segunda-feira, 9 de novembro de 2020

Alma - SANDRA RAMOS

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Comprei a minha alma.
Tive que comprar a minha alma.
As crianças nascem com corpo,
A alma vem dormente, embrionária.
Com tempo, cresce, prolifera,
Ganha personalidade, vontade,
Autonomia, independência.
Os pais saudáveis dão asas
Dão brisa, apoio, sopro
À vida do novo ser.
Os outros, os doentes,
Os que se sentem ninguém,
Aprisionam o novo ser,
Agrilhoam o espírito,
Guilhotinam vontades,
Promovem dependências.
O vil metal, arma letal
Nas mãos erradas,
Ao invés de investido no novo ser,
É usado como controlo basilar
Arremesso face à fome, ao frio,
às básicas e elementares necessidades.
“Enquanto viveres debaixo do meu tecto,
Não te é permitido pensamento, vontade
Ou opinião, muito menos liberdade”.
Por isso, sabia-o então, sei-o agora,
Era tão importante a fuga, a libertação.
Estudos esmerados, empregos conquistados,
Espaço próprio conquistado a cada batalha.
Alma própria a desbravar caminho,
A conquistar a luz, a pelejar pelo ar,
Numa sobrevivência urgente.
E o vil metal, arma letal,
Passou de maldição a libertação,
Possuindo agora a arma, conseguida
Alcançada de forma dura, ironicamente
Garantida a imunidade a acenos de riqueza
A troco pelo controlo mental.
Comprei a minha carta de alforria.
Comprei a minha própria soberania.

EM - MULHERIO DAS LETRAS PORTUGAL (POESIA) - COLECTÂNEA - IN-FINITA

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