Um filho - António Soares Ferreira

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Um filho que nasce 

de um ventre aberto, 

um mundo de amor 

num futuro incerto. 

Um rasgo na carne, 

dor de prazer. 

Um filho que nasce, 

um coração a bater. 

De mãos estendidas 

abraça a vida, 

agarra com força 

com força desmedida 

Um filho que nasce 

é luz que se acende, 

é luz, é vida, 

é amor que transcende 

Um filho que nasce 

de um ventre rasgado, 

que lindo é o filho 

e tão abençoado.

EM - PALAVRAS QUE VOS TRAGO - ANTÓNIO SOARES FERREIRA - IN-FINITA

Tristeza - Clotilde Sampaio

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para Mins Mesmas

Tudo é tristeza à minha volta. Tudo.

O céu, as flores, as vozes e os semblantes

Humanos e animais que, agonizantes,

Me cercam em sinfonia de sons mudos.

Nada me faz viver cantando e rindo.

Sou triste e melancólica. Sou sisuda.

Pareço a correr, sempre fugindo

De uma agonia algoz, contínua, aguda.

Não sei ser venturosa. Nem tampouco

Ser otimista. Ver sorrir a primavera

Que cai sobre o arvoredo a zunir rouco.

Só sei ser nostalgia e desventura.

Só sei chorar a dor. Ah! Quem me dera!

Dar-me às delícias de uma sepultura!

EM - A INFINITA CLÔ - CLOTILDE SAMPAIO - IN-FINITA

A vontade de viver - Fernando Silva

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Da vida trouxe a vontade de viver

A luz que os espera à tardinha

Quero todos os dias enaltecer

O meu grande amor por essa velhinha

Vivia constantemente preocupada

Com os filhos que amava de coração

Um dia de inverno já cansada

Pediu por todos eles gratidão

Na terra foi rainha do meu olhar

Viveu eternamente agradecida

Hoje olho o céu e seu brilhar

Reflete momentos da nossa vida

Talvez que a vida não me traga

Lembranças tão bonitas e tão belas

Agora o tempo passa, mas não apaga

O brilho que emana das estrelas

À noite olho céu e em cada estrela

Obtenho o mais lindo e doce olhar

Tu minha mãe és a mais bela

Estrela no céu pra mim a brilhar

EM - SUBLIME OLHAR DE MÃE - FERNANDO SILVA - IN-FINITA

Linfa fugidia - Fátima Santos

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Linfa fugidia

Beijas-me noite e dia

De noite a sonhar

De dia em ti me vou banhar

És meu alimento da alma

És curativo que me acalma

És sal que me tempera

És vida que meu canto venera.

EM - COSMOS POÉTICO - FÁTIMA SANTOS - IN-FINITA

Se te amo - Ana Acto

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Se te amo

Amo, deste meu jeito inconstante

Que não me sabe ser

Não me sei ser

Mas te sei amar

Amo

Em meus dias cinzentos

Em que nublo e disperso

Chovendo minhas agruras

Mas sempre volto

E te amo...

Porque não te sei amar de outra forma

Será este meu defeito e pecado

Amar, sem te sentir meu?

Não sentir, e ser tua... 

EM - MALDITA - ANA ACTO - IN-FINITA

Reinol Bolacha - JackMichel

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Reinol de bolacha

Nascido em meio à massa...

Metade açúcar? Pedaços de fruta?

Não! Araruta!

De rosto branco de polvilho,

Até podia ser de milho!

Mas, parece que é de tapioca...

Terá vindo de Maiorca?

Seu sorriso é tocante,

Dir-se-ia eu tanto crocante...

Só que no momento em que é levado à mesa,

Transforma-se em sobremesa!

Aí, foi-se embora o seu reinado

De reinol lindo, dourado!

Que, após ser degustado,

Virou aroma de limão ralado!

