LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO POR IN-FINITA
queriam trancafiá-la a quatro chaves
dentro de quatro paredes sólidas
colocar um tampão que cobrisse seu sexo
despudorada, diziam
tinha mais é que obedecer a seu homem
abrir as pernas, apenas quando ele a quisesse
mas ela não era domesticável
nem selvagem: era livre
nenhuma corrente aprisionava seu ser
despregava as janelas à unha, escancarava
só pra ouvir o vento cantar em seus ouvidos
gostava dos cabelos molhados, de agitar a cabeça
gostava da boca seca, de aguçar os sentidos
dos cheiros vindos de fora, invadindo seu corpo
de sentir os pelos ouriçados, ver a pele arrepiada
a saliva quente, o beijo sanguessuga em si mesma
se fosse dia de lua cheia, ficava nua
a si mesma: amava
roçava a língua ao redor do umbigo
tocava com delicadezas suas partes íntimas
o coração disparava despertando seu instinto animal
rosnava sons indecifráveis, gemia de contentamento
lá fora as beatas a desconjuravam:
despudorada de uma figa
ela as engolia às gargalhadas
em sua garganta profunda.
EM - MULHERIO DAS LETRAS PORTUGAL (POESIA) - COLECTÃNEA - IN-FINITA
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