Viver sonhando com a natureza
Cantos dos pássaros
Lindo voou das borboletas
Céu, nuvens e estrelas que brilham.
Lua, sol e mar
Viver sonhando com a certeza da desventura
De longe ficar.

EM - MULHERIO DAS LETRAS PORTUGAL - COLETÂNEA - IN-FINITA

domingo, 9 de março de 2025

Sou imperfeição da vida - Isabel Bastos Nunes

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Sou louca
Nas minhas tempestades nocturnas
No meu sorriso
Nas minhas mãos
No fascínio antes da palavra
Quando o meu corpo se separa da poesia
Numa luta interior.

Deixo que os magos e gnomos da floresta
Invadam os meus sonhos
Violem o meu silêncio
E me deixem proscrita
No limiar de um poema.

Sou a inconsciência do nada ser
Sou a vida tatuada na alma
Sou o rosto das vozes silenciadas
Sou a imperfeição da vida
Sou restos de tudo
Porque não sei ser mais nada.

EM - MULHERIO DAS LETRAS PORTUGAL - COLETÂNEA - IN-FINITA