EM - COUSA AMADA - COLETÂNEA - IN-FINITA

Dia 23 (excerto) - Desafinador de palavras

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Mais um 23

Espero que seja uma noite bela no céu

Porque aqui em baixo…, acabou!

Já não tenho nada a perder…, ou mato ou morro

Para mim tudo findou

É um verdadeiro inferno na terra

«E tudo o vento levou…»

Sem ti, não consigo viver… nem sobreviver…

Sempre que me lembro de ti, apetece-me todos os dias

morrer

Mas, depois, sinto que tenho de me alegrar

Para te dar alegria, para te honrar

Como é que tu te sentes, ao me veres assim?

Triste, amargurado, dorido, com uma mágoa que não

tem fim…

E eu não posso fazer, com que estejas triste

Não tenho esse direito, não fui eu que parti

Foste tu que sofreste, foste tu que partiste

EM - VIAGEM - FRANCISCO MCM FAUSTINO (DESAFINADOR DE PALAVRAS) - IN-FINITA

Convite à esperança - Renata Lima

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Esperança

É uma mulher bem-vinda

Chegando na janela

A me chamar.

Abro a porta,

Deixo-a entrar.

É a amiga de todas as horas.

É a palavra que assenhora

A fé em continuar. 

EM - QUE SEJA MAIS - RENATA LIMA - IN-FINITA

Neblina em babel - Pedro Miguel Santos

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Num dia de neblina, o mundo renasceu para a escuridão...

Tudo mudou!

Num denso amor e crueldade, a neblina adensou-se

sobre a suméria!

Era suposto ser assim, o amor distante!

Paira sobe a terra o nevoeiro da Babilónia...

Os secretos meandros do crescente fértil, sepultaram

para a eternidade, o amor que não era suposto ser…

E nisto penso!

Que não era suposto, acontecer desta maneira,

na sombra da Babilónia...

EM - APÓS A ATLÂNTIDA - PEDRO MIGUEL SANTOS - IN-FINITA

Escombros - Clara Maria Barata

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Com os olhos rasos de água

encosta a cabeça às pedras

essas que um dia foram lar

na mão que lhe resta

segura uma côdea de pão

sem ânimo para a levar à boca

pássaros de ferro

incendeiam o horizonte

a terra coberta de estilhaços

grita em desespero

a poeira cegou o céu e as estrelas

não há azul para a barbárie

por baixo dos escombros

corre um rio de lágrimas e sangue.

EM - LÁGRIMAS POR GAZA - COLETÂNEA - IN-FINITA

O Empurrão ao Rés-Do-Chão - JackMichel

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Jackie não esperava que Little Stevie 

lhe desse um empurrão ao rés-do-chão. 

Fazia já algum tempo que ele desejava 

falar com ela, e quando se apresentou

a ocasião, caiu na esparrela!

EM - PETIT - JACKMICHEL - IN-FINITA

Nós e a estrada - António Soares Ferreira

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Vamos por aí, 

sem destino. 

Onde o vento nos levar. 

E seguiremos sempre 

lado a lado, 

galgando pontes, 

sacudindo as pedras, 

subindo montes, 

derrubando obstáculos. 

Quão fortes seremos 

que nada nos impedirá, 

nem mesmo os mares revoltos, 

nem serras pedregosas, 

nem invejas, 

nem mentiras. 

Seguiremos até que a força 

nos derrube 

e ainda assim, 

como que num último suspiro, 

seguiremos juntos… 

só nós e a estrada.

EM - PALAVRAS QUE VOS TRAGO - ANTÓNIO SOARES FERREIRA - IN-FINITA

Inspiração - Clotilde Sampaio

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Para Mins Mesmas

Perguntaste o porquê do existir dos meus versos...

Nada fiz responder de pronto. O que diria?

Natural que alguém como eu faça poesia

Pr’acobertar, da própria vida, os maus reversos.

Eu a pensar... E o Deus Supremo do Universo

Viu-me em dilema e fez-me ver, na Natureza,

A inspiração, que é consistência da Beleza,

Pôr, num poema, o que vive no adverso.

