domingo, 3 de fevereiro de 2019

Da terra nasce a vida, mas eles já estão mortos... - ISABEL BASTOS NUNES

LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO PELA HELVETIA EDIÇÕES

E quando o dia nasce
A lua parte, o sol desponta
Da terra nasce a vida
Mas eles já estão mortos.

E na podridão da droga
Massacrando os corpos vencidos,
Eles correm para a morte
E deixam os corpos estendidos.

E da terra brota a vida
Mas eles já estão mortos.

E fazem das ruas sepulturas
Escondendo-se nos vãos das portas,
Embrulhados em mantas fétidas e pútridas
Num silêncio gélido de figuras mortas.

Mas se da terra nasce a vida
No chão eles já estão mortos.

E nos olhos retiveram a última imagem
De uma seringa gasta e podre
E, injectando o pobre corpo exangue,
Partem sem saber, para uma última viagem.

Mas eles já estavam mortos para a vida.

E quando a noite cai
E os corpos começam a cair,
Muitos deles, em imagens hediondas
Parecem ao longe estar a sorrir.

E, sozinhos morrem, apodrecendo
Sem ninguém se importar
Até que os venham buscar.

E o carro da morte, demora a passar
E então,
Então já não nasce vida na terra,
Porque todos eles estão mortos para ela.

EM - A VIDA EM POESIA 3 - ANTOLOGIA - HELVETIA EDIÇÕES

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