LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO POR IN-FINITA
Conheçam a IN-FINITA neste link
Depois a gente esfrega o chão,
recolhe os tapetes,
ergue os varais com as toalhas e os lençóis,
corta a grama que já extrapolou os limites,
abre as persianas e deixa chegar outro sol.
Depois a gente corta o fio,
afia a navalha,
estende o cordão entre as paredes,
pendura as fotografias que sobrarem no baú
– precisaremos afinar o olhar
[o jeito certo de olhar]
para não perder nenhuma palavra desviada
daqueles olhares estancados da vida
como meros ingredientes do nada –.
Depois a gente chora,
enxuga o leite derramado,
diz o amor engolido a sete chaves,
corre o risco de perder a hora,
o trem,
a viagem depois do fim,
e recolhe cada um dos abraços deixados de lado,
na cama, na poltrona,
na cadeira da cozinha,
sobre o armário,
empilha um por um,
dobrados e cobrados,
nunca dados,
os beijos desejados.
Por ora,
resta-nos a máscara,
o lábio amargo,
a garganta seca,
luvas guardando dedos sem anéis
em mãos mil vezes lavadas em água, sabão e desespero.
Por ora,
já é quase agora,
essa pobre senhora desconhecida,
estendida no varal entre razões escusas:
a vida – por um fio.
EM - PANDEMIA DE PALAVRAS - COLECTÂNEA - IN-FINITA
Sem comentários:
Enviar um comentário