Sentindo o aroma que exala de uma flor

E admirando o lindo tom da sua cor,

Achei a explicação. E mostro o meu tema: -

Num sofrimento, numa lágrima ou dor

E onde quer que exista Deus, que exista Amor,

Há de haver sempre uma razão para um Poema.

EM - A INFINITA CLÔ - CLOTILDE SAMPAIO - IN-FINITA

À frente no tempo - Fernando Silva

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Mulher à frente no tempo

Que não desperdiçava o momento

Para defender os indefesos

E todos aqueles que foram presos

Por desejar a igualdade

Dar as boas-vindas à Liberdade

Enfrentando enormes castigos

E tinha-os por inimigos

A quem detestava de coração

Quantas vezes a canção

Foi a arma apropriada

Mulher preponderada

Firme nas suas convicções

Que procurava as razões

Para chamar os bois pelo nome

E toda a injustiça a consome

E liberta do tempo novo

E deseja que o povo

Tenha um mundo novo a sério

EM - SUBLIME OLHAR DE MÃE - FERNANDO SILVA - IN-FINITA

Posídon - Fátima Santos

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Senhor do mar

Vives entre algas e corais

Ora entras nas profundezas ora sais

De tridente em punho ameaçador

De teus oceanos defensor

A cavalgar na branca escuma

Como se fosses uma pluma

Um poderoso ser invisível

Jamais perecível

Lenda mito poder

Que intimida o mais ousado ser

Aquele que quer teus domínios ter

Que mistério ocultas

Que tesouros disputas?

EM - COSMOS POÉTICO - FÁTIMA SANTOS - IN-FINITA

Pedes-me que acredite - Ana Acto

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Pedes-me que acredite

Diz-me, em que devo acreditar?

No que exaltam os poetas?

Em promessas no altar?

Acredito

Em imperfeições, em falhas, quedas

Acredito em tentativas, em esforço, em reservas

Acredito

No que creio ser real

Não num imaginário idílico criado por sonhadores

Que nos fazem na impossibilidade da concretização

Desacreditar…

Mas pede-me de novo

E diz-me em que devo acreditar

É que por vezes me esqueço de minhas crenças

Acredito e volto a sonhar 

EM - MALDITA - ANA ACTO - IN-FINITA

Encómio a Camões - Fátima Santos

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Poeta do Mundo e de Portugal

Cantaste a saudade, choraste a morte

De Dinamene e sua triste sorte

Que no mar pereceu para teu mal

Cantor do Olimpo sobrenatural

Louvaste o Gama corajoso e forte

Carpiste Dom Pedro e sua consorte

Ternos nós do amor espiritual

Os teus erros e a má fortuna acalmam

Amantes de corações destroçados

Que, com teus versos, tristes sinas clamam

Seres como tu assaz apaixonados

Com o teu vil percurso se cotejam

Vivendo o fado dos infortunados.

EM - COUSA AMADA - COLETÂNEA - IN-FINITA

Aldeias (excerto) - Desafinador de palavras

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Eram montes, eram vales, eram esperanças

Eram outonos, primaveras e colheitas

Oliveiras dando azeite para ungir as danças

Meninas dançando com as suas longas tranças

O mesmo azeite que servia para ungir

O mesmo azeite servia para curar as maleitas

Era o tempo, do tempo que tudo cura

Como se todas as mezinhas fossem perfeitas

Eram casas, eram terras

Pessoas esforçadas a trabalhar nas leiras

Eram dias duros

Que aos poucos se tornaram macios

Até acabaram os trajes mais ricos

Para aos domingos se ir às feiras

Abandonaram-se terras

As esperanças das colheitas

De fazer crescer e medrar com amor

O fazer enraizar

O que se plantava com o suor e muita dor

EM - VIAGEM - FRANCISCO MCM FAUSTINO (DESAFINADOR DE PALAVRAS) - IN-FINITA