sábado, 6 de junho de 2020

Uma rua na minha terra - CELSO CORDEIRO

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
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Havia uma rua na minha terra,
quando ainda chamada de Vila,
onde a vida brotava a cada dia
como se da calçada nascesse
num frenesim de corre-corre
e onde toda a gente se via
em pleno bulício das compras
ou no passeio de ocasião.

Havia uma rua sala de estar
onde era obrigatório passar,
qual passerelle para desfile
dos trajes mais domingueiros,
onde se cruzavam as classes
e os vários estratos sociais
no passeio de fim-de-semana
para ver montras e ser visto.

Havia uma rua com carris,
passava o 1 para o Infante
e também o 16 p’rá Batalha
à mistura com os automóveis
e muitos deles estacionados
de permeio entre os carris,
e nos passeios não faltavam
as pessoas que lhe davam vida.

Há uma rua na minha Vila,
que entretanto virou Cidade
e em nome da modernidade
mudaram-lhe a centralidade,
onde instalaram novos carris
para trajecto eleito do metro
e passeios agora sobrelevados
que não servem quase ninguém.

Há uma rua na minha Cidade
que se viu privada de carros
para uso exclusivo do Andante
como andante virou o povo
que fervilhara outrora na rua
e que agora já lá não passa,
resta-lhe comércio em declínio
e do passado só restos mortais.

Há uma rua na minha Cidade
que para lhe ser feita justiça
merecia mudança de toponímia,
deixaria de ser a Brito Capelo
para passar a Rua da Saudade,
porque é a saudade que assola
os filhos da terra que cresceram
na rua que era o centro da Vila.

EM - VERSOS COM REVERSOS - CELSO CORDEIRO - IN-FINITA